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Alta produção de leite é compatível com boa reprodução? Parte 1

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 27/04/2012

6 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Stephen LeBlanc (University of Guelph, Canada), no XVI Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, realizado em Uberlândia de 15 e 16 de março de 2012.

Resumo

Há muita discussão em torno do possível antagonismo entre alta produção de leite e desempenho reprodutivo. Este artigo revisa métodos de mensuração do desempenho reprodutivo e da associação entre produção de leite e taxa de prenhez entre indivíduos e rebanhos. A principal questão é se a fertilidade (a capacidade de manutenção da função reprodutiva e da prenhez) das vacas leiteiras de fato declinou, em contraste com o sucesso dos sistemas e práticas de manejo em atender as necessidades metabólicas, de alojamento e sociais de animais com produção crescente e se isto pode ser atribuído ao aumento da produção de leite. Não há dúvidas de que a produção por vaca aumentou, mas não se sabe quanto desse aumento pode explicar o aparente declínio da fertilidade. É importante separar a biologia da função reprodutiva dos efeitos de decisões de manejo (descarte) baseadas em fatores econômicos. A maioria dos parâmetros reprodutivos tradicionais (intervalo entre partos, taxa de concepção, taxa de não retorno ao cio) corresponde a medidas de resultados incompletos ou tendenciosos. Tanto os dados de rebanho quanto os individuais devem incluir a maior quantidade de informação possível a respeito dos fatores de confundimento que podem interferir na relação entre produção e reprodução. Dados populacionais ou de rebanho não devem ser extrapolados para associações individuais. A qualidade dos dados e dos métodos analíticos disponíveis na literatura não permite o estabelecimento de associação clara entre alta produção de leite e probabilidade e momento de ocorrência da prenhez, considerando-se vacas de vários níveis de produção de uma mesmo população em um dado momento, ou o aumento da produção ao longo do tempo.

Introdução

A produção de leite e o desempenho reprodutivo são os principais fatores determinantes da lucratividade em vacas leiteiras. O possível antagonismo entre alta produção de leite e desempenho reprodutivo é um dos principais assuntos discutidos entre produtores de leite e pesquisadores. Alguns se preocupam com a seleção genética para fertilidade, ou questionam se o manejo é capaz de satisfazer as necessidades das vacas em termos de alta produção e obtenção de prenhez no momento adequado. Este artigo é uma revisão dos métodos de mensuração do desempenho reprodutivo e da associação entre nível de produção de leite e taxa de prenhez, tanto no nível de rebanho como no nível individual.

Muitos artigos mencionam declínio da fertilidade em vacas leiteiras ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, mas faltam dados confiáveis que possam embasar tais afirmações. Alguns conjuntos de dados bastante citados [2, 3, 4] indicam declínio do risco de concepção ao longo dos últimos 50 anos, intervalo em que houve aumento considerável da produção de leite por vaca. Tais dados devem ser avaliados com cuidado. Associações temporais não implicam causalidade. Além disso, muitos aspectos da produção leiteira sofreram mudanças durante as duas últimas gerações, portanto devemos ter cautela ao inferir relação de causa e efeito entre alta produção e redução do desempenho reprodutivo em situações com grande potencial de ocorrência de fatores de confundimento.

Revisando estudos sobre a associação entre produção de leite e reprodução, Morton [5] destacou alguns pontos fracos: a) muitos estudos ignoraram outras variáveis que sofreram alteração ao longo do tempo de acordo com a produção e a reprodução, tornando-se vulneráveis ao efeito de confundimento e, portanto, superestimando o efeito da produção; b) possíveis vieses na associação aparente, devido a redução da produção de leite em relação a prenhez em si ou as decisões de manejo relacionadas ao momento da primeira inseminação em função da produção de leite, ou a ambos, podem não ter sido considerados e c) pode haver influência de uma falácia ecológica, isto é, inferências equivocadas no nível individual, a partir de dados de rebanho ou populacionais.

Acredita-se que a maior produção de leite seja a causa do aparente declínio do desempenho reprodutivo porque isso parece plausível e ambos ocorreram ao mesmo tempo; outras vari��veis potenciais de confundimento da probabilidade e do momento de ocorrência da prenhez (adequação da dieta e do manejo nutricional, alojamento, mão-de-obra qualificada, etc.) são ignoradas, ou consideradas, mas não analisadas, por serem dados difíceis de obter. A principal questão é se a fertilidade (a capacidade de manutenção da função reprodutiva e da prenhez) das vacas leiteiras de fato declinou, em contraste com o sucesso dos sistemas e práticas de manejo no atendimento das necessidades metabólicas, de alojamento e sociais de animais de produção crescente dotados de boa capacidade reprodutiva, e se a fertilidade de fato caiu a ponto que possa ser atribuído ao aumento da produção de leite. Não há dúvidas de que a produção por vaca aumentou, mas não se sabe quanto desse aumento pode explicar o aparente declínio da fertilidade. É importante separar a biologia da função reprodutiva dos efeitos de decisões de manejo (descarte ou manutenção da reprodução) baseadas em fatores econômicos. Animais de maior produção tendem a ser inseminados e têm menor chance de descarte [6]. Não se sabe se a taxa de prenhez (isto é, a probabilidade da vaca emprenhar por unidade de tempo; literalmente, a velocidade com que a vaca emprenha) vem caindo nos diversos sistemas de produção de leite mundiais.

A herdabilidade estimada da fertilidade é baixa (abaixo de 5%, comparada a 25 a 50% para características produtivas) [9]. Foram relatadas correlações genéticas e fenotípicas de baixa a moderada entre produção e reprodução, mas geralmente em direção desfavorável (dados resumidos por Pryce et al [10]). Entretanto, é difícil saber como aplicar essa informação, uma vez que ela se baseia em dados tendenciosos ou incompletos.

Referências

1. Nebel RL, McGillard ML. Interactions of high milk yield and reproductive performance in dairy cows. J Dairy Sci. 1993; 76: 3257-3268.

2. Lucy MC. Reproductive loss in high-producing dairy cattle: Where will it end? J. Dairy Sci. 2001; 84:1277-1293.

3. Butler WR. Review: effect of protein nutrition on ovarian and uterine physiology in dairy cattle. J. Dairy Sci.1998; 81:2533-2539.

4. Royal MD, Darwash AO, Flint APF, Webb R, Woolliams JA, Lamming GE. Declining fertility in dairy cattle: changes in traditional and endocrine parameters of fertility. Anim. Sci.2000; 70:487-502.

5. Morton JM. Potential bias in observed associations between milk yield and reproductive performance in dairy cows. Proc 11th Intl. Symp. Vet Epidem. Econ. 2006;

6. Grohn YT, Rajala-Schultz PJ. Epidemiology of Reproductive Performance in Dairy Cows. Anim. Reprod. Sci.2000; 60-61: 605-614.

7. Marti CF, Funk DA. Relationship between production and days open at different levels of herd production. J.Dairy Sci. 1994; 77:1682-1690.

8. Kadarmideen HN, Thompson R, Coffey MP, Kossaibati MA. Genetic parameters and evaluations from single- and multiple trait analysis of dairy cow fertility and milk production. Livest. Prod. Sci.2003; 81:183- 195.

9. Jamrozik J, Fatehi J, Kistemaker GJ, Schaeffer LR. Estimates of genetic parameters for Canadian Holstein female reproduction traits. J. Dairy Sci. 2005; 88:c2199-2208.

10. Pryce JE, Royal MD, Garnsworthy PC, Mao IL. Fertility in the high producing dairy cow. Livest. Prod. Sci.2004; 86:125-135.

11. LeBlanc S. Using DHI Records On-farm to Evaluate Reproductive Performance. Adv. Dairy Technol. 2005; 17:319-330.

12. Santos JEP, Thatcher WW, Chebel RC, Cerri RLA, Galvao KN. The effect of embryonic death rates in cattleon the efficacy of estrus synchronization programs. Anim Reprod Sci 2004;82-83(SI):513-535.

13. Weigel K. Improving the reproductive efficiency of dairy cattle through genetic selection. J. Dairy Sci.2004; 87(E. Suppl.):E86-E92.

14. Ferguson JD, Galligan DT. Assessment of Reproductive Efficiency in Dairy Herds. Compend. Cont. Educ. Pract. Vet.2000; 22:S150-S158.

15. Grohn YT, Eicker SW, Ducrocq V, Hertl JA. Effect of diseases on the culling of Holstein dairy cows in New York State. J. Dairy Sci. 1998; 81(4): 966-978 XVI Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos - 2012
https://www.fca.unesp.br/conapecjr

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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GILSON ANTONIO PESSOA

SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 17/05/2012

Parabéns pelo artigo.

Concordo plenamente com os comentários acima. Se atendermos as necessidades nutricionais e de conforto não será afetada a atividade reprodutiva.

O grande problema que encontramos nas propriedades leiteiras no Brasil, é que somente 30% atendem as necessidades nutricionais do rebanho.
RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 09/05/2012

Prezados Leitores,

Obrigada pela participação!

Também acredito que se conseguirmos atender as necessidades de produção e de conforto das vacas, a eficiência reprodutiva não ficará comprometida. Mas em muitos casos vemos vacas recebendo todo tido de desaforo e ainda sendo combrada para ficar gestante no momento certo. Na maioria das vezes a culpa das falhas repordutiva é nossa e não das vacas.

Até mais,

Ricarda.
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/05/2012

Prezados Rafaela e José Luiz: Parabéns pelo artigo e pelo tema instigante. Há muito venho ouvindo que o Gado Holandês, para ter alta produção, tem que abdicar de um perfeito sistema reprodutivo, eis que com o consumo em ampla escala de alimentos, geralmente, ainda mais se tratando de gado holandês em regime de confinamento integral, gera este tipo de anomalia. Ora, somos criadores de Gado Holandês, há mais de cinquenta anos (desde os tempos de meu avô, José Moreira de Mello Franco - sou a terceira geração) e os casos de disfunção reprodutiva são muito raros. Só para vocês terem uma ideia, nestes sete anos em que adotei o sistema de reclusão integral de bovinos de leite, com a utilização de vacas holandêsas e vacas jersey, ambas puras de origem, com médias de produção em torno de 46,5 quilogramas de leite/animal/dia (holandês) e 25 quilogramas de leite/animal/dia (jersey) em lactações de 305 dias e três ordenhas diárias, só tive dois casos (um, em 2005 - início do sistema - e, outro, em 2008). Atualmente, meus animais têm parições anuais, em torno de onze meses de diferença (há casos, esporádicos, todavia, de animais que parem duas vezes no mesmo ano) e taxa de prenhês em torno de 80% (oitenta por cento) - hoje só não se encontram prenhes as vacas recém paridas (menos de vinte e um dias após o parto). Nossos primeiros partos, nas novilhas, ocorrem, via de regra, em torno de vinte e dois meses de idade.

Finalmente, com a adoção de novas técnicas, como a IATF (Inseminação Artifical a Tempo Fixo) e com a TE (transferência de embriões), entendo que estes problemas, ao longo de pouquíssimo tempo, serão histórias do passado.

Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELO FRANCO

FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=
EDER GHEDINI

TAPEJARA - RIO GRANDE DO SUL

EM 28/04/2012

Saudações Professora Ricarda!

Penso que, se atendidos os requerimentos nutricionais de mantença e produção a reprodução não será afetada. Um forte exemplo disso (e entraria na contramão se fosse o caso), é o uso de bST que, se bem conduzido não apresenta alteração alguma na questão reprodutiva com o aumento da produção.

Forte Abraço!

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