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Questões que afetam o preço do leite e empreendimentos leiteiros

POR RAFAEL C. M. MENEGHINI

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/06/2011

8 MIN DE LEITURA

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O preço do leite sofre variações devido a diversos fatores tais como políticas econômicas, sazonalidade da produção leiteira, qualidade do leite, demanda do consumidor, fenômenos sanitários, etc. A seguir serão discutidas algumas das razões do comportamento sazonal dos preços do leite (Figura 1) que afetam o planejamento de empreendimentos leiteiros.


Fonte: adaptado do CEPEA / ESALQ / USP, 2010.
Figura 1 - Comportamento do preço do leite nos principais estados brasileiros produtores de leite de janeiro de 2000 a julho de 2010.

A sazonalidade do preço do leite pode ser explicada por três argumentos: i) a memória do produtor safrista cria o clima para redução do preço no início da época chuvosa, mesmo que a produção não tenha aumentado significativamente, ii) o menor custo de produção no verão devido abundância de pastagens em relação ao inverno, quando o consumo de concentrado é maior e iii) as imperfeições do mercado em nível industrial que potencializa os efeitos da memória safrista e do menor custo de produção na época das águas (Marin, Cavalheiro et al., 2011).

Além da influência sazonal comum dos produtos agropecuários, como o leite, outros fatores, como o comportamento do consumo de produtos lácteos no mercado, devem ser considerados na variação do preço do leite pago ao produtor. O excesso de leite no mercado provoca queda dos preços. No Rio Grande do Sul, os preços do leite tendem a ser menores nos seis primeiros meses do ano devido ao baixo consumo e a alta oferta de leite no mercado. Neste período, de altas temperaturas, o consumo de leite é menor e a disponibilidade de pastagens é maior em relação ao inverno (Marin, Cavalheiro et al., 2011).

A mudança de hábitos alimentares do consumidor pode influenciar o valor do leite e de seus componentes em sistemas de remuneração ao produtor em função da qualidade. O valor da gordura do leite pode diminuir como consequência da menor demanda por alimentos com maior teor de gordura, como a manteiga, em detrimento do aumento da preferência do consumidor por alimentos com menor teor de gordura, como as pastas lácteas ("dairy spreads"), ricas em proteína. Na Irlanda, o consumo de leite integral e de manteiga diminuiu enquanto que a demanda por produtos lácteos com menor teor de gordura, como leite desnatado, queijos, iogurtes e pastas lácteas, aumentou no período compreendido entre 1989 e 1999, acarretando em desvalorização da gordura do leite em relação à proteína. Essa tendência nos hábitos alimentares do consumidor leva a indústria láctea a investir no aumento da produção de alimentos lácteos ricos em proteína, acarretando em valorização deste nutriente em relação aos outros componentes sólidos do leite, e o sistema de pagamento deve refletir essa valorização (Breen, 2001). A mudança de preferência de leite integral para leite desnatado nos consumidores foi uma das razões para se estabelecer o pagamento dos componentes do leite na Califórnia (Gruebele, 1979). Em avaliação de quatro sistemas de pagamento (preço fixo com diferencial para gordura, preço fixo com diferencial para gordura e proteína, preço fixo com diferencial para gordura e sólidos desengordurados e preço ajustado pelo valor do queijo), foi observado que a crescente demanda por queijo levou à introdução do preço diferencial para proteína (Cragle, Murphy et al., 1986).

Além dos constituintes sólidos do leite, as indústrias consideram características qualitativas, como contagem de células somáticas (CCS), para determinação do valor do leite devido à influência desta variável ser tão importante quanto a das quantidades de proteína, gordura e lactose no rendimento do produto lácteo final, como queijo (Norman, Wright et al., 1991). Em estudo avaliando os efeitos da sazonalidade dos teores de proteína e gordura do leite de propriedades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo sobre o sistema de pagamento apresentado na Tabela 1, foi observado que as maiores bonificações ocorreram no outono (7,87%), quando os teores de gordura (3,65%) e de proteína (3,21%) foram os maiores e a contagem bacteriana total (CBT = 57 mil ufc/mL) foi a menor dentre as estações do ano devido aos menores índices de conforto (16,46 oC; UR = 79,06%; 0,6 mm/dia e ITU = 66) registrados nessa época. Por outro lado, as menores bonificações (média = 2,92%) ocorreram na primavera e no verão, quando foram registradas as maiores médias de CCS (552,5 mil céls./mL) e CBT (148 mil ufc/mL) devido aos maiores índices médios de conforto (24,5 oC; UR = 82,47%; 5,16 mm/dia e ITU = 74,5) (Roma, Montoya et al., 2009).

Tabela 1 - Tabelas de valores de bonificação/penalização em função dos parâmetros de qualidade do leite, como gordura, proteína, contagem de células somáticas e contagem bacteriana total.



A distância entre a indústria e o produtor é fator importante na determinação do preço do leite. O transporte representa entre 4% a 25% do preço do leite recebido pelo produtor, chegando, em algumas regiões do Brasil, a 40%. Essa diferença é determinada pela baixa densidade de produção, que é a relação da quantidade produzida pela quantidade de quilômetros percorridos pelo veículo, das fazendas às plataformas de recepção (Silva, Reis et al., 2000).

A política econômica também influencia o comportamento dos preços dos produtos agropecuários. A cadeia agroindustrial leiteira brasileira sofreu grandes transformações motivadas pela desregulamentação do mercado, pela abertura da economia nacional ao mercado internacional e pela implantação do Plano Real que estabilizou os preços, elevou os juros e valorizou o câmbio desprotegendo mais o setor primário na década de 1990 (Marin, Cavalheiro et al., 2011).

Na década de 1970, havia baixo nível tecnológico e despreocupação com o setor leiteiro do agronegócio enquanto que a década de 1980 foi caracterizada pelo intervencionismo governamental no setor (Marin, Cavalheiro et al., 2011). Até a década de 1990, a política leiteira brasileira focou na formação dos preços ao longo da cadeia (Farina, Gutman et al., 2005). A fixação dos preços foi baseada em cálculos de custos de produção pela Sindicatos Rurais (antes conhecidos como Federações da Confederação Nacional da Agricultura) e as associações de produtores (Farina, Gutman et al., 2005). Estes cálculos não refletiam os custos dos produtores mais eficientes, mas sim o dos menos eficientes (Farina, Gutman et al., 2005). Isto resultou em consumidores pagando preços do leite maiores do que os preços internacionais e no não fornecimento de incentivo para a qualidade ou melhorias de produtividade e investimentos em exploração (Farina, Gutman et al., 2005). O sistema acima deixou a cadeia leiteira desequilibrada no final da década de 1980 (Farina, Gutman et al., 2005).

O primeiro ato, em 1990, foi eliminar o sistema de fixação de preços e instituir outras desregulamentações (Farina, Gutman et al., 2005). O Estado deixou de regulamentar os preços ao longo da cadeia produtiva e o mercado se encarregou de suprir a demanda da população brasileira bem como de diminuir os custos de produção para o controle da inflação (Marin, Cavalheiro et al., 2011).

Após a introdução do Plano Real em 1994, que possibilitou a estabilização econômica, os efeitos da sazonalidade sobre os preços do leite foram menores que os observados no período anterior a 1994, quando havia altas taxas de inflação. Ou seja, a estabilização da economia parece ter colaborado para diminuir os efeitos sazonais sobre o preço do leite pago ao produtor (Marin, Cavalheiro et al., 2011).

Atualmente, o Brasil é considerado o sexto maior produtor de leite do mundo (27,5 bilhões de litros), ficando atrás dos Estados Unidos (86,1 bilhões de litros), Índia (44,1 bilhões de litros), China (35,8 bilhões de litros), Rússia (32 bilhões de litros) e Alemanha (28,6 bilhões de litros) (Fao, 2008). Em dez anos, a produção brasileira de leite aumentou aproximadamente 8,4 bilhões de litros (Rodrigues, 2008). Devido a esta elevação de produção, a balança comercial no mercado leiteiro foi invertida pela primeira vez em 2006, exportando mais do que importando (Rodrigues, 2008).

A produção leiteira brasileira concentra-se nos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. A estrutura de mercado é considerada atomizada devido à pulverização da produção nas diferentes regiões do país com participação de pequenos, médios e grandes produtores. Esta pulverização da produção leiteira eleva os custos de captação e armazenamento do leite. No entanto, tem ocorrido aumento na captação de leite cru para processamento devido ao crescimento da participação de pequenas empresas no mercado. As empresas maiores têm perdido receita em detrimento de perdas de pequenas parcelas do mercado para as empresas menores (Barros, De Lima et al., 2010).

Diante desses cenários, é necessário estar atento aos diversos fatores e possíveis eventos que podem impactar os preços do leite e o planejamento de empreendimentos leiteiros.

Fonte:

BARROS, F. L. A.; DE LIMA, J. R. F.; FERNANDES, R. A. S. Análise da estrutura de mercado na cadeia produtiva do leite no período de 1998 a 2008. Revista de economia e agronegócio, v. 8, n. 2, p. 22, 2010. ISSN 1679-1614.

BREEN, J. P. A new direction for the payment of milk: Technological and Seasonality considerations in Multiple Component Milk Pricing (Liquid and Manufacturing) for a diversifying dairy industry. 2001. (M. Agr. Sc.). Department of Agribusiness, Extension and Rural Development, University College of Dublin, Dublin.

CRAGLE, R. G. et al. EFFECTS OF ALTERING MILK-PRODUCTION AND COMPOSITION BY FEEDING ON MULTIPLE COMPONENT MILK PRICING SYSTEMS. Journal of Dairy Science, v. 69, n. 1, p. 282-289, Jan 1986. ISSN 0022-0302. Disponível em: < ://A1986A233500039 >.

FAO. https://faostat.fao.org/site/569/default.aspx#ancor. Rome, 2008. Disponível em: < https://faostat.fao.org/site/569/default.aspx#ancor >. Acesso em: October 1.

FARINA, E. et al. Private and public milk standards in Argentina and Brazil. Food Policy, v. 30, n. 3, p. 302-315, Jun 2005. ISSN 0306-9192. Disponível em: < ://000232073000005 >.

GRUEBELE, J. W. The California Experience in Component Pricing. Journal of Dairy Science, v. 62, n. 8, p. 1368-1373, 1979. ISSN 0022-0302. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/B9887-4YY69T8-12/2/e40eda6b6b7dae50ae89351f938d6502 >.

MARIN, S. R.; CAVALHEIRO, A. G.; ANSCHAU, D. Sazonalidade do preço do leite no Rio Grande do Sul (1986-2009). Ciência Rural, v. 41, p. 361-364, 2011. ISSN 0103-8478. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782011000200030&nrm=iso >.

NORMAN, H. D. et al. POTENTIAL FOR SEGREGATING MILK - HERD DIFFERENCES IN MILK VALUE FOR FLUID AND 5 MANUFACTURED PRODUCTS. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 7, p. 2353-2361, Jul 1991. ISSN 0022-0302. Disponível em: < ://A1991FX64500037 >.

RODRIGUES, R. Depois da tormenta. São Paulo, São Paulo, Brasil: 2008. 288

ROMA, L. C. et al. Seasonability of protein and others milk components related with quality payment program. Arquivo Brasileiro De Medicina Veterinaria E Zootecnia, v. 61, n. 6, p. 1411-1418, Dec 2009. ISSN 0102-0935. Disponível em: < ://000273975300022 >.

SILVA, I. C. V. D.; REIS, R. P.; GOMES, M. J. N. CUSTOS E OTIMIZAÇÃO DE ROTAS NO TRANSPORTE DE LEITE A LATÃO E A GRANEL: UM ESTUDO DE CASO. Organizações Rurais e Agroindustriais, v. 2, n. 1, p. 8, 2000-01-03 2000.

RAFAEL C. M. MENEGHINI

Professor do Instituto Federal de São Paulo
IFSP - Campus Avaré
Médico Veterinário - FMVZ/USP
Doutor - ESALQ/USP

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SERGIO LUIS F. DOLIVEIRA

ITAPEVA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/06/2012

Bom dia , Rafael

Estamos desenvolvendo um trabalho de qualidade junto a uma cooperativa de produtores de leite, e sistematizando um referencial na produção leiteira, que servira de diferencial de valor para apoiar futuras negociações entre produtores e compradores da produção leiteira.

Atraves do seu artigo publicado anteriormente, gostaria de saber a sua avaliação a respeito dos trabalhos realizados pelos CONSELEITE estaduais que norteiam grande parte das negociações nos estados do Sul e Sudeste? e sua avaliação para a consolidação destes formatos para os estados de São paulo e Minas Gerais?

MARIA THEREZA REZENDE

CAMPOS ALTOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/06/2011

Excelente Rafael,

acho que temos que explorarmos ao máximo esse tema,

tormar cotidiano esse vocabulário e os índices desejáveis.

Precisamos trazer a indústria para "dentro" da porteira, fazendo-a participar das nossas dificuldades e custos em treinar a mão de obra para essa nova realidade,dos nossos custos reais para produzir esse novo produto exigido pelo mercado.

É uma nova fase para as propriedades leiteiras,precisamos trabalhar em parceria com a indústria, numa relação transparente, uma relação GANHA/GANHA!!

RAFAEL C. M. MENEGHINI

MUZAMBINHO - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 28/06/2011

Prezado Guanambi Silva Junior,



O sistema de remuneração ao produtor de leite em função da qualidade deve estar relacionado e obedecer os valores desejáveis de um bom programa de pagamento de leite que são a transparência na negociação entre indústria e produtor, equilíbrio e adequação no preço do leite e incentivo da indústria à melhoria da qualidade do leite pelo produtor.



O sistema de pagamento do leite deve ser justo e equitativo para fornecedores de leite devido à variação na composição do leite entre produtores. Também deve fomentar práticas de melhoramento (reprodução, sanidade e nutrição) na composição do leite fornecido para produzir alimentos seguros, assim como tem que ser coerente com os resultados de testes das amostras de leite. Em outras palavras, neste tipo de sistema, deve haver transparência na remuneração da indústria ao produtor, equilíbrio de valores propostos para ambos e incentivo à melhoria da qualidade dos produtos lácteos.



A informação e a comunicação entre indústria e produtor são condições fundamentais para o sucesso do programa de pagamento em função da qualidade do leite. A indústria deve divulgar e esclarecer aos fornecedores de leite os critérios de remuneração adotados (bonificações e/ou deduções em relação à composição - proteína, gordura, lactose - e qualidade - CBT, CCS, crioscopia, resíduos de medicamentos, alizarol, etc. - do leite, deduções referentes aos custos de coleta e processamento do leite, bonificações referentes à sazonalidade do leite, etc.), bem como preços de referência e características mínimas de composição e qualidade desejáveis de leite.



Em relação aos contratos entre indústrias e produtores, não há informações consistentes, pois são sigilosos na maioria das vezes. Mas há indústrias que praticam a remuneração ao produtor em função da qualidade do leite com critérios e parâmetros próprios. A proteína do leite é o componente que apresenta maior impacto no preço do leite em diversos sistemas de bonificação e/ou penalização.



Att.,



Rafael Meneghini
GUANAMBI SILVA JUNIOR

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/06/2011

Ok Rafael





Você nos mostrou os fatores que influenciaram a volatilidade do preço do leite.


O que você, como um Doutorando de uma Conceituada Instituição de Ensino com a Esalq/USP nos sugere para trabalharmos nesse mercado do leite?


Ter contratos com a industria de laticinios é um caminho?


E por falar nisso, existe alguma industria de laticinio que faça contrato de compra de leite com o produtor?


Agradeço a sua atenção!
FERNANDO FONSECA GOMES

INDIANÓPOLIS - MINAS GERAIS

EM 01/06/2011

o ccs de meu leite é de 142

minha gordura de 4.45

minha proteina de 3.37





estas sao analises da italac  e tenho nota comprovando o que estou dizendo viu



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