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Práticas de manejo com efeito no bem-estar animal: demanda crescente

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MARIANA POMPEO DE CAMARGO GALLO

CARLA BITTAR

EM 19/10/2011

8 MIN DE LEITURA

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O interesse em práticas de manejo que assegurem o bem-estar animal vem crescendo nos países da união europeia e América do Norte. Mais do que assegurar a sanidade dos animais, a preocupação com bem-estar visa reduzir situações de dor ou injúria na vida do animal, e ainda garantir que ele possa expressar comportamentos naturais.

Com o objetivo de identificar os pontos em que o manejo dos rebanhos leiteiros precisa sem melhorado para garantir o bem-estar dos bezerros, um levantamento foi realizado por um grupo de pesquisadores canadenses da University of British Columbia, com 115 fazendas produtoras de leite em Quebec no Canadá. A pesquisa realizada abordou as principais questões sobre práticas de manejo que pudessem afetar o bem estar dos animais.

Embora não tenhamos levantamento deste tipo com fazendas nacionais, acredita-se que os índices brasileiros sejam bem inferiores àqueles observados em sistemas de produção de leite europeus e norte americanos. Há muito que se fazer ainda para considerarmos nossos sistemas de produção eficientes e com preocupação com bem-estar animal.

Parto e cuidados com o recém nascido

O cuidado na hora do parto é fundamental na saúde do recém nascido, no entanto, apenas 51,3% das fazendas, utilizam piquetes maternidade. Dados do USDA (2008) apontam um valor ainda mais baixo de 29%. Além disso, mais da metade dos rebanhos utilizam o piquete maternidade para as vacas doentes, o que pode se tornar um foco potencial de doenças para outras vacas e para o bezerro recém nascido.

Outro fator importante abordado foi a supervisão dos piquetes maternidade entre a ordenha da noite e de manhã, ou o uso de câmeras nestes piquetes, que pode facilitar no caso da ocorrência de partos distócicos. Em metade dos rebanhos avaliados, os bezerros são identificados pela primeira vez ao terceiro dia de vida, dificultando os primeiros cuidados que são fundamentais na saúde do animal. Dentre os principais cuidados com o recém nascido, a desinfecção do umbigo, extremamente importante para evitar infecções e aumentar o índice de mortalidade, não é realizada em 36,8% dos rebanhos.

O fornecimento de colostro para os bezerros deve ser feito o quanto antes, a fim de garantir uma adequada transferência de imunidade passiva ao animal. Na maioria dos rebanhos (94,8%) o colostro é fornecido até 6h após o nascimento, porém, como os animais são encontrados em média com 3 dias de vida, em muitos casos o fornecimento de colostro já não será eficiente. Ainda, 15,6% das propriedades deixam que o bezerro receba o colostro naturalmente, mamando na mãe, com ou sem intervenção. Isto pode prejudicar a transferência de imunoglobulinas, já que fica difícil assegurar a quantidade ingerida pelo animal de forma a garantir adequada transferência de imunidade passiva. Ainda em alguns casos, é preciso utilizar sonda para garantir o consumo de colostro em bezerros com dificuldade de mamar, o que não ocorre nestes sistemas.

Apesar de fornecerem quantidade adequada de colostro, os produtores entrevistados não fazem uso de métodos para medir qualidade de colostro ou avaliar a transferência de imunidade com métodos para leitura de IG sérica. Assim, não é possível garantir que a colostragem esteja sendo eficiente.

Outro fator de estresse na vida do bezerro é a separação da mãe, no caso da maioria das propriedades avaliadas a separação é feita nas primeiras 12h de vida. No caso de procedimentos que causam dor, como a descorna, a recomendação é que seja feita antes de 3 semanas de vida, o que não é feito por 25% dos produtores. No Brasil tem-se observado que a descorna é normalmente realizada juntamente com a desmama ou desaleitamento, aumentando ainda mais o estresse no animal.

Nutrição

Muitos estudos têm mostrado que fornecer quantidades maiores que 10 a 12% do leite comumente utilizado, pode resultar em benefícios no desempenho do animal. Apesar disso, na maioria das propriedades entrevistadas ainda se faz uso de um manejo tradicional com o fornecimento de 4L de leite ou substituto na primeira semana, aproximadamente 5L da segunda a última semana e 3L na última semana de aleitamento, sempre divididos em duas refeições. No Brasil já se observa uma tendência para aumentos no volume de dieta líquida fornecido, muito embora isso venha ocorrendo apenas em sistemas de produção mais tecnificados.

O uso de leite não pasteurizado de descarte (48,8%) ou com resíduos de antibióticos (47,7%) foi frequente nas propriedades entrevistadas. Dados do USDA, (2008) também indicam um índice alto de uso de leite descarte não pasteurizado, (30,6%) nas propriedades americanas. Como já apresentado neste radar técnico anteriormente, o uso de leite de descarte não pasteurizado, pode conter alta contaminação bacteriana e, além disso, o teor de sólidos pode estar abaixo do recomendado, afetando o desempenho dos animais. Ainda sim, deve ser hoje a dieta líquida de maior adoção por produtores brasileiros.

Quanto ao uso de leite ou substitutos de leite, 89% das propriedades fornecem com alguma frequência o leite integral aos animais, principalmente devido à facilidade (70%), utilização de excedentes (36,8%) e por acharem que os bezerros se desenvolvem melhor (23%). Enquanto nos EUA os sucedâneos são amplamente utilizados (cerca de 70%, USDA, 2008), apenas 50% dos produtores europeus entrevistados utilizam substitutos de leite. No Brasil o uso ainda é bastante incipiente.

Na média os animais tem acesso ao concentrado, fator extremamente importante para desenvolvimento ruminal do animal, aos 7 dias de idade, com uma quantidade média de 1kg. O fornecimento de feno aos animais ocorre após 3 dias de idade na maioria das propriedades entrevistadas. O acesso ad libitum a grãos e feno acontece em, 65,5% e 63% das propriedades, respectivamente. Embora o consumo de concentrado seja bastante reduzido na primeira semana de vida, sabe-se que quanto antes o animal é apresentado a dieta sólida, mais cedo apresenta consumo. Interessante que nestas propriedades, embora o concentrado seja fornecido para animais com 7 dias de vida, já no terceiro dia os animais tem acesso ao feno. No entanto, o consumo de feno é ainda mais reduzido nesta faixa de idade e acaba tendo efeito lúdico e enriquecedor de ambiente para animais jovens.

O acesso a água que é essencial para funcionamento ruminal, e estimulo do consumo de concentrado, foi negligenciado em 9,6% das propriedades. Em média o acesso a água ocorre a partir dos 2,5 dias de idade no Canadá, enquanto nos Estados Unidos o acesso é mais tardio, ocorrendo a partir de 15,3 dias de idade. O fornecimento de dieta liquida não deve ser um substituto para consumo de água, o animal deve ter acesso água o quanto antes.

Desaleitamento

O desaleitamento pode representar um período de grande estresse na vida dos animais. A mudança da dieta, do grupo, ambiente, falta de contato com o tratador, são alguns dos fatores responsáveis por esse estresse e podem desafiar o sistema imunológico e bem-estar dos animais. O desaleitamento deve ser feito de maneira a minimizar estes efeitos e levando em consideração o consumo de concentrado para que o animal não perca peso e fique desnutrido durante esse processo.

Cerca de 60% das propriedades utilizaram a idade como o principal critério para desaleitar os animais (média de 7 semanas); e apenas 40% levaram o consumo de concentrado em consideração. A maioria das propriedades segue um processo de desaleitamento gradual (89%), reduzindo gradativamente a quantidade do leite ou substituto, o que tem sido associado a redução do estresse durante o desaleitamento.

Apesar da idade ser considerada o critério de desaleitamento, a maioria das propriedades desaleita bezerros consumindo uma média de 2Kg de concentrado por dia, que é considerado adequado, mas bem acima do mínimo normalmente recomendado de 700 a 800 g/dia, sugerindo que o custo de produção da bezerra desaleitada seja elevado nestes sistemas.

Alojamento

Em 88% das propriedades entrevistadas são utilizados sistemas de alojamento individual de bezerros. O alojamento individual tem sido visto como a melhor forma de prevenir transmissão de doenças entre os animais. No entanto, alguns estudos relatam que quando os animais não estão agrupados individualmente, são privados de interação social, espaço para se exercitar, que podem ser importantes no bem- estar e desenvolvimento. O "Código Leiteiro de Práticas Canadense" prevê que os animais sejam alojados de forma a terem espaço para deitar, ficar de pé, andar em volta, ter postura de descanso e ter contato visual com outros animais. Na pesquisa realizada muitos dos tipos de alojamentos utilizados provavelmente não atendem a esta exigência como os: tie-stalls (utilizado por 13,9% das propriedades), baias individuais (27%) e amarrados a parede (5,7%).

No Brasil ainda são muito comuns os bezerreiros coletivos, que embora pudessem ter a vantagem de permitir interação social e maios espaço para locomoção, tem sido muito mal manejados, levanto a altos índices de diarréias e pneumonias. Por outro lado, tem-se observado também que os abrigos individuais, cada vez mais adotados no país, também tem sido mal manejados, reduzindo o desempenho dos animais. É comum observar bezerros em abrigos individuais contidos por correntes curtas, que não permitem locomoção adequada; posicionamento inadequado com relação ao sol, de forma que os animais passam todo o período da tarde sem acesso a sombra; cochos e baldes de água mal higienizados ou mal dimensionados; além de áreas com drenagem inadequada que leva a formação de barro.

Conclusão

Os dados desta pesquisa mostraram os principais fatores de risco e práticas que possam afetar o bem-estar de bezerros leiteiros, porém, as perguntas se concentraram num nível baixo de bem-estar. Mais do que garantir o mínimo de conforto e sanidade, o interesse em assegurar ao animal sensação de bem-estar positiva está crescendo e para isso, é necessário que as fazendas comecem a se preocupar com as práticas de manejo que precisam ser melhoradas. Além disso, tais medidas além de assegurarem o bem estar dos animais, refletem em melhorias em seu desenvolvimento, e redução de infecções e mortalidade no rebanho, sendo assim, positivas no aspecto produtivo.


Bibliografia consultada

Vasseur, E.; Borderas, F.;Cue,R. I.;Lefebvre, D.; Pellerin, D.; Rushen, J.; Wade, K. M.; De Passilé, A. M. A survey of dairy calves management practices in Canadá that affect animal welfare. Jourbal of Dairy Science, v.93, p.1307-1315,2010.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MARIANA POMPEO DE CAMARGO GALLO

Engenheira Agrônoma (Esalq/USP), Mestre em Ciência Animal e Pastagens (Esalq/USP), Coordenadora de Cursos Online AgriPoint.

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SANTO ÂNGELO - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 25/11/2013

Muito bom. Parabéns pelo artigo.









Abçs.





Leucir.
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/11/2011

Edivaldo,


Acho que com mum esforço coletivo conseguiremos melhorar este cenário.


Abs.,


Carla.
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/11/2011

Sandro,


O bem-estar animais já é uma preocupação dos produtores de leite, assim como do consumidor. Estamos todos tentando produzir alimentos de forma ética.


No entanto, ainda nos deparamos com conceitos de bem-estar animal bastante humanizados o que traz entraves não só pra pesquisa, como também para os sistemas de produção de leite. O ponto mais importante neste caso é educação e esclarecimento do que se trata bem-estar animal.


Abs.,


Carla.
EDIVALDO FRANCISCO FERNANDES

MATO GROSSO DO SUL

EM 24/10/2011

Excelentes dicas para o produtor. Eu sou "apaixonado" pelas coisas do campo. Pena que a maioria dos "produtores de leite" não tenham condições econômicas e técnicas de colocarem em práticas os ensinamentos apresentados. A renda é pouca e a assistência técnica quase não existe na prática. Parabens.
SANDRO COSTA NUNES

ITANHÉM - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/10/2011

Um bom artigo. Considero estas observações em estudo um ótimo indício para se começar a pensar neste aspecto ai relatado. Geralmente não se trata desta maneira aqui no Brasil ainda, mais a medida que for se profissionalizando a atividade leiteira, é certo que será um fator extremamente relevante a criação. Os resultados obtidos são uma criação saudável, ambientada e de ótimos resultados para a atividade. Parabéns pelo artigo.


Admiro muito uma colega Zootecnista, tratando tão bem este assunto e enriquecendo de conhecimentos nosso público alvo "o produtor e o bem estar dos animais".


Grato.

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