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Cruzamentos entre raças leiteiras: aspectos sobre saúde e longevidade - Parte 2

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 06/11/2017

7 MIN DE LEITURA

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O descarte de vacas em um rebanho é uma estratégia de custo elevado visto que o valor do animal a ser eliminado é geralmente baixo e o preço de um animal de reposição, na maioria das vezes, é alto (SILVA et al., 2004). Conforme Smith et al. (2000), reprodução, mastite e baixa produção foram as principais razões para descarte involuntário em rebanhos de várias regiões americanas, quando se observaram taxas de descarte anual de vacas de 34,5 a 36,3% e mortalidade de 5,9 a 7,7%.

A maior incidência de doenças no rebanho está relacionada ao aumento dos custos de produção, que incluem remédios e materiais, mão de obra e honorários de veterinário (MADALENA, 2007). Além disso, é importante evidenciar que quanto maior a vida produtiva dos animais menor será o custo de reposição do plantel (KNOB, 2015).

Ledic e Tetzner (2008) reforçam esta teoria ao afirmarem que a produção de leite com qualidade sem presença de resíduos químicos pode ser alcançada a partir da exploração de uma vaca de alta longevidade, com animais de alta rusticidade e assim, com baixa utilização de medicamentos em função de resistência a infecções e a ecto e endo parasitas, obtendo-se uma expressiva redução dos custos de reposição das matrizes.

Nesse escopo, Evans et al. (2006) verificaram que o risco de descarte das vacas aumentou com o incremento de sangue (genes) de Holandês da América do Norte. Tsuruta et al. (2005) avaliando mais de 390.000 dados americanos de gado Holandês, confirmaram os achados ao observarem que as taxas de descarte aumentaram rapidamente após a primeira lactação, de 16,9% para 34,8% na segunda, alcançando a expressiva taxa de 96,7% na quinta lactação, número muito superior aos 37,1% de descartes na quinta lactação, relatados por Nieuwhof et al. (1989), citados no mesmo trabalho e utilizados como parâmetro comparativo.

Silva et al. (2008) salientam que há evidências de que a taxa de descarte nas propriedades de manejo extensivo, com animais mestiços, é menor quando comparada com a de criatórios de manejo intensivo e com raças puras. Ao analisar a incidência de doenças e as frequências de descartes de fêmeas de primeira cria da raça Holandesa e de fêmeas F1 do cruzamento da raça Norueguesa Vermelha com Holandês (Figura 1), em diversas propriedades localizadas em Ontário, Cartwright et al. (2015) concluiu que a adoção dos cruzamentos poderia se traduzir em aumento da resistência a doenças e sobrevivência em animais mestiços. Os autores observaram que a prática pode resultar em um ganho econômico aos produtores com animais cruzados em comparação com gado leiteiro de raça pura.

Figura 1 - Cartwright et al. (2015) encontraram maiores taxas de sobrevivência em fêmeas F1 Norueguesa Vermelha/Holandês.

Cruzamentos entre raças leiteiras

De forma semelhante, na avaliação da taxa de permanência no rebanho, relacionada com a longevidade, Knob (2015) analisou índices de vacas em dois rebanhos localizados em Santa Catarina e no Paraná, com fêmeas Holandesas puras e produtos da utilização de sêmen de touros Simental em vacas Holandesas.

Foram utilizados os dados de descarte dos animais, sendo que na média geral, os percentuais de matrizes que encerraram a primeira, a segunda e a terceira lactação foram maiores para as fêmeas mestiças (91,99% x 78,36%). Os resultados sugeriram que as vacas F1 apresentaram taxa de permanência no rebanho maior em relação às vacas puras da raça Holandesa (Figura).

Figura 2 - Em Santa Catarina, um estudo observou taxas de permanência no rebanho superior em vacas mestiças Holandês/Simental (D) em relação às Holandesas puras (E).

Cruzamentos entre raças leiteiras

Para Silva et al. (2004), as informações sobre causas de descarte no Brasil são escassas e em algumas regiões, inexistentes. Um estudo publicado por esses autores, realizado em Goiás, utilizou um total de 4.710 fêmeas adultas, sendo 1.060 da raça Holandesa e 3.650 oriundas do cruzamento entre Gir Leiteiro e Holandês (Girolando) de dez propriedades, entre 2000 e 2003.

Um dos objetivos da pesquisa foi estimar a frequência e as causas de descarte nos dois genótipos. As fêmeas Holandesas eram manejadas em sistema intensivo e as Girolando em sistema extensivo sob pastagens de Brachiaria decumbens. Os autores encontraram frequência de descarte maior na raça Holandesa (22,26% versus 18,90% no Girolando, em relação às respectivas populações de cada raça), evidenciando enfermidades, principalmente relacionadas à glândula mamária, aparelho reprodutor e locomotor.

Quando considerado a causa do descarte, se observou o predomínio do descarte por causas patológicas (74,58%) na raça Holandesa e por motivos não patológicos (65,36%) nos animais Girolando, conforme demonstrado na tabela abaixo.

Tabela 1 - Causas de descarte de fêmeas Holandesas e Girolando confinadas e criadas em sistema extensivo, respectivamente, no período de 2000 a 2003. Adaptado de Silva et al. (2004).
Cruzamentos entre raças leiteiras

Há dados de Lemos et al. (1996) apud Barbosa (2004), oriundos de uma pesquisa realizada em 67 fazendas no sudeste do Brasil, com mais de 600 novilhas de diferentes gerações do cruzamento de Holandês vermelho e branco com Guzerá (Holandês puro por cruza, 1/2 sangue, ¼, ¾, 5/8 e 7/8 Holandês), avaliadas quanto à duração da vida útil e número de lactações encerradas (tabela abaixo). Em dois distintos níveis de manejo (alto e baixo), o desempenho das vacas F1 Holandês x Guzerá foi superior ao dos outros grupos genéticos quanto à duração da vida útil.

As vacas F1 Holandês x Guzerá foram, em média, 44% e 46% mais longevas do que as dos outros grupos genéticos nos dois níveis de manejo (8,4 x 5,8 anos no nível alto e 7,1 x 4,9 anos no nível baixo). Quanto ao número de lactações completadas, as fêmeas F1 Holandês x Guzerá foram 40% e 48% mais eficientes do que as dos outros grupos genéticos, em média, nos níveis de manejo alto e baixo, respectivamente (8,5 x 5,9 lactações no nível alto e 6,0 x 4,1 lactações no nível baixo).

Tabela 2 - Duração da vida útil (em anos) e número de lactações completadas de acordo com o grupo genético e nível de manejo. Fonte: Lemos et al. (1996) apud Barbosa (2004).

Cruzamentos entre raças leiteiras

Dessa forma, Heins et al. (2012) considera que os produtores de leite podem melhorar a sobrevivência de vacas e a rentabilidade da produção leiteira através do cruzamento de vacas puras com touros de outras raças leiteiras visando a complementaridade conforme já abordado nos textos anteriores.

Referências bibliográficas

BARBOSA, P. F. Heterose: conceito e seus efeitos na pecuária bovina leiteira. In: Informe Agropecuário. Belo Horizonte: Epamig, v. 25, n.221, p. 32-39. 2004.

CARTWRIGHT, S. L. et al. Adaptive immune response, survival, and somatic cell score between postpartum Holstein and Norwegian Red × Holstein fi rst-calf heifers. Journal Animal Science, v. 90, n. 9, p. 2970–2978, 2015.

EVANS, R.D. et al. Financial implications of recent declines in reproduction and survival of Holstein-Friesian cows in spring-calving Irish dairy herds. Agricultural Systems, v. 89, p. 165–183. 2006.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; DE VRIES, A. Survival, lifetime production, and profitability of Normande × Holstein, Montbéliarde × Holstein, and Scandinavian Red × Holstein crossbreds versus pure Holsteins. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 2, p. 1011–1021, 2012.

KNOB, D. A. Crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo de vacas Holandês comparadas às mestiças Holandês x Simental. 2015. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2015.

LEDIC, I. L.; TETZNER, T. A. D. Grandezas do Gir Leiteiro: O milagre zootécnico do século XX. Uberaba: 3 Pinti, 2008. 324 p.

MADALENA, F. E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção – Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 33 p.

NIEUWHOF, G. J.; NORMAN, H. D.; DICKINSON, F. N. Phenotypic trends in herdlife of dairy cows in the United States. Journal of Animal Science, v. 72, p. 726–736. 1989.

SILVA, L. A. F. et al. Causas de descarte de fêmeas bovinas leiteiras adultas. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.5, n.1, p. 9-17, 2004.

SILVA, L. A. F. et al. Causas de descarte de vacas da raça Holandesa confinadas em uma população de 2.083 bovinos (2000–2003). Ciência Animal Brasileira, v. 9, n. 2, p. 383-389, abr./jun. 2008.

SMITH, J. W.; ELY, L. O.; CHAPA, A. M. Effect of Region, Herd Size, and Milk Production on Reasons Cows Leave the Herd. Journal of Dairy Science,v. 83, p. 2980–2987, 2000.

TSURUTA, S.; MISZTAL, I.; LAWLOR, T. J. Changing Definition of Productive Life in US Holsteins: Effect on Genetic Correlations. Journal of Dairy Science, v. 88, p. 1156–1165, 2005.

 

NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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ANTONIO DE CASTRO JUNIOR

JOANÓPOLIS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/11/2017

Muito interessante.

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