José Luiz Moraes Vasconcelos
O protocolo denominado "Ovsynch" tem a função de sincronizar o estro das vacas de forma a permitir a inseminação programada dos animais sem a necessidade de observação do estro (cio). Desta forma, considerando que boa parte dos estros não são captados em condições de fazenda, consegue-se inseminar uma maior quantidade de vacas e, com isto, o número de prenhezes/período tende a aumentar.
Resumidamente, ele consiste de 1 aplicação de GnRH, seguida de 1 aplicação de PGF2a e novamente 1 aplicação de GnRH, procedendo-se então à inseminação.
O objetivo do experimento relatado a seguir foi avaliar se o dia do ciclo estral em que se inicia o protocolo "Ovsynch", influencia a taxa de ovulação ao primeiro GnRH e a taxa de sincronização.
Foram utilizadas 156 vacas Holandesas em lactação. A média de produção das vacas destes rebanhos variava entre 11000 a 13000 kg leite/lactação, sendo que as vacas utilizadas neste estudo apresentavam produção de 44,6(8,6 kg leite/ dia e 56(16 dias em lactação por ocasião da primeira aplicação de GnRH. As vacas eram mantidas em sistema "free stall", agrupadas em lotes, de acordo com ordem de lactação, dias em lactação e produção de leite. Os animais eram tratados com ração completa constituída de feno e pré-secado de alfafa, balanceada de acordo com os níveis recomendados pelo NRC (1989), e ordenhadas três vezes ao dia. Vacas neste estudo (com mais de 60 dias em lactação) receberam Somatotropina Bovina Recombinante (bST), de acordo com a orientação do fabricante. As vacas foram reunidas em quatro grupos, de acordo com o dia do ciclo estral a que foram submetidas à aplicação da primeira dose de GnRH, sendo o grupo 1 entre os dias 1 a 4, com 31 vacas; o grupo 2, entre os dias 5 a 9, com 47 vacas; o grupo 3, entre os dias 10 a 16, com 52 vacas, e o grupo 4, entre os dias 17 a 21, com 26 vacas. Os animais que apresentaram estro no dia da aplicação do GnRH, foram colocadas no último grupo.
A porcentagem média de vacas que ovularam após a primeira aplicação de GnRH foi de 64 %, variando por fase do ciclo estral (Tabela 1) com menor taxa de ovulação nos dias 1 a 4 (23 %) e maior taxa de ovulação entre os dias 5 a 9 (96 %). A taxa de sincronização após a segunda aplicação de GnRH não foi influenciada pela fase do ciclo estral (Tabela 1), mas variou de acordo com a resposta à primeira dose de GnRH (92 % na presença de ovulação e 79% na ausência, Tabela 2).
A taxa de sincronização após a segunda dose de GnRH foi de 87%, com 6% das vacas ovulando antes da segunda aplicação de GnRH e 7 % não ovulando até o exame com 48 h após a aplicação da segunda dose de GnRH (Tabela 2). Todas as vacas que ovularam antes da segunda aplicação de GnRH estavam no terço final do ciclo estral (dias 13 a 21) e não ovularam quando da aplicação da primeira dose de GnRH (Tabela 2). As vacas que estavam na primeira metade do ciclo estral (dias 1 a 12) apresentaram maior taxa de sincronização (91%), sendo as falhas devido não terem ovulado em resposta à segunda dose de GnRH. Por outro lado, as vacas que estavam na segunda metade do ciclo estral apresentaram menor taxa de sincronização (80 %) com falhas, principalmente, devidas a ovulação antes da segunda aplicação de GnRH (Tabela 2 ).
O tamanho do folículo ovulatório no dia da aplicação da PGF2a ou da segunda aplicação de GnRH foi influenciado pela fase do ciclo estral em que as vacas receberam a primeira aplicação de GnRH (Tabela 1). As vacas nas fases inicial (dias 1 a 4) e final (dias 17 a 21) do ciclo estral tiveram folículos ovulatórios com maior diâmetro. O tamanho do folículo ovulatório foi também influenciado pela produção de leite e concentração sérica de progesterona no dia da aplicação da PGF2a.
Neste trabalho, observou-se que vacas que ovularam em resposta ao primeiro GnRH mostraram maior taxa de sincronização, em relação àquelas que não ovularam (92 vs. 79%). Ou seja, menor taxa de ovulação à primeira dose de GnRH reduziu a taxa de sincronização após a segunda aplicação de GnRH do protocolo "Ovsynch".
Um dos aspectos mais intrigantes destas observações deu-se ao estudar o efeito da fase do ciclo estral sobre o tamanho do folículo ovulatório. Os folículos ovulatórios foram maiores nas vacas que receberam a primeira dose de GnRH do protocolo "Ovsynch" no inicio (dias 1 a 4 ) ou final (dias 17 a 21) do ciclo estral, ao passo que, vacas tratadas nas fases intermediárias do ciclo estral (dias 5 a 13), apresentaram folículos ovulatórios menores. Esta diferença pode ser devido ao efeito dos elevados níveis de progesterona na secreção de LH e crescimento folicular. Com estes dados, pode-se afirmar que a fase do ciclo estral ao se iniciar o protocolo "Ovsynch", exerce influência sobre o tamanho do folículo ovulatório.
A fase do ciclo estral em que se iniciou o protocolo "Ovsynch" resultou em diferentes taxas de ovulação à primeira aplicação de GnRH, causas de falhas na sincronização à segunda dose de GnRH e variações no tamanho do folículo ovulatório. Pesquisas futuras devem ser realizadas com o objetivo de examinar a correlação entre estes dois parâmetros e se existe influência do tamanho do folículo ovulatório na taxa de concepção. Este tema será discutido na próxima semana.
fonte: MilkPoint