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O sistema de produção de leite não define o nível de bem-estar animal

POR ANA LUIZA MENDONÇA PINTO

E IRAN JOSÉ OLIVEIRA DA SILVA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/02/2013

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 05/01/2024

O bem-estar é uma característica do animal em determinado momento. A ação humana pode melhorá-lo, mas não fornecê-lo diretamente. Proporcionar um recurso, como água ou sombra, não quer dizer que estamos fornecendo bem-estar ao animal, já que depende de sua capacidade de se ajustar a este recurso. Portanto, o bem-estar animal (BEA) pode variar em uma escala de muito ruim a muito bom e essa variação não apresenta uma relação direta apenas com o sistema de produção, mas com a maneira como são realizadas a condução e as práticas de manejo desses animais. Adotar boas práticas de BEA é fundamental para o aprimoramento das práticas de campo.
Precisamente deve-se distinguir o BEA de conforto térmico animal, esses conceitos são complementares, assim como demonstrado na Figura 1.

FIGURA 1.Esquema explicativo da complementariedade dos conceitos de conforto térmico e/ou ambiência e bem-estar animal (Silva, 2012).


 

A ambiência e/ou conforto térmico faz parte de uma das características das práticas de bem-estar, portanto incluso no BEA e não ao contrário ou no mesmo conceito, trata-se de conceitos diferentes.

É importante salientar que bem-estar animal não é sinônimo de conforto térmico. O primeiro é mais amplo e relaciona-se com a qualidade de vida do animal e sua capacidade de manter-se saudável no sistema em que vive. Para favorecê-lo, além de proporcionar conforto térmico aos animais, deve-se fornecer água e alimento em quantidade e qualidade adequadas, ambiente confortável para o animal deitar e se movimentar sem dor, favorecer trocas sociais saudáveis entre os animais e o ser humano. Conforto térmico ocorre quando o animal não precisa utilizar o seu sistema termorregulador, ou seja, seu gasto de energia para mantença é mínimo. O conforto térmico é um dos diversos fatores que influenciam o bem-estar animal.

Os indicadores de BEA são medidas de parâmetros fisiológicos e comportamentais dos animais, juntamente com a verificação da disponibilidade de recursos oferecidos em quantidade e qualidade adequadas, e critérios relativos à interação entre os humanos e os animais. Exemplos de indicadores utilizados para medir o bem-estar animal são temperatura corporal, frequência respiratória, presença de ferimentos e corrimentos nasal e ocular, escore corporal, nível de sujidades, temperamento, comportamento, disponibilidade de bebedouros, comedouros, sombra e espaço para deitar , dentre outras.

Os sistemas de produção de leite variam entre confinado, semi-confinado e em pasto e independente do sistema produtivo adotado é viável o uso de práticas de manejo que favoreçam o bem-estar dos animais.

Uma pecuária mais extensiva, apesar de ter maior potencial de BEA, não significa automaticamente melhor qualidade de vida para os animais (MOLENTO, 2005). Todos os animais no pasto devem ter área suficiente de pastejo, acesso à água de qualidade, receber suplementação alimentar e sombreamento. Por outro lado, em sistemas super-intensivos de produção (ex. tie-stall) pode haver fornecimento de dieta controlada e ambiente climatizado, mas há restrição da liberdade de movimento. Deve-se atentar para a higiene do ambiente e dos animais, dimensionamento das instalações, manutenção e adequação dos equipamentos de climatização.

Deste modo, verifica-se que há pontos críticos de produção em relação ao BEA em todo tipo de criação. Alguns desses fatores, como a desmama precoce ou a adequação genética ao clima são intrínsecos a determinado sistema de produção e, portanto dificilmente alteráveis para a melhoria do BEA. No entanto, a oferta de alimento e água e o treinamento de funcionários são fatores facilmente remediados em qualquer sistema.

McINERNEY(2004) sugere que há uma complementaridade entre aumento de produção causado por um melhor manejo (nutrição, instalações, controle sanitário etc.) e o aumento no nível de bem-estar (Figura 2). De acordo com a figura 2 abaixo, há um ponto B onde novos aumentos em produtividade resultam em redução de bem-estar crescente. Há uma variedade de sistemas de produção de leite e devido aos fatores intrínsecos a estes sistemas, é provável que sistemas de criação mais intensivos estejam mais perto do ponto D e sistemas extensivos mais acima da curva. O objetivo desta discussão é mostrar a flexibilidade do gráfico em abraçar a diversidade das escolhas de bem-estar de produtividade na realidade pecuária.

Existe um ponto C hipotético que representa o equilíbrio mais adequado entre bem-estar animal e produtividade. Torna-se uma questão de escolha econômica individual (para os consumidores e produtores) de como os animais devem ser criados, e como o equilíbrio entre o valor econômico ligado à sua produtividade e o valor econômico ligado a seu bem-estar deve ser resolvido.

FIGURA 2. A relação entre bem-estar animal e produtividade (MOLENTO, 2005; McINERNEY, 2004)

 


Há diversos estudos que comprovam os efeitos de bem-estar pobre das vacas leiteiras em variados sistemas produtivos. Um efeito bastante simples de ser observado é a redução da expressão de cio dificultando sua detecção. Se a eficiência de detecção de cio é baixa, a eficiência reprodutiva do rebanho também é reduzida devido, principalmente, ao menor número de vacas gestantes em lactação e ao aumento do intervalo entre partos (COSTA e SILVA et al, 2010).

Independente do sistema produtivo a qualidade da mão-de-obra em uma propriedade leiteira é um fator de grande interferência no BEA. A maneira como ocorre a interação humano-animal afeta diretamente no comportamento e na produtividade da vaca leiteira (KROHN et. al., 2001).

Para se implementar um programa eficaz de BEA, o NUPEA (Núcleo de Pesquisa em Ambiência/ Esalq-USP) sugere o uso dos manuais de Boas Práticas de Bem-estar de Animais de Produção. Para a elaboração destes, baseou-se nos princípios preconizados pela Normativa No 56 do MAPA associados a adaptação de alguns protocolos internacionais de BEA à realidade brasileira, tais como WelfareQuality (União Européia) e Humane Farm Animal Care (Estados Unidos da América), e com alguns manuais nacionais de boas práticas de produção animal. O NUPEA propôs-se em atender as seguintes condições enumeradas na TABELA 1.

TABELA 1: Princípios e critérios do sistema de avaliação do bem-estar 


Desta forma, ressaltamos que todos os sistemas de produção podem oferecer condições no mínimo satisfatórias ao bem-estar das vacas em lactação, desde que atentem para as boas práticas de produção e bem-estar animal. Deve-se salientar que para cada sistema existem as adaptações inerentes.

Referências Bibliográficas:

BROOM, D.M.; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas – Revisão. Curitiba, v.9, p.1-11, 2004.

COSTA E SILVA, E. V. et al. Estratégias para avaliar bem-estar animal em animais em reprodução. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 13, suplemento 1, p. 20-28, agosto, 2010.

KROHN, C. C. et al. The effect of early handling on the socialization of young calves to humans. Applied Animal Behaviour Science, v.74, P. 121-133, 2001.

MALAFAIA, P.; BARBOSA, J. D.; TOKARNIA, C. H.; OLIVEIRA, C. M. C. Distúrbios comportamentais em ruminantes não associados a doenças: origem, significado e importância. Pesq. Vet. Bras., v. 31(9), p. 781-790, 2011.

McINERNEY, J.P. Animal welfare, economics and policy – report on a study undertaken for the Farm & Animal Health Economics Division of Defra, 2004.

WELFARE QUALITY®, 2009.Welfare Quality® assessment protocol for cattle.Welfare Quality® Consortium, Lelystad Netherlands, ISBN/EAN 978-90-78240-04-4, 180 p.

Silva, I.J.O. Ambiência Pré e Pós Porteira: novos conceitos da ambiência aninal. SIMCRA - Simpósio de Construções Rurais e Ambiência. Palestra - Cd-Rom -. UFV, Viçosa, 2012.

ANA LUIZA MENDONÇA PINTO

Mestranda, Núcleo de Pesquisa e Ambiência(NUPEA), Esalq- USP
Mba em Agronegócios, Pecege, Esalq- USP
Médica Veterinária, UFLA- MG

IRAN JOSÉ OLIVEIRA DA SILVA

Engenheiro Agrícola, Professor Livre-Docente ESALQ/USP. Coordenador e Pesquisador responsável pelo NUPEA - Núcleo de Pesquisas em Ambiência. Especialista em Ambiência e bem-estar de animais de produção.

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FLÁVIO BACCARI JR.

BAURU - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/02/2013

Em termos de física quântica, cada indivíduo é único e o corpo uma flutuação de energia e informação. O corpo recebe da natureza apenas duas sensações: a de bem-estar e a de mal-estar.(Chopra, 1998). Os seres vivos constituem sistemas termodinâmicos abertos e trocam energia, matéria e trabalho com o ambiente mercê da combustão dos nutrientes dos alimentos mediante oxidações metabólicas. .A relação consumo de energia-massa corporal , ademais, é alométrica. Os animais, a vaca leiteira, não são máquinas. Os mamíferos sâo dotados de instintos básicos, inatos, em geral adaptativos, e.g.,  instinto de sobrevivência, instinto sexual e instinto materno. O instinto de sobrevivência -- o mais forte -- é governado pelo sistema límbico e pelo neocórtex cerebral que induzem o comportamento em condições naturais ou artificiais visando à manutenção da homeostase ou constância do meio interno apesar das intensas forças entrópicas que ameaçam a ordem biológica da vida. Os agentes estressores inerentes ao ambiente, físico e/ou térmico,  são de vaiados tipos. No caso do conforto térmico, salientam-se a elevada temperatura do ar, a umidade relativa e a carga térmica radiante emitida pelo Sol, global ou difusa. A busca por sombra e água é tipicamente a busca por uma neutralidade térmica ou microclima de conforto, o comportamento que, em última análise, revela a busca pela sobrevivência. Sob stress térmico, as vacas aumentam a frequência respiratóeia (FR) e a taxa de sudorese para evitar a hipertermia que pode ser letal nos casos de intermação e insolação. As medidas de FR e temperatura corporal são para avaliar o conforto térmico e não medidas do bem-estar dos animais. Ademais, bem-estar e conforto térmico não são complementares, pois o segundo insere-se no primeiro.  Nao existem práticas de bem-estar, mas práticas para  favorecer o bem-estar. Além da ausência de expressão do cio, outro fator determinante de baixas taxas de fertilidade nas vacas leiteiras  é a mortalidade embrionária. Poucos dias sem água ou alimento já comprometem a performance, a fome e a sede.não precisam ser crônicas .                                                 Flávio Baccari Jr.

Titular, Biometeorologia  Animal  



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     
MATHEUS

ITANHANDU - MINAS GERAIS

EM 18/02/2013

muito bom artigo parabéns!
LUIZ CARLOS BRITTO FERREIRA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/02/2013

Parabéns, muito bom o artigo, num pequeno texto consegue passar bem a mensagem do bem-estar animal. Na definição de Bem-estar, na primeira linha, foi usado o termo característica, que penso não ser o mais apropriado, talvez "estado" seria o mais correto. Realizei uma pesquisa sobre as RESPOSTAS FISIOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS DE BOVINOS SUBMETIDOS A DIFERENTES OFERTAS DE SOMBRA, que comprova a eficiência da arborização da pastagem para o bem-estar animal. Ela pode ser lida link: https://pececo.blogspot.com.br/2010/09/respostas-fisiologicas-e.html
CASSIMIRO JOSÉ DANTAS

PEDRO AVELINO - RIO GRANDE DO NORTE - PRODUÇÃO DE CAPRINOS DE LEITE

EM 07/02/2013

Parabéns, pelo brilhante artigo publicado. Abraços
CRISTIANE CAROLINE ABADE

LONDRINA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 07/02/2013

Excelente artigo!

É muito importante que o produtor tenha consciência de que não existe um sistema perfeito que consiga providenciar o bem-estar e também suprir todas as práticas de manejo, porém cada sistema tem como ser aprimorado a fim de garantir certo conforto aos animais.

Em propriedades de criação a pasto, mesmo que esse sistema ofereça boas condições de bem-estar, dependendo do manejo ele pode ser comprometido. E naquelas que usam do confinamento ou semi-confinamento o cuidado deve ser redobrado.

Eu chamaria atenção aqui daqueles produtores que estão implantando sistemas de confinamento é importante se atentar as pesquisas disponíveis a fim de construir da forma correta e para manejar adequadamente, assim, mesmo que mantidos de forma pouco natural é possível garantir conforto aos animais.

A implantação de programas de BEA é muito importante para as propriedades brasileiras! sejam elas pequenas ou grandes =D

abraço
FRANKLIN GOMES CORREIA

CAMPINA GRANDE - PARAIBA - ESTUDANTE

EM 06/02/2013

Parabéns pelo artigo, muito bom ler e reler  assuntos onde passamos 3 semanas trabalhando nessa área no treinamento técnico 2013 do NUPEA. Produtores com consciência atualmente devem implantar o BEA em sua propriedade, pois além do manejo ficar mais acessível irá com certeza aumentar a produtividade. Concordo e acredito plenamente no BEA. Abraço!

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