José Luiz Moraes Vasconcelos
Dois experimentos foram delineados para avaliar o efeito do manejo alimentar na concentração sérica de progesterona. O experimento 1 avaliou a relação entre horário e quantidade de alimento ingerido sobre a concentração sérica de progesterona em vacas leiteiras, utilizando 12 vacas Holandesas com 188+-6 dias em lactação e 33,5+-6,0 kg leite/ dia e gestantes (85+-5 dias de gestação). O experimento 2 avaliou o efeito da ingestão de alimento sobre a concentração sérica de progesterona nas 8 h após alimentação, em oito vacas Holandesas em lactação (155(46 dias em lactação e 31+-9 kg leite/ dia), que receberam PGF2a para regressão do corpo lúteo, após implante intravaginal de progesterona (2 CIDR, Eazi-Breed, InterAg, Nova Zelândia), visando remover o efeito da produção endógena de progesterona.
Resultados do Experimento 1
Os tratamentos 1 (100% da alimentação as 8 h) e 2 (50% da alimentação as 8 h) apresentaram decréscimo na concentração de progesterona com 3 h após a alimentação (~15%), ao passo que, as vacas dos tratamentos 3 e 4 (25% e 0% da alimentação as 8h, respectivamente), não mostraram decréscimo na concentração de progesterona quando comparados com a média da concentração no tempo -12 e 0 h antes do inicio do tratamento (Figura 1). O tratamento 3 (alimentação dividida quatro vezes ao dia) apresentou a concentração sérica de progesterona mais constante em 24 h .
Resultados do Experimento 2
Observou-se maior valor numérico quanto às concentrações séricas de progesterona nas oito horas subseqüentes ao tratamento, nas vacas não alimentadas, sem corpo lúteo e com implante intravaginal (CIDR) de progesterona (Figura 2). As vacas recebendo alimentação apresentaram concentração sérica média de progesterona nas 8 horas de 4,3 ng/ml, e as que não receberam a alimentação, 4,8 ng/ml.
Estes experimentos avaliaram o efeito do manejo alimentar (% da dieta total oferecida por dia, por vez), sobre a concentração sérica de progesterona, em vacas gestantes em lactação (experimento 1), e em vacas em lactação, mas, sem corpo lúteo e com implante intravaginal de progesterona (CIDR; experimento 2).
Em vacas leiteiras, a correlação entre produção de leite e ingestão de matéria seca é alta e positiva (0,88; HARRISON et al., 1990). Já foi demonstrado ser o fluxo sangüíneo para o sistema porta e fígado determinado primariamente pela ingestão de energia metabolizável e que ocorre aumento significativo do fluxo sangüíneo para o fígado, após início da alimentação, em razão do aumento do fluxo sangüíneo no sistema porta. Os resultados dos experimentos descritos são consistentes com o padrão esperado de aumento do fluxo sangüíneo após a alimentação com aumento da "clearance" ou remoção de progesterona pelo fígado, reduzindo os níveis séricos deste hormônio pós alimentação. Deve ser observado que o efeito da alimentação, provavelmente, se dá sobre a "clearance" ou remoção e não sobre a produção de progesterona, em virtude da tendência de queda nos níveis deste hormônio verificada nos dois experimentos. Deve-se enfatizar que no experimento 1, havia produção endógena de progesterona enquanto no experimento 2, a progesterona era oriunda somente do implante intravaginal.
Estes dados sugerem que vacas de alta produção de leite, com alta IMS, apresentam menores níveis de progesterona, devido aos altos picos de ingestão de dieta com alta concentração energética, levando a um incremento do fluxo sangüíneo para o fígado, com aumento da "clearance" ou remoção de progesterona. Entretanto, tal fato parece não influenciar a produção endógena de progesterona. Pelo que foi observado nestes experimentos, para se conseguir níveis mais constantes de progesterona, o melhor manejo alimentar seria oferecer a alimentação dividida quatro vezes ao dia.
BERGFELD et al. (1996) observaram que 6 h após uma mudança nos níveis de progesterona, ocorreu aumento na freqüência de pulsos de LH. Tal observação associada aos dados dos experimentos 1 e 2, em que houve decréscimo dos níveis de progesterona após a alimentação, poderia justificar possíveis aumentos do número de pulsos de LH, e assim, possivelmente, maior persistência do folículo dominante com maior produção de estrógeno, o que poderia influenciar negativamente a eficiência reprodutiva futura.
fonte: MilkPoint