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Alta produção de leite é compatível com boa reprodução? Parte 3

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 14/06/2012

11 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Stephen LeBlanc (University of Guelph, Canada), no XVI Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, realizado em Uberlândia de 15 e 16 de março de 2012.

Fisiologia da vaca e práticas de manejo

A questão central é se o aumento ou os "altos" níveis de produção de leite necessariamente ou definitivamente causa queda da fertilidade, ou se o aumento da capacidade produtiva aumenta as necessidades metabólicas e de manejo, que podem não ser satisfeitas em todos os casos. O balanço energético negativo (BEN) ocorre no pós-parto quando as vacas não consomem alimento suficiente para sustentar o estímulo da produção de leite. Praticamente todas as vacas sofrem algum grau de BEN no início da lactação. A duração e a gravidade do BEN pós-parto, essencialmente o momento de que a vaca atinge o ponto mínimo, tem relação com o momento de ocorrência da primeira ovulação [18]. As vacas de maior produção não são necessariamente as que apresentam BEN mais grave ou prolongado, nem a maior perda condição corporal [2]. Ao contrário, o mais provável é que as vacas de maior produção sejam as com maior consumo alimentar pós-parto, portanto não as que apresentam o maior déficit energético. O intervalo até o início da atividade lútea após o parto difere pouco entre vacas geneticamente selecionadas para maior ou menor produção de leite (aproximadamente 30 contra 23 dias, respectivamente) [19].

Por outro lado, vacas de maior produção podem ser expostas a desafios maiores de pelo menos alguns aspectos da função reprodutiva. O maior consumo alimentar, característico da maior produção, aumenta o fluxo sanguíneo hepático e o catabolismo de hormônios esteróide, aumentando a velocidade de eliminação da progesterona e do estradiol, que se reflete em menores concentrações circulantes [20, 21]. A queda das concentrações circulantes de esteroides sexuais pode afetar a fisiologia reprodutiva em vários níveis. Conforme demonstrado pelo mesmo grupo de pesquisa [20, 21], vacas de maior produção (46 contra 34 kg/dia próximo aos 94 dias de lactação) apresentaram estro mais curto, comportamento de monta menos frequente e, apesar de folículos ovulatórios maiores, concentrações plasmáticas mais baixas de estradiol [22].

Fetrow e Eicker [23] destacam a escassez de dados disponíveis para embasar a ideia de que vacas de alta produção sejam negativamente afetadas pela produção de leite. Ao contrário, a única forma de se obter e manter altos níveis de produção de leite é satisfazer as necessidades nutricionais e comportamentais das vacas. Fatores de estresse como doença, calor, acesso limitado à ração, fornecimento insuficiente de nutrientes, falta de espaço de descanso suficiente e má ventilação reduzem a produção de leite e a sua eliminação aproxima a vaca do seu potencial genético. Entretanto, alguns acreditam que vacas que produzem grande quantidade de leite operam próximo ao seu limite. Vacas manejadas da forma adequada e cujas necessidades são satisfeitas da melhor forma possível, atingem a capacidade produtiva máxima porque as necessidades determinadas pela produção são supridas. Os efeitos da produção de leite não podem ser considerados os únicos responsáveis pela piora do estado de saúde, com prejuízo do desempenho reprodutivo. Ao contrário, o bom estado de saúde e o manejo voltado para a sua obtenção são pré-requisitos tanto para a boa produção como para a boa reprodução [1].

Dados de rebanho

Lucy [2] publicou um resumo dos dados documentados através do sistema de registro DHI dos Estados Unidos, referentes a 143 rebanhos inscritos no programa entre 1970 e 2000. A produção média móvel dos rebanhos aumentou de aproximadamente 6500 kg para quase 9000 kg de leite por lactação. No mesmo intervalo, o número de serviço por concepção aumentou de aproximadamente 1,75 para 3, com aumento do intervalo entre partos de um pouco abaixo de 13,5 meses para 14,8 meses. Embora os mesmos rebanhos tenham sido acompanhados ao longo do tempo, o manejo, as instalações e a tecnologia certamente sofreram alterações e os rebanhos podem ter sido expostos a outros fatores de confundimento das observações, que não foram considerados. É possível que inferências baseadas em um grupo desse porte sejam precisas, mas não é necessariamente verdade que os animais de maior produção do grupo tenham apresentado pior desempenho reprodutivo. Butler [24] mostrou uma relação aparentemente antagônica entre taxa de concepção (TC) e produção de leite por vaca ao longo de 50 anos. Entretanto, a TC não foi quantificada da mesma forma. A TC de 66% documentada em 1951 se refere apenas à primeira IA [25] e, embora tenha sido considerada diferente da taxa de não retorno (e 2,6% menor), a maneira como a TC foi usada não está clara. Em [24], os dados considerados em 1975 foram bezerro vivo, aborto e prenhez confirmada por exame ou ausência de cio nos 100 dias após o serviço [26], mas as medidas e dados usados para estimativa das taxas de concepção de 1996 e 2001 não foram descritos nosestudos [3, 24], embora seja provável que a TC tenha sido baseada no diagnóstico de prenhez.

Stevenson [27] publicou dados transversais resumidos de 1,2 milhões de vacas Holstein de 9.684 rebanhos e de 50.000 vacas Jersey de 546 rebanhos. Em média, os rebanhos de produção mais alta eram maiores. Conforme a produção média móvel de leite passou de menos de 6.800 kg para mais de 11.300 kg, o tempo de serviço caiu de 195 para 156 dias, o intervalo até o primeiro serviço passou de 102 para 94 dias, o número de serviços por concepção aumentou de 1,8 para 2,2 e a eficiência na detecção do cio passou de 19 para 41%. Os resultados sugerem que o melhor desempenho reprodutivo dos rebanhos de maior produção seja reflexo da melhor nutrição, da melhor saúde das vacas e do melhor manejo reprodutivo.

Dados individuais

Lopez-Gatuis et al. [28] avaliaram 2.756 prenhezes em dois rebanhos de alta produção (mais de 11.700 kg/ano) da Espanha e observaram que as vacas que estavam prenhes aos 90 dias de lactação produziram média de 49.5 kg/dia de leite, contra 43,2 kg/dia das vacas que emprenharam mais tarde, considerando os efeitos da parição e da retenção de placenta. A potência do estudo teria sido maior se a probabilidade e o momento de ocorrência da prenhez de todas as vacas tivessem sido incluídos, em vez de dicotomizar os dados de momento prenhez somente entre vacas prenhes. Mesmo assim, o estudo salienta a necessidade de considerar a ordenação cronológica das etapas percorridas até a prenhez. Tais dados sustentam a hipótese de que vacas sadias produzem mais leite (na opinião de alguns, manifestando seu potencial genético de forma mais plena) e emprenham mais cedo do que vacas em pior estado de saúde. Em outras palavras, a seleção para menor produção não levaria à melhora da reprodução; em contrapartida, o manejo voltado para a melhora da saúde poderia levar ao aumento tanto da produção quanto da taxa de prenhez.

Os resultados de um estudo baseado em análise de sobrevivência realizado em Nova Iorque também não mostraram associação significante entre produção de leite de 60 dias e taxa de prenhez [16]. O risco de descarte foi maior nas vacas vazias. A alta produção de leite, a idade mais avançada e o parto no inverno foram apontados como fatores de risco para diversas doenças reprodutivas que, por sua vez, atrasaram a inseminação e a concepção. A produção acumulada de 60 dias não teve efeito sobre o intervalo até a prenhez, embora vacas no quartil superior da produção de 60 dias (2541 kg) tenham apresentado taxa de prenhez um pouco mais baixa do que vacas no quartil inferior, sem significância estatística. A doença do trato reprodutivo (retenção de placenta e metrite) teve maior efeito sobre o intervalo até a prenhez do que o nível de produção no início da lactação.

Recentemente, Madouasse et al (2010) [29] desenvolveram um modelo de componentes do leite e produção de leite no início da lactação para prever a probabilidade de prenhez em intervalos variando entre 20 e 145 de lactação e observaram associações mistas entre volume e componentes do leite e prenhez. Por exemplo, a produção de leite na primeira avaliação da lactação não teve relação com a prenhez, mas o maior volume de leite na segunda avaliação mostrou relação com a redução da probabilidade de prenhez aos 145 dias de lactação; o teor de proteína na segunda avaliação (e, em menor grau, na primeira avaliação) teve relação com o aumento da probabilidade de prenhez.

Abordagens novas e sofisticadas de modelagem da associação entre produção e reprodução (resumidas em Stevenson e Bello, 2011 [30]) destacam que tal associação pode diferir em situações de rebanho (geralmente positiva para mensurações de lactação plena) e individuais (negativa para a análise correspondente). Entretanto, existem outras heterogeneidades envolvidas nas relações entre rebanhos, práticas de manejo (ordenha duas a três vezes por dia; uso de rBST) e regiões (mesmo dentro do mesmo Estado nos EUA).

Pesquisas sobre o assunto da Universidade de Guelph, Canada

Stephen LeBlanc e colaboradores mediram a relação entre o nível de produção de leite e o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras canadenses, tanto no nível individual como no nível de rebanho, com base em uma amostra grande e representativa dos registros de prenhez e empregando técnicas analíticas válidas. Os resultados [31] estão resumidos abaixo.

Os dados completos de IA e prenhez de 3.297 rebanhos, referentes ao ano de 2005, estavam disponíveis e foram somados a dados de tamanho do rebanho, demografia, produção, frequência de ordenha e tipo de alojamento. As médias anuais (DP) de taxa de prenhez de 21 dias (TP), taxa de inseminação (TI) e taxa de concepção (TC) do rebanho foram de 12,5 (4,7), 33,9 (10,5) e 37,2 (9,9), respectivamente. A TP do rebanho foi modelada empregando-se regressão linear mista, com efeito aleatório do rebanho. Considerando-se tamanho do rebanho, distribuição da parição, raça e alojamento, cada 1000 kg de aumento da média de leite do rebanho foi associado a aumento de 0,7 pontos da TP (P < 0,0001).

Os dados individuais de 103.060 vacas Holstein de 2.076 rebanhos (pelo menos dos três primeiros dias de avaliação) estavam disponíveis. Os intervalos até a primeira inseminação foram modelados por análise de sobrevivência, com efeito aleatório do rebanho. A produção foi descrita por kg de leite e projeções de 305 dias de acordo com os registros dos três primeiros dias de avaliação, e registros de 305 dias de lactação avançada, todos mostrando uma associação univariável com menor intervalo até a prenhez. Não houve associação entre produção de leite no primeiro dia de avaliação e intervalo até a primeira IA. Uma análise à parte considerou a produção de leite referente a vacas do mesmo rebanho, classificando cada vaca em quartis intra-rebanho de produção no primeiro dia de avaliação. As vacas no quartil intra-rebanho superior de produção no início da lactação foram inseminadas um pouco mais cedo e emprenharam um pouco mais cedo do que as vacas no quartil inferior de produção. De forma geral, independente da medida, as vacas de produção mais alta emprenharam alguns dias antes das vacas de produção mais baixa. Tais associações devem ser esperadas quando a boa nutrição, o conforto da vaca e o manejo cuidadoso garantem as condições necessárias para alta produção e bom desempenho reprodutivo.

Resumindo, a taxa de prenhez do rebanho foi significantemente mais alta nos rebanhos de maior produção, observando-se pequenos efeitos do nível de produção sobre o intervalo até a prenhez no nível individual. Os resultados sugerem que o manejo voltado para a alta produção é compatível com o bom desempenho reprodutivo.

Conclusão

Não se sabe se a taxa de prenhez está caindo na população de gado leiteiro e faltam dados para quantificar e começar a qualificar o desempenho ao longo do tempo. O desempenho reprodutivo não deve ser mensurado com base apenas no risco de concepção e os dados disponíveis referentes à associação entre produção de leite e taxa de prenhez são conflitantes. A possibilidade de que as necessidades metabólicas da produção e da reprodução estejam chegando a um limite biológico ou de manejo e de que os critérios empregados na seleção genética para fertilidade não sejam ideais são pontos importantes, que justificam estudos novos estudos.

Referências
1. Nebel RL, McGillard ML. Interactions of high milk yield and reproductive performance in dairy cows. J Dairy Sci. 1993; 76: 3257-3268.
2. Lucy MC. Reproductive loss in high-producing dairy cattle: Where will it end? J. Dairy Sci. 2001; 84:1277-1293.
3. Butler WR. Review: effect of protein nutrition on ovarian and uterine physiology in dairy cattle. J. Dairy Sci.1998; 81:2533-2539.
4. Royal MD, Darwash AO, Flint APF, Webb R, Woolliams JA, Lamming GE. Declining fertility in dairy cattle: changes in traditional and endocrine parameters of fertility. Anim. Sci.2000; 70:487-502.
5. Morton JM. Potential bias in observed associations between milk yield and reproductive performance in dairy cows. Proc 11th Intl. Symp. Vet Epidem. Econ. 2006;
6. Grohn YT, Rajala-Schultz PJ. Epidemiology of Reproductive Performance in Dairy Cows. Anim. Reprod. Sci.2000; 60-61: 605-614.
7. Marti CF, Funk DA. Relationship between production and days open at different levels of herd production. J.Dairy Sci. 1994; 77:1682-1690.
8. Kadarmideen HN, Thompson R, Coffey MP, Kossaibati MA. Genetic parameters and evaluations from single- and multiple trait analysis of dairy cow fertility and milk production. Livest. Prod. Sci.2003; 81:183- 195.
9. Jamrozik J, Fatehi J, Kistemaker GJ, Schaeffer LR. Estimates of genetic parameters for Canadian Holstein female reproduction traits. J. Dairy Sci. 2005; 88:c2199-2208.
10. Pryce JE, Royal MD, Garnsworthy PC, Mao IL. Fertility in the high producing dairy cow. Livest. Prod. Sci.2004; 86:125-135.
11. LeBlanc S. Using DHI Records On-farm to Evaluate Reproductive Performance. Adv. Dairy Technol. 2005; 17:319-330.
12. Santos JEP, Thatcher WW, Chebel RC, Cerri RLA, Galvao KN. The effect of embryonic death rates in cattleon the efficacy of estrus synchronization programs. Anim Reprod Sci 2004;82-83(SI):513-535.
13. Weigel K. Improving the reproductive efficiency of dairy cattle through genetic selection. J. Dairy Sci.2004; 87(E. Suppl.):E86-E92.
14. Ferguson JD, Galligan DT. Assessment of Reproductive Efficiency in Dairy Herds. Compend. Cont. Educ. Pract. Vet.2000; 22:S150-S158.
15. Grohn YT, Eicker SW, Ducrocq V, Hertl JA. Effect of diseases on the culling of Holstein dairy cows in New York State. J. Dairy Sci. 1998; 81(4): 966-978 XVI Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos - 2012
https://www.fca.unesp.br/conapecjr

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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VETCOW

ARAÇATUBA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/01/2013

Quem é o grupo de pesquisa que vc cita  como 19,20 , 21, 22, 24, 25, 27, 28, 29, 30; aqui a referencia bibliografica nos mostra até o 15.

Por gentileza vc pode me informar para que eu procure esses trabalhos

Obrigado

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