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Como a nutrição afeta a proteína do leite - parte 2

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/08/2006

4 MIN DE LEITURA

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No último artigo, eu prometi que iria mostrar como fazer para incluir teores elevados de subprodutos na dieta das vacas e manter o teor de proteína do leite. Para isso, o melhor é mostrar dados práticos. Infelizmente, ainda existe uma "mística" ou "lenda" rondando por aí de que a inclusão de subprodutos da agroindústria à dieta das vacas, especialmente os que substituem os grãos de cereais (fonte de amido), resulta em queda nos teores de proteína do leite. Há inclusive técnicos renomados propagando esse conceito. Na minha opinião, e na de muitos outros técnicos que eu conheço, isso não é verdade.

Para entender a origem dessa "divergência" de opiniões vamos recordar alguns pontos importantes abordados no artigo anterior.
  • A maximização do consumo de energia é fundamental para otimizar o teor de proteína do leite. A chave é o consumo de carboidratos não fibrosos (CNF) de fermentação rápida, que fornecem energia prontamente disponível para os microorganismos ruminais sintetizarem a Pmic.

  • Dietas deficientes em energia podem reduzir o teor de proteína do leite em 0,1 a 0,3 unidades percentuais.

  • Fornecer proteína a mais, além das exigências da vaca, não aumenta o teor proteína do leite. É preciso fornecer quantidades equilibradas de PDR e PNDR.
Em qualquer situação, com qualquer mistura de ingredientes numa dieta, se os conceitos acima não forem obedecidos, a vaca (ou no caso, a proteína) vai pro brejo. Aí começam os problemas. Via de regra os subprodutos que entram no lugar da fonte de amido têm composição diferente da do alimento que estão substituindo, de forma que a composição da dieta precisa ser ajustada para manter os níveis nutricionais que tinha antes da substituição.

Por exemplo, ao substituir milho por farelo de trigo, espera-se que o teor energético da dieta caia e o teor protéico suba, em função da composição do subproduto, o que exige um ajuste na composição da dieta. Se esse ajuste for feito, a substituição do milho pelo farelo de trigo é perfeitamente possível, sem risco de afetar o teor de proteína do leite.

Em trabalho realizado na ESALQ em 2004, a substituição parcial e total do milho, que perfazia 20% da MS total da dieta, por farelo de trigo, não alterou o teor de proteína do leite. Esse trabalho já foi discutido neste radar em artigo anterior (clique aqui para ler) onde os dados podem ser conferidos. As dietas foram formuladas para terem o mesmo teor de proteína, mas o teor de energia das dietas com farelo de trigo era menor que o da dieta controle, sem o subproduto, e mesmo assim a proteína do leite não mudou.

Nesse caso, acredita-se que houve um efeito positivo do subproduto sobre o ambiente ruminal, favorecendo a digestibilidade total da dieta. O volumoso utilizado foi a silagem de milho (50% da MS), e a dieta controle continha mais 20% de milho moído. Quando o subproduto substituiu parte do milho, pode ter havido um efeito benéfico no rúmen, principalmente sobre o pH, favorecendo a digestão total dos alimentos, de forma que, mesmo com menos energia no meio, a disponibilidade dessa energia para síntese de Proteína Microbiana (Pmic) foi equivalente à obtida com a dieta controle. Inclusive a produção total de leite das vacas que receberam o tratamento intermediário (substituição de metade do milho) foi maior.

O mesmo comportamento foi observado em outro experimento realizado na ESALQ, e também discutido aqui em artigo anterior (clique aqui para ler), onde o subproduto utilizado foi a Casca de Soja. Também nesse caso, a retirada parcial do milho com inclusão de um subproduto fibroso não afetou a proteína do leite.

No entanto, o maior número de questionamentos que recebemos se relaciona à inclusão da polpa cítrica às dietas. Isso se deve à grande disponibilidade desse subproduto na região sudeste, especialmente no estado de São Paulo. Na entressafra do milho, é praticamente impensável não utilizar polpa cítrica nas dietas, mas existe uma grande preocupação com o teor de proteína do leite, especialmente por parte dos produtores que recebem bonificação por proteína.

A tabela abaixo mostra uma compilação de diversos trabalhos em que a polpa cítrica substituiu 50% do milho das dietas, em diferentes níveis de inclusão.

Tab. 1. Efeito da substituição parcial do milho por polpa cítrica nos teores de proteína do leite (%)


Notem que de todos os trabalhos compilados, só 1 apresentou redução significativa no teor de proteína do leite. No geral, esse é o padrão quando se substitui milho por polpa cítrica, desde que se faça o correto balanceamento da dieta. Por todos os dados disponíveis, e pela experiência acumulada em diferentes situações, não tenho dúvidas de que é possível utilizar subprodutos em larga escala sem comprometer o teor de proteína do leite.

Um ponto importante a ser considerado é que a presença de amido na dieta via de regra é benéfica. Ou seja, o negócio é utilizar sem medo os subprodutos, mas manter uma parte da fonte energética como milho ou sorgo moído. De maneira geral, a fração CNF dos subprodutos é de degradação mais lenta que o amido, de forma que a combinação de subprodutos fibrosos com amido é normalmente vantajosa. Trocando em miúdos, formule a sua dieta com os subprodutos, e adicione um pouco de amido para o balanceamento ficar ainda melhor.

A decisão pela utilização do subprodutos da agroindústria deve primariamente obedecer a critérios econômicos. Se o preço do subproduto for competitivo frente ao preço do milho, não tenha medo. De maneira geral, observa-se que a inclusão de subprodutos como polpa cítrica, casca de soja, farelo de trigo, farelo de glúten de milho 21, dentre outros, em níveis próximos a 20-30% da MS total das dietas, não altera a composição do leite, e pode contribuir muito para baixar os custos de produção. Bons exemplos não faltam por aí!

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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JOSE ZAKIA NETO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/09/2009

Caro Alexandre,
Produzo leite no sul de minas e entrego a Danone,portanto ganho por qualidade,e atualmente só no ítem proteína é que estou abaixo.
A dieta de meu gado é silagem de milho,cevada,e fubá de milho.Gostaria de saber o que está faltando,pois a proteína de meu leite está em 2,94.
Desde já agradeço
José Zakia
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 12/06/2008

Prezado Eduino,

A Alfafa é uma cultura exigente, e não temos tradição no seu cultivo. Acredito que se você trabalhar com gramíneas tropicais bem manejadas, no caso de pastejo, ou silagem de milho ou sorgo, ou mesmo a cana, no caso de ração completa, pode ter ótimos resultados, desde que faça bom balanceamento das dietas. As fontes de proteína mais comuns são o farelo de soja, farelo de algodão, caroço de algodão, farelo de glúten de milho e a uréia, que é uma fonte de nitrogênio não protéico.

Att,

Alexandre Pedroso
EDUINO LOPES DOS ANJOS JUNIOR

CARANDAÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/06/2008

Gostaria de saber se é viável plantar alfafa na minha região: estou a 800m de altitude, tenho irrigação por gravidade. Meu gado é PO. Ainda, existe outra fonte de proteína para esta condição? Meu volumoso hoje é cana. Obrigado.

<b>Resposta do autor</b>

Prezado Eduino,

A Alfafa é uma cultura exigente, e não temos tradição no seu cultivo. Acredito que se você trabalhar com gramíneas tropicais bem manejadas, no caso de pastejo, ou silagem de milho ou sorgo, ou mesmo a cana, no caso de ração completa, pode ter ótimos resultados, desde que faça bom balanceamento das dietas. As fontes de proteína mais comuns são o farelo de soja, farelo de algodão, caroço de algodão, farelo de glúten de milho e a uréia, que é uma fonte de nitrogênio não protéico.

Att,

Alexandre Pedroso
ELÍDIA ZOTELLI DOS SANTOS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 22/10/2007

Parabéns pelos artigos, prezado Mendonça.

Tive que discutir seu artigo em aula essa semana, e vim conferir a continuação (parte 2) , e tenho uma dúvida: a quantidade proteína no leite pode ser aumentada, mas até que ponto o animal tem essa eficiência, considerando uma boa nutrição com ingredientes seguros e de rápida fermentação e bom volumoso?

Obrigada.

<b>Resposta do autor:</b>

Elídia,

Realmente o potencial para alterar o teor de proteína do leite através da nutrição é limitado. De maneira geral, os maiores ganhos são conseguidos quando se aumenta o teor de energia das dietas, com a correspondente correção protéica, especialmente PDR, a fim de maximizar a síntese de proteína microbiana.

Com um bom programa nutricional, é possível conseguir aumentos de 0,1 a 0,3 ponto percentual em teor de proteína do leite em alguns meses, mas isso não é tarefa fácil. E quanto melhor já for o manejo do rebanho, é mais difícil se observar respostas positivas.

Atenciosamente,

Alexandre Pedroso
JOSÉ CARLOS BARBOSA

SACRAMENTO - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 30/08/2006

Gostaria de saber se um animal, no caso uma vaca de leite, estar sendo tratada somente com farelo de soja (mais de 3kg/dia), e com volumoso cana-de-açucar, se teria problema com excesso de proteina. Estou tendo um certo problema com um produtor, seu leite não passa no alizarol, já fizemos todos os testes devidos, desde higiene em equipamentos até teste de mastite (sub-clínica).

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado José Carlos,

Talvez não haja excesso de proteína bruta (PB) na dieta, mas com certeza essa situação pode levar ao aumento no teor de nitrogênio uréico no leite, por excesso de proteína degradável (PDR) na dieta, principalmente se a cana for corrigida com uréia. No entanto, não é de se esperar que isso altere a estabilidade do leite. Pelo que tenho observado, e colhido de informações com técnicos e produtores, o principal fator que causa alterações na estabilidade, medida pelo teste de alizarol, é baixo consumo de MS. Via de regra valores mais elevados de nitrogênio uréico no leite favorecem a estabilidade.

O que posso afirmar com certeza é que sempre que a dieta não estiver corretamente balanceada, a chance de haver alterações no alizarol são grandes. Há muitos relatos de alterações de estabilidade em rebanhos alimentados com cana de açúcar, mas é provável que o problema não seja a cana em si, mas sim baixo consumo de MS associado a desbalanço na dieta, com baixa eficiência microbiana no rúmen.

Atenciosamente,

Alexandre
LUZIA APARECIDA ADÃO

MUZAMBINHO - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 30/08/2006

Bom dia, Sr. Alexandre Pedroso. Li seu artigo e gostaria de saber quais são os efeitos do acréscimo de polpa cítrica no teor de gordura do leite, sem que haja grande queda no teor de milho da dieta.

Obrigada,
Luzia Adão

<b>Resposta do autor:</b>

Prezada Luzia,

Via de regra a substituição parcial do milho pela polpa cítrica afeta pouco a gordura do leite. Isso depende muito da composição da dieta, do teor de milho e do nível de substituição pela polpa, mas em geral o que se observa é uma leve tendência de aumento no teor de gordura com a inclusão da polpa, desde que não se altere muito a concentração energética da dieta.

Sempre que se substitui o amido por uma fonte de carboidrato de digestão mais lenta, como a pectina da polpa, há uma tendência de aumento no pH do rúmen, o que pode criar condições para aumento no teor de gordura do leite. No entanto, as alterações, quando ocorrem, são de pequena magnitude, nos níveis normalmente utilizados de milho e polpa nas dietas de vacas leiteira em nosso país.

Atenciosamente,

Alexandre

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