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Exame ultrassonográfico para avaliação do desenvolvimento mamário de búfalas leiteiras

POR ARIANE DANTAS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/10/2016

8 MIN DE LEITURA

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O Brasil possui aproximadamente 1.320.000 cabeças de búfalos distribuídas pelo país, sendo o maior efetivo desta espécie encontrado na região Norte (66,49%), seguida das regiões Sudeste (11,32%), Nordeste (9,11%), Sul (8,06%) e Centro-Oeste (5,00%) (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, 2016).

Entre os anos de 2010 e 2011, a criação de búfalos no país teve crescimento de 7,8%, o que demonstra a excelente capacidade de adaptação dessa espécie ao manejo e às condições ambientais, bem como o significativo potencial de expansão da atividade em nosso país (IBGE, 2016).

Apesar de serem tradicionalmente criados objetivando a produção de carne, a produção de leite vem crescendo, apresentando-se como uma nova alternativa à pecuária leiteira do país. Estima-se que a produção de leite seja superior a 92 milhões de litros por ano, destacando-se a região sudeste do país, que apresenta uma desenvolvida cadeia produtiva de leite e derivados (IBGE, 2016).

Em rebanhos leiteiros, o conhecimento dos aspectos relacionados ao desenvolvimento da glândula mamária é fundamental, uma vez que o crescimento e diferenciação do tecido mamário são fatores importantes e determinantes aos índices produtivos do rebanho (AKERS, 2002).

Dessa forma, a ultrassonografia, técnica de diagnóstico por imagem, já consagrada na medicina humana, entretanto, de uso crescente na medicina veterinária, apresenta-se como uma importante ferramenta de avaliação de desenvolvimento mamário de vacas, cabras e ovelhas, entretanto, pouco utilizada em búfalas leiteiras.

De posse dessas informações, o presente artigo tem a intenção de apresentar informações pioneiras na área de produção de búfalas leiteiras e biotecnologia animal relacionadas sobretudo no estudo in vivo do desenvolvimento mamário.

Anatomia e morfogênese da glândula mamária de fêmeas bubalinas

A fêmea bubalina, assim como a bovina, possui quatro glândulas mamárias também chamadas de quartos mamários (quartos mamários anteriores direito e esquerdo; e quartos mamários posteriores direito e esquerdo) e mesmo número de tetas. O conjunto formado pelas glândulas mamárias é denominado de úbere, o qual está localizado na região inguinal do corpo do animal. Cada quarto mamário representa uma unidade glandular independente, ou seja, são anatômica e fisiologicamente distintos (DAVIDSON; STABENFELDT, 2014).

Cada glândula é formada por duas estruturas principais: o parênquima mamário e o estroma, sendo a proporção entre os dois tecidos regulada por mecanismos hormonais. O parênquima mamário é composto pelos alvéolos, pequenos ductos e tecido conjuntivo. Os alvéolos são as unidades funcionais de produção de leite da glândula mamária durante a lactação. O leite produzido nos alvéolos é drenado para os ductos, posteriormente para a cisterna da glândula e depois para as tetas e o meio externo (DAVIDSON; STABENFELDT, 2014).

Já o estroma é constituído por vasos sanguíneos e linfáticos, linfonodos, nervos e tecido adiposo. O estroma está presente envolvendo e acomodando as estruturas intramamárias, bem como favorecendo o desenvolvimento do parênquima mamário (DAVIDSON; STABENFELDT, 2014).

A principal via de suprimento sanguíneo da glândula mamária de búfalas é a artéria pudenda externa que segue dorso caudalmente em direção à glândula mamária e ao penetrar nas metades direita e esquerda do úbere, emite os ramos cranial e caudal, formando as artérias mamárias cranial e caudal (artéria mamária cranial direita e esquerda; e artéria mamária caudal direita e esquerda), (Figura 1) as quais suprem as porções craniais e caudais de cada metade do úbere, respectivamente (BRAGULLA et al., 2011).

Figura 1. Vascularização (irrigação arterial e drenagem venosa) da glândula mamária. Fonte: Bragulla et al., 2011.
vascularização glândula mamária

Figura 2. Glândula mamária de búfalas mestiças Murrah em diferentes categorias, sendo (A) Bezerras, (B) Novilhas, (C) Gestantes e (D) Lactantes. Fonte: Arquivo pessoal.
glândula mamária búfalas
Quanto ao desenvolvimento da glândula mamária de búfalas, este ocorre em etapas semelhantes ao de vacas, contudo, em menor intensidade. Inicia-se antes do nascimento e persiste ao longo de toda a vida reprodutiva do animal. Ocorre de forma dinâmica e é compreendido por etapas bem definidas, onde acontecem mudanças morfofuncionais que preparam a glândula para a lactação (Figura 2) (DAVIDSON; STABENFELDT, 2014).

Ao nascimento, o desenvolvimento da glândula mamária é relativamente pequeno e corresponde ao crescimento dos tecidos conjuntivo e adiposo, bem como os ductos mamários. Durante a primeira etapa de crescimento, o desenvolvimento mamário ocorre de forma isométrica, ou seja, o crescimento ocorre proporcionalmente ao desenvolvimento corporal (SERJSEN; PURUP, 1997). Quando próximo do início da puberdade, o desenvolvimento da glândula mamária passa a ser alométrico positivo, isto é, superior à taxa de desenvolvimento corporal. Durante esse período, há intenso crescimento do tecido adiposo e ampliação do sistema de ductos, projetando-se na estrutura intramamária (SERJSEN; PURUP, 1997).

Já na gestação, o desenvolvimento mamário é intenso e consiste no crescimento principalmente do tecido alveolar, assim como durante os primeiros meses da lactação.  Portanto, para que o desempenho e, consequentemente, a eficiência produtiva de animais leiteiros possa ser melhorada, é fundamental compreender o desenvolvimento e diferenciação mamária. Nesse sentido, tem-se buscado métodos alternativos de pesquisa que reduzam o tempo e o custo das análises, bem como permita a avaliação in vivo dos animais, de forma não invasiva e em tempo real.

Aplicação da ultrassonografia na avaliação da glândula mamária de búfalas

A ultrassonografia é um método comprovadamente preciso, seguro, de fácil execução, inócuo, não invasiva e que permite a obtenção de informações em tempo real da estrutura analisada. Além disso, por ser um exame in vivo, permite avaliações seriadas do mesmo indivíduo sob diferentes circunstâncias.

Assim, frente a tantos benefícios, o uso da ultrassonografia, técnica de imagem já consagrada na medicina humana, faz-se particularmente interessante no estudo da glândula mamária de animais de produção, uma vez que a quantidade e qualidade do leite produzido, assim como a eficiência de sua produção, estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento, à atividade metabólica e à saúde do úbere (AKERS, 2002).

Portanto, bons resultados na criação de animais leiteiros dependem da correta aplicação de conhecimentos práticos alicerçados em princípios teóricos básicos e bom uso de práticas biotecnológicas.

Embora a maioria dos estudos com o uso da ultrassonografia mamária foi realizada em vacas, há também uma quantidade considerável de trabalhos desenvolvidos com ovelhas e cabras e em menor número, com búfalas. O emprego mais comum desta técnica consiste na avaliação do crescimento de diferentes estruturas mamárias associada a produção de leite, número de lactações e manejo de ordenha.

Contudo, a ultrassonografia também é bastante empregada em estudos para avaliação do estado sanitário da glândula, tanto na elaboração de diagnósticos e prognósticos, quanto no acompanhamento evolutivo de diversas alterações, principalmente mastite.

Com o uso da ferramenta Doppler, a aplicação da ultrassonografia mamária pode ser expandida, pois permite uma avaliação mais detalhada da glândula, visto que com essa técnica têm-se aumento da sensibilidade e especificidade do exame ultrassonográfico, adicionando ao método convencional a capacidade de avaliar características hemodinâmicas.

O efeito Doppler baseia-se no princípio físico no qual a frequência do som varia diante da aproximação ou afastamento da fonte emissora em relação ao observador. Quando aplicado à ultrassonografia de vasos sanguíneos, as hemácias em movimento no fluxo sanguíneo correspondem à fonte emissora de som e o transdutor ao observador.

De acordo com Dantas et al. (2016) dados ainda não publicados, em estudo realizado sob orientação da Professora Eunice Oba e colaboração dos Professores Vânia Maria de Vasconcelos Machado e André Mendes Jorge da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP/ Botucatu para avaliar o desenvolvimento mamário de búfalas com o uso do Doppler, observaram que a variação do fluxo sanguíneo das artérias mamárias acompanhou a dinâmica de crescimento mamário e corporal, refletindo assim, o estreitamento da relação entre o ganho de peso corporal e o suprimento sanguíneo de búfalas mestiças Murrah, em diferentes categorias.

Figura 3. Avaliação ultrassonográfica da glândula mamária de búfalas. Fonte: Arquivo pessoal. 
ultrassom glândula mamária
O sucesso do uso da ultrassonografia no estudo da mamogênese de búfalas permitiu a obtenção de um preditor da progressão de desenvolvimento mamário basal nessa espécie, bem como de uma ferramenta de seleção de animais jovens com características leiteiras.

Desse modo, acredita-se que os valores hemodinâmicos obtidos por este estudo vão facilitar o planejamento de futuros estudos destinados a elucidar mais profundamente os mecanismos e fatores determinantes no desenvolvimento mamário de búfalas mestiças Murrah em diferentes estágios fisiológicos, permitindo a expansão dos métodos desenvolvidos no presente trabalho.

Além disso, poderão servir como base de consulta para comparações entre animais saudáveis e doentes, permitindo melhor assistência prestada a fêmeas leiteiras, bem como futuramente poderá ter valor preditivo para o potencial de produção de leite de cada animal e, dessa forma, ser parâmetro para acompanhamento clínico complementar de casos onde se observa atraso ou falhas de lactação.

Conclusão

Estudos relacionados à ultrassonografia mamária de búfalas são relativamente recentes na literatura veterinária, contudo, apresentam implicações importantes na área de produção animal. Desse modo, pode ser utilizada como ferramenta para estudo do desenvolvimento mamário de fêmeas em diferentes estágios fisiológicos.

Referências bibliográficas

AKERS, R. M. Lactation and the mammary gland. 1. ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2002. 278p.

BRAGULLA, H. et al. Tegumento comum. In: KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos animais domésticos: texto e atlas colorido. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. cap. 18, p. 343.

DAVIDSON, P. A.; STABENFELDT, H. G. A glândula mamária. In: KLEIN, G. B. Cunningham tratado de fisiologia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. cap. 6, p. 439-449.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Pecuária Municipal: Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: . Acesso em: 30 setembro 2016.

NEVILLE, M. C.; MCFADDEN, T. B.; FORSYTH, I. Hormonal regulation of mammary differentiation and milk secretion. Journal of Mammary Gland Biology and Neoplasia, New York, v. 7, p. 49-66, 2002.

SEJRSEN, K.; PURUP, S. Influence of prepubertal feeding level on milk yield potential of dairy herfeirs: a review. Journal of Animal Science, Champaign, v.75, p. 828-835, 1997. DOI: /1997.753828x

ARIANE DANTAS

Médica Veterinária. Mestre em Zootecnia (UNESP/Botucatu). Doutorado em Biotecnologia Animal (UNESP/ Botucatu)

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CARLOS LUCATTO

JAURU - MATO GROSSO

EM 09/12/2016

Parabéns Drª.Ariane Dantas, muito bom trabalho, estou muito feliz por você em realizar um trabalho científico de alto nível.

Eu sempre tive a certeza que você chegaria aos melhores e maiores patamares em qualquer atividade que se propunha a fazer, pois, como aluna da nossa escola Dep. João Evaristo Curvo aqui em Jauru-MT e é lógico, como minha aluna de Ciências, sempre foi exemplar, criativa, nota dez.

Você merece nosso sincero reconhecimento.

Um grande abraço.

Professor Carlos Lucatto
VIRGÍLIO JOSÉ PACHECO DE SENNA

SANTO AMARO - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/10/2016

Parabéns Drª.Ariane Dantas, muito bom trabalho, os Búfalos precisam de mais trabalhos iguais ao  seu,grande contribuição para a Buiatria Brasileira e para a Bubalinocultura.Cordiais saudações.
HUMBERTO SORIO JUNIOR

CARAZINHO - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/10/2016

Excelente! Contudo, sem demérito ao trabalho da jovem e promissora investigadora, cabem perguntas: a. as referências bibliográficas parecem a mim que se referem a bovinos e não especificamente a bubalinos. b. fisiologicamente, no tocante a aparelho mamário, as duas espécies são iguais ou guardam diferenças? Saudações à autora e aos professores Eunice Oba, Vania de Vasconcellos e André M. Jorge, luminares cientistas da FMVZ de Botucatu, destaque continental em pesquisas com búfalos.

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