ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Quem são os bezerros que sofrem mamadas-cruzadas?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E FLÁVIA SANTOS

CARLA BITTAR

EM 23/08/2012

9 MIN DE LEITURA

6
1
Por Carla Maris Machado Bittar e Flavia Hermelina da Rocha

É sabido que bezerros tem grande motivação para o ato de mamar e quando criados separados de suas mães, a mamada-cruzada é bastante frequente. Os fatores que influenciam a motivação dos bezerros em sugar um ao outro têm sido extensivamente estudados, mas pouco se sabe sobre os fatores que determinam o bezerro escolhido para ser mamado.


Figura 1. Animais criados em lote realizando e sofrendo mamada-cruzada após o fornecimento da dieta líquida.

Interssucção de bovinos adultos é dirigida principalmente a determinados indivíduos do rebanho, mas não se sabe se isso também ocorre com animais mais jovens. A mamada-cruzada está associada a irritação e até ao ferimento de partes do corpo do animal que está sendo sugado, o que pode interferir de forma marcante o desempenho produtivo do mesmo. Além disso, se a mamada cruzada for desproporcional dentro de um grupo, ou seja, se alguns poucos animais forem sempre vítimas, a probabilidade de ferimentos é ainda maior. Assim sendo, foi realizado um estudo com o objetivo de examinar se um animal sofre mais mamadas-cruzadas que os outros e, em caso afirmativo, identificar os fatores subjacentes a isto. Alguns pesquisadores já observaram que as mamadas-cruzadas ocorrem com maior frequência ao redor dos alimentadores, seja de leite ou de concentrado. Portanto, o presente estudo também examinou se os bezerros que sofrem mais mamada-cruzada são aqueles que passam a maior parte do tempo nos alimentadores; se a mamada-cruzada é direcionada para bezerros de menor tamanho; ou, se a mamada-cruzada resulta em deslocamento de bezerros mamados dos alimentadores de forma a dar o lugar para o bezerro que realiza a mamada.

Para a realização deste estudo foram utilizadas 45 bezerras da raça Holandês, alojadas a partir do 5º e 6º dia de idade em grupos de nove animais. Antes do início do experimento, os animais foram separados de suas mães, alimentados com colostro nas primeiras 6h, e transferidos para baias individuais onde receberam 3L de leite, duas vezes ao dia (08:00h e 15:00h). O local de experimentação constitui-se de uma área de 7,08 x 4,74m, com revestimento de plástico e metal expandido na área onde os alimentadores estavam localizados, além de uma área com cama de serragem sobre o piso de concreto. As bezerras foram submetidas aos tratamentos, em idades diferentes, formando grupos heterogêneos em relação a esse fator. A diferença média de idade entre os mais jovens e os mais velhos dentro do lote foi de 22,2 dias, variando de 9 a 32 dias.

A área de alimentação continha um alimentador automático de dieta líquida e concentrado inicial, acionado pela entrada da bezerra, e um alimentador automático de feno e bebedouro, também controlado por computador. Os comedouros e bebedouros reconheciam as bezerras por brinco com chip, durante todas as visitas para leite, concentrado, feno e água. Além disso, as bezerras foram pesadas manualmente uma vez por semana.

As bezerras foram distribuídas em três tratamentos alimentares (diferentes volumes de leite) e idade ao desaleitamento, havendo em cada grupo alojado 3 animais de cada tratamento:

- A: 6L /d de leite e desaleitamento aos 47 dias;
- B: 12L/d de leite e desaleitamento aos 47 dias;
- C: 12 L/d de leite e desaleitamento aos 89 dias.

Para as observações comportamentais foram colocadas três câmeras de vídeo no teto da área experimental, de modo que foi possível visualizar e gravar o comportamento das bezerras. Cada bezerra foi observada continuamente durante 12h/d, em três idades:

- 37d: 10 d antes do desaleitamento, para bezerras em tratamentos A e B;
- 47d: desaleitamento completo para bezerras nos tratamentos A e B;
- 79d: 10 d antes do desaleitamento, para bezerras em tratamento C;
- 89d: desaleitamento completo para bezerras no tratamento C.

Essas idades foram escolhidas para dar uma amostra representativa da mamada-cruzada que ocorre antes do desaleitamento e seu aumento no momento em que as bezerras são desaleitadas. A duração, localização e identidade o bezerro sendo mamado e a identidade do bezerro realizando a mamada foram registrados para todos os eventos que tiveram duração superior a 10 segundos. O ato da mamada cruzada foi definida quando: o focinho de uma bezerra posicionou-se abaixo da barriga de outra bezerra, seja pelo lado, por trás ou ainda entre as patas traseiras, de forma que a boca/focinho alcançou posição suficiente para mamar o umbigo ou as tetas; se o bezerro estava realizando mamada-cruzada por trás, sua cabeça está pelo menos o comprimento entre seus olhos e seu focinho das tetas, ou inteiramente coberta pelo traseiro do bezerro mamado. Cada grupo de bezerras foi assistido por um observador treinado.

A quantidade total de atividade de mamada-cruzada foi baixa, mas houve grandes diferenças entre bezerros quanto a duração de tempo em que os mesmos sofreram as mamadas. A distribuição do tempo em que os animais sofreram mamadas foi altamente enviesada: cerca de 25% das bezerras que sofreram mamada cruzada por muito tempo, foram os responsáveis por 68% da duração total de mamada-cruzada. Observou-se que existe uma baixa, mas positiva, correlação entre a média de tempo que o animal sofre a mamada cruzada e tempo de duração da mamada cruzada como um todo (Figura 2).


Figura 2. Duração do tempo realizando mamada-cruzada e tempo sofrendo mamada-cruzada para cada animal avaliado. Cada ponto representa a média das quatro observações.

Em todas as idades, as diferenças individuais entre bezerras foram muito maiores do que as diferenças entre os grupos de tratamento. Na tabela 1 é possível observar o local e a diferença com relação a idade dos bezerros em que as mamadas cruzadas mais ocorreram.

Tabela 1. Porcentagem de todos os eventos de mamadas cruzadas recebidas em cada idade.


Durante todas as idades, cerca de metade dos momentos de mamada-cruzada ocorreram enquanto a bezerra que sofreu a mamada estava na área do alimentador. No entanto, com o passar da idade ocorreu uma mudança do local em que as mamadas-cruzadas mais ocorreram, da área de cama com serragem nas idades de 37d e 47d, para as estações de alimentação nas idades de 79d e 89d. Entretanto, em todas as idades, somente 20-35% das mamadas-cruzadas ocorreram quando o bezerro mamado estava na estação de alimentação. Em 79,3% dos casos em que a mamada-cruzada ocorreu nas estações de alimentação, a resposta da bezerra que sofreu mamada foi de permanecer no compartimento do alimentador. Em 13% dos casos, a bezerra deixou a área do alimentador durante, ou no fim da mamada cruzada, porém não foi substituída pela bezerra que executou a mamada-cruzada. Em alguns destes casos, a mamada cruzada continuou fora da área do alimentador e em outros casos encerrou-se por ali mesmo. Deslocamentos, onde a bezerra mamada foi substituída no alimentador pela bezerra que a mamou, ocorreram em apenas 7,8% dos casos.

Um resultado interessante é que bezerros que sofreram mamada-cruzada mais longas apresentaram os maiores pesos corporais nos dias 37, 47 e 79, não havendo diferenças para a ultima idade de observação (89d).

Os resultados mostram que a possibilidade de sofrer mamada-cruzada não é semelhante para todos os bezerros de um lote, e que os bezerros que sofrem a mamada são um pouco mais pesados, passam mais tempo nos alimentadores e também realizam mais mamadas que bezerros que não o fazem com tanta freqüência. Assim, os dados mostram que a mamada-cruzada não tem como objetivo o deslocamento de animais mais leves da área de alimentação.

A duração dos animais realizando a mamada foi aproximadamente de 70% da duração total da mamada-cruzada. No entanto, não se pode concluir se estas diferenças são conseqüência de uma maior "atratividade" de uma bezerra em ser mamada ou se reflete o fato das mesmas não resistirem a mamada. Como só foram gravados eventos mais longos do que 10 s, é possível que alguns dos incidentes de mamadas tenham ocorrido, mas que as bezerras tenham conseguido se livrar rapidamente. A bezerra motivada em mamar pode ter realizado inúmeras tentativas, até finalmente encontrar uma que não ofereceu resistência para a mamada.

Foram encontradas correlações moderadas entre o tempo realizando mamada-cruzada e o tempo sofrendo a mesma. Vários trabalhos apontam para a mamada-cruzada mútua, de forma que a bezerra que está realizando a mamada-cruzada, também está sendo mamada naquele mesmo momento.

Como comentando anteriormente, a maioria das mamadas-cruzadas ocorrem ao redor dos alimentadores e os dados mostram que os animais que permanecem mais tempo próximo aos alimentadores são exatamente aqueles que mais sofrem as mamadas. Além disso, os dados sugerem que a competição por alimentadores disponíveis pode aumentar o problema de mamada-cruzada entre os animais. Este fato não foi evidenciado pelo presente estudo: quando as bezerras estavam sofrendo a mamada-cruzada no alimentador, em 80% dos casos as mesmas permaneceram no local, e o ato foi encerrado pelo afastamento da bezerra que estava mamando e não pelo deslocamento daquela que estava sendo mamada. Mesmo nas situações em que a bezerra mamada deixou o alimentador, o bezerro que estava realizando a mamada-cruzada não tomou seu lugar no mesmo.

Não houve nenhuma evidência que as bezerras menores foram as que foram mais mamadas. Na verdade, as bezerras mais pesadas são aquelas com maior chance de serem mamadas, o que sugere que a susceptibilidade do indivíduo em sofrer mamada-cruzada não está relacionada a dominância social. Dentre os animais que foram desaleitados com 47d, os que receberam 12L/d de leite sofreram mamadas-cruzadas mais longas do que os que receberam 6L/d de leite, comprovando que a suscetibilidade para ser mamada não está relacionada simplesmente com o peso ou idade dos animais.

Uma vez que a mamada-cruzada é direcionada a um pequeno número de animais, estes tem maior risco de apresentar traumas e inflamações de úbere, mesmo quando a frequência de mamada dentro do lote é baixa. Identificar os animais que estão em maior risco de serem mamados pode auxiliar no seu controle e minimizar as conseqüências negativas da mesma.

Referência Bibliográfica
LAUKKANEN, H.; RUSHEN, J.; PASSILLÉ, A.M. Which dairy calves are cross sucked? Applied Animal Behaviour Science, v.125, p. 91-95, 2010.

Comentários

A criação de bezerras em grupos tem aumentado consideravelmente em decorrência de resultados de pesquisa sobre comportamento animal, mas também devido a chegada de alimentadores automáticos nos sistemas de produção nacional. A criação de animais em lotes tem sido considerada como mais adequada do ponto de vista de bem estar e comportamento animal por alguns pesquisadores, muito embora se saiba que este sistema resulta em maior disseminação de doenças, além dos problemas associados a mamada-cruzada. Além de problemas como traumas e inflamações de úbere, podem ocorrer problemas no umbigo dos animais. O trabalho apresentado coloca abaixo a ideia de que animais menores serão socialmente dominados e, portanto sempre aqueles que sofrerão mamadas-cruzadas. Os dados sugerem que outros aspectos, que não somente o tamanho/peso do animal estão relacionados com sua chance de sofrer e realizar a mamada-cruzada. O trabalho não esclarece que fatores são estes, mas aspectos como a idade, o volume de leite consumido e até o local onde estes animais passam a maior parte do tempo podem explicar a maior chance de um ou outro animal sofrer e realizar a mamada. Assim, é de extrema importância observar os animais de forma a identificar estes aspectos especificamente em cada um dos sistemas de produção. Vale lembrar que animais com fornecimento de dieta líquida em volumes restritos realizam mais mamadas-cruzadas; mas, aqueles que consomem maiores volumes e que, portanto, são animais maiores, realizam mais mamadas.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

6

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

VICENTE PAULO MONTEIRO

ITANHANDU - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/03/2016

Para evitar a mamada cruzada o mais indicado não seria manter o animal separado um do outro(em baia ou corrente?); ou após um determinado tempo depois de oferecer o leite(por volta de 1 hora) libera-los para ficar em grupo?.
FERNANDO

LARANJA DA TERRA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/09/2014

Bom dia, tenho duas novilhas perto de criar e uma está mamando debaixo de outra, tem alguma coisa que posso fazer.

Desde já agradeço



Abraços

Fernando
DIOGO DE MOURA OLIVEIRA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/04/2014

Boa tarde Carla,

Primeiramente parabéns pelo artigo..

Tenho em minha propriedade animais de diversos graus de sangue. Noto que somente os animais 1/2 Sangue realizam mamada Cruzada. Tem algum trabalho que corrobore com está afirmação?

Qual a estratégia devo utilizar nesse caso?
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/09/2012

caro Guilherme,

Não temos trabalhos científicos comprovando efeitos negativos da mamada cruzada na produção futura, mas se especula sobre a possibilidade de perda de tetos por trauma de mamadas repetidas; e também sobre a possibilidade de inoculação de bactérias causadoras de mastite o que resultaria em uma novilha recém-parida com este problema.

Quanto a esterilidade, não vejo nenhuma justificativa para este resultado.

Att.,

Carla
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/08/2012

Prezadas Carla e Flávia Hermelina: Parabéns pelo artigo. Gostaria de obter suas opiniões sobre os danos que a mamada cruzada pode causar na vida produtiva futura das bezerras, já que existe uma teoria de que este tipo de comportamento traz, à bezerra mamada, um futuro de baixa produção e de, até mesmo, esterilidade. Até onde isto tem fundamento ou se existe mesmo algum fundamento nisto?


Um abraço,


GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO


FAZNDA SESMARIA - OLARIA - MG


=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=
EDUARDO AMORIM

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/08/2012

Parabéns a prof. Carla Bittar e a Flávia Santos pelo pioneiro e esclarecedor artigo no milkpoint. Tenho um calf feeder há dois anos e não temos tido problemas com mamadas cruzadas,  tivemos alguns problemas iniciais com o manejo do equipamento (mao de obra) e com a conservação do sucedaneo ou leite em dias mais quentes. Acho muito importante, que novas pesquisas que contemplem a criação de bezerras em sistema coletivo e alimentadas por alimentadores automaticos sejam feitas, haja visto o aumento de produtores que estão adquirindo tais equipamentos visando o bem estar animal proprio da criação coletiva. Atenciosamente,



Eduardo Amorim

W.Amorim - Fazenda Caatingueiro

Patos de Minas - MG

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures