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Suplementação de Lipídeos-Ácidos Graxos e Implicações para Reprodução/Saúde Animal Parte - 1

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 21/07/2009

7 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Charles R. Staples, da Universidade da Flórida, no XIII Curso de Novos Enfoques na Reprodução e Produção de Bovinos, realizado em Uberlândia em março de 2009.

Introdução

De acordo com os registros em 10 estados americanos, a primeira ou segunda principal causa de descarte de vacas leiteiras dos rebanhos foi o mau desempenho reprodutivo (Hadley et al., 2006). Em média, 19% dos descartes foram atribuídos ao desempenho reprodutivo. É provável que muitas destas vacas produzissem pouco leite enquanto vazias e foram descartadas tanto pelo baixo rendimento leiteiro quanto por questões reprodutivas.

Nos últimos 30 anos, a indústria leiteira nos EUA tem observado o declínio do desempenho reprodutivo dos rebanhos (ou seja, baixas taxas de concepção) (Lucy, 2001). Já se levantaram inúmeras hipóteses para explicar este declínio na eficiência reprodutiva, inclusive maior incidência de doenças no período pós-parto (cetose, mastite, retenção de placenta, ovários císticos, fígado gorduroso, etc.), aumento do tamanho dos rebanhos, o que gera desafios de manejo, maior índice de endocruzamento e aumento da produção de leite (Lucy, 2001).

A influência da nutrição sobre o desempenho reprodutivo é um tema que tem gerado muito interesse entre os pesquisadores, inclusive a avaliação dos efeitos da suplementação de gorduras. Caso a gordura possa melhorar as taxas de prenhez, contribuirá para aumentar a longevidade das vacas no rebanho e, portanto, a rentabilidade para o produtor.

Definição das Gorduras

Muitos tipos diferentes de gorduras têm sido fornecidos a vacas leiteiras em lactação. A Tabela 1 traz a listagem de algumas fontes de gordura. Cada fonte de gordura é composta de uma mistura de diferentes ácidos graxos individuais. As gorduras de graxaria compreendem o sebo animal e a gordura amarela (óleo reciclado de cozinha) e são compostas principalmente de ácido oleico (~43%). As gorduras granuladas são gorduras secas, compostas principalmente de ácido palmítico (36-50%). Exemplos seriam o Energy Booster 100, EnerG-II e Megalac. O óleo de canola é rico em ácido oleico. O óleo de caroço de algodão, de safflower (cártamo - Carthamus tinctorius), girassol e soja são ricos em ácido linoleico. O óleo de linhaça é rico em ácido linolenico. Os óleos de peixe contem ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), que são ácidos graxos encontrados em tecidos de peixes resultantes do consumo de plantas marinhas. O ácido linoleico, abreviado como C18:2, é um ácido graxo essencial tipo ômega-6. O ácido linolenico, abreviado como C18:3, é um ácido graxo essencial tipo ômega-3. Dois outros ácidos graxos tipo ômega-3 são EPA (C20:5) e DHA (C22:6). Os ácidos linoleico e linolenico são essenciais para bom desempenho reprodutivo e devem ser incluídos na dieta para atender às necessidades nutricionais da vaca leiteira.

As gorduras da dieta são modificadas por bactérias ruminais

Os micróbios ruminais convertem os ácidos graxos essenciais em ácidos graxos não essenciais através da substituição das duplas ligações por ligações simples entre os carbonos (processo denominado biohidrogenação). Alguns cientistas especulam que a biohidrogenação pelas bactérias do rúmen ocorre para conferir proteção à microbiota, uma vez que estes ácidos graxos podem ser tóxicos, especialmente para as bactérias que metabolizam fibras.

Grande parte dos ácidos graxos essenciais tipo C18:2 e C18:3 consumidos através da dieta são convertidos pelas bactérias em C18:0. As vacas leiteiras em lactação alimentadas com uma dieta típica consomem diariamente cerca de 20 g de C18:0, 280 g de C18:2 e 40 g de C18:3 e aproximadamente 370 g de C18:0, 40 g de C18:2 e 4 g de C18:3 deixam o rúmen diariamente devido à biohidrogenação.

Várias formas intermediárias de ácidos graxos, denominadas ácidos graxos trans, também são formadas durante a biohidrogenação. Alguns destes ácidos graxos trans, como o trans-10, cis-12 ácido linoleico conjugado (CLA), podem influenciar o metabolismo da vaca leiteira, inclusive levando à depressão da síntese da gordura do leite. Esta intervenção por bactérias ruminais, transformando os ácidos graxos essenciais da dieta em outros ácidos graxos, tem dificultado os estudos sobre os efeitos das gorduras da dieta.

Suplementação de gordura e taxas de concepção

De acordo com a literatura científica, os suplementos de gordura melhoram as taxas de concepção de vacas leiteiras em lactação (Tabela 2). Na literatura, os relatos sobre taxas de concepção se referem algumas vezes à primeira inseminação ou a inseminações acumuladas. Em media, a melhora é de 12 unidades percentuais quando os dados são ajustados para os diferentes números de vacas nos experimentos (48 vs. 60%). Isto não implica que o fornecimento de uma destas gorduras às vacas de um rebanho leiteiro comercial irá elevar a taxa de concepção do rebanho como um todo em 12 unidades percentuais. Os benefícios obtidos em condições comerciais serão provavelmente inferiores devido à interação de uma série de fatores biológicos e de manejo que afetam a possibilidade de se obter uma prenhez. Outros estudos não observaram resultados positivos com a suplementação de gorduras, com taxa média de prenhez de 42%, tanto para o grupo controle quanto para o grupo suplementado com gordura (Tabela 3).

A partir dos estudos listados na Tabela 2, fica bastante difícil determinar quais tipos de suplementos de gordura ou quais ácidos graxos poderiam ser os mais eficazes. Quando vacas receberam gorduras contendo principalmente ácidos palmítico e oleico (sebo, Energy Booster e sais de Ca de óleo de palma) e foram comparadas a um grupo recebendo a dieta basal sem suplementação de gordura, apresentaram melhora nas taxas de concepção. Em 4 comparações pareadas de suplementos de gordura, vacas alimentadas com sais de cálcio de óleo de palma não conceberam tão bem quanto as alimentadas com sementes de linhaça tratadas com formaldeído (Petit et al., 2001), uma mistura de sais de cálcio de óleo de soja e ácidos graxos trans mono-insaturados (Juchem et al., 2004), uma mistura de sais de cálcio de óleo de palma e óleo de peixe (Silvestre et al., 2008), ou CLA (Castaneda-Gutierrez et al., 2005; Tabela 2). Portanto, gorduras contendo principalmente ácidos palmítico e oleico podem não ser tão eficazes quanto as contendo ácidos graxos ômega-6 e/ou ômega-3. Quatro estudos utilizaram mais de 250 vacas cada para avaliar a semente de linhaça. Nenhum deles relatou melhora nas taxas iniciais de prenhez. Entretanto, a sobrevida embrionária pode ser sido melhorada pela semente de linhaça.
A inclusão óleo ou farinha de peixe na dieta melhorou a taxa de prenhez ao primeiro serviço ou a taxa de prenhez como um todo em 5 estudos. Em estudo recentemente concluído envolvendo 1069 vacas holandesas em granja comercial na Flórida, as vacas alimentadas com um sal de cálcio enriquecido com óleo de peixe (1,5% da MS da dieta) a partir dos 30 dias de lactação apresentaram melhores taxas de prenhez aos 60 dias pós-IA que as vacas alimentadas com sal de cálcio de óleo de palma (53 vs. 46%), quando os dados foram ajustados para 2 IATFs (Silvestre et al., 2008b). As perdas embrionárias entre 32 e 60 dias pós-IA foram significativamente menores no grupo de vacas suplementadas com óleo de peixe (6 vs. 12%).

Existem poucos trabalhos avaliando as sementes oleaginosas e seu potencial de melhorar a concepção em vacas leiteiras. Embora o óleo de muitas oleaginosas contenha mais de 50% de C18:2 (Tabela 1), o teor de C18:2 que passa o rúmen e chega ao intestino delgado varia entre diferentes fontes. De acordo com o teor de C18:2 na gordura do leite, a soja parece ser a mais eficaz e o caroço de algodão totalmente incapaz de fornecer C18:2 aos tecidos. As sementes de girassol e cártamo também parecem elevar os teores de C18:2 na gordura do leite, mas não de maneira tão eficaz quanto a soja. O processamento dos grãos também pode alterar a capacidade de fornecer gorduras insaturadas de passagem ruminal. A tostagem da soja e a rolagem da semente do girassol parecem aumentar a disponibilidade de C18:2. Embora a semente de linhaça integral a 10% da dieta possa fornecer C18:3 aos tecidos, a trituração das sementes aumenta a disponibilidade de C18:3. Obviamente, mais pesquisas são necessárias para a identificação das melhores fontes de gordura, se sementes, óleos ou sais de cálcio.

Tabela 1. Composição de ácidos graxos de fontes de gordura.

Clique na imagem para ampliá-la.

Tabela 2. Estudos que relatam melhora das taxas de concepção (ao primeiro serviço ou taxas acumuladas de vários serviços) em vacas leiteiras em lactação suplementadas com ácidos graxos (P < 0,10). A menos que seja indicado de outra forma através de uma nota de rodapé, a dieta controle não continha suplemento de gordura.

Clique na imagem para ampliá-la.

Tabela 3. Estudos que relataram efeito negativo ou ausência de melhora nas taxas de concepção (ao primeiro serviço ou taxas acumuladas de vários serviços) em vacas leiteiras em lactação suplementadas com ácidos graxos. A menos que seja indicado de outra forma através de uma nota de rodapé, a dieta controle não continha suplemento de gordura.

Clique na imagem para ampliá-la.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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GLAUCIO MANOEL DE LIMA BARBOSA

ARARIPINA - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/04/2010

Cara Ricarda,


Tenho uma vaca com alta tiragem de leite e que, atualmente está seca e que nao vem sustentando a cria. O que você aconselharia para o caso?


Gláucio Lima
Recife-PE
JEFFERSON R. GANDRA

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/08/2009

Caro Lênio Vieria Guimarães Filho

Estamos trabalhando com soja crua no campus experimental da USP em Pirassununga, temos alguns resultados de pesquisa prontos, utilizamos a soja crua na inclusão de dietas de vacas no inicia da lactação, chegamos a colocar até 24% de soja grao na dieta total e nao observamos reduçao do produção de leite ou no consumo. Os dados nao estao finalizados mas creio que vc pode utilizar 16% na dieta total sem problemas, vai dar uns 5kg de soja por vaca dia.

Atenciosamente

Jefferson Gandra
MARCOS TADEU COSMO

SALES - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/07/2009

Caro Lênio,

Não possuo dados de estudos que suportem o que eu fiz.
Usei 1Kg (10% do peso do concentrado-Lactação) de soja grão triturada,peneira grossa.

Os resultados foram satisfatórios em produção e teor de gordura no leite, mas como não tenho acesso fácil ao grão deixei de usar e de continuar com os testes.

Sabe-se que a soja tostada eleva o teor de PB. Creio que o conteúdo de oleo no grão carregue um alto teor de NDT, mas é uma coisa delicada.
Sugiro uma conversa com um zootecnista, para andar com mais segurança com este fantastico alimento.

Espero ter ajudado


Marcos T. Cosmo
LÊNIO VIERIA GUIMARÃES FILHO

DOVERLÂNDIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/07/2009

Caro colegas;
Tenho a possibilidade do uso de soja grão, mas tenho algumas dúvidas. Gostaria de saber até que quantidade eu poderia adicionar na dieta de vacas em lactação?E em novilhas posso usar? E em que quantidade? Posso esperar uma melhora na taxa de concepção com essa oleaginosa? E qual seria a melhor forma de se usar a soja crua, o grão normal ou triturado?

Desde já agradeço!!!

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