Entretanto, estudos mais recentes mostraram que o crescimento de bezerras e o ganho de peso no período de aleitamento podem ser melhorados quando os animais são alimentados com maiores quantidades de dieta líquida durante este período. Além disso, maiores taxas de crescimento durante os primeiros estágios da vida do animal podem ser mais rentáveis e compensar o investimento, por resultar em animais maiores para o período de crescimento pós-desaleitamento.
No entanto, é importante salientar que o custo em alimentação, por kg de ganho de peso vivo, são maiores para bezerras alimentadas com maiores quantidades de leite ou sucedâneo que aqueles alimentados convencionalmente. Porém, alguns pesquisadores mostram que este custo em alimentação pode não ser maior, ou ser até mesmo próximo ao custo de produção de bezerras alimentadas com volumes restritos de dieta líquida, com ganhos menores (400 g/d), com o fornecimento de concentrado a vontade.
Por outro lado, reduzir a idade ao primeiro parto (IPP) para cerca de 23 a 25 meses de idade, pode reduzir os custos de criação de novilhas de reposição em alguns sistemas de produção. No entanto, pode também reduzir o peso vivo dos animais ao primeiro parto e, consequentemente, a produção de leite na primeira lactação. Isto ocorre devido a uma grande correlação entre o peso vivo durante o período de aleitamento e a produção de leite durante a primeira lactação (Hoffman & Funk, 1992). Assim de acordo com Van Amburgh et al. (1998) para se reduzir os custos de produção de uma novilha em sistemas normalmente baseado em confinamento durante todo o período de criação, o ideal seria uma idade ao primeiro parto alvo de cerca de 22 meses de idade, alcançada para um peso na parição de 544-567 kg, maximizando assim a produção de leite na primeira lactação.
Embora a maioria dos estudos baseados na redução da idade ao primeiro parto esteja sempre focada no efeito da nutrição no crescimento antes e após a puberdade, alguns poucos estudos mostram que o período de aleitamento deve ser considerado. Dessa forma, em grupo de pesquisadores espanhóis (Terré et al., 2009) desenvolveram um trabalho bastante interessante com o objetivo de verificar se as taxas de crescimento durante o período de aleitamento poderiam influenciar no desempenho reprodutivo e produtivo de novilhas durante a primeira lactação.
Para realizar esta pesquisa, 60 bezerras da raça holandesa foram avaliadas desde a primeira semana de vida até a primeira lactação.
Durante a fase de aleitamento, os animais foram divididos em grupos, de acordo com o programa de alimentação:
1)Alimentação convencional: 4 litros/dia de sucedâneo comercial de qualidade com 12% de MS no produto pronto durante os primeiros 3 dias e seguido do fornecimento de sucedâneo preparado com 15% MS final até o final do período de aleitamento, que foi de 56 dias;
2)Alimentação intensiva: 4 litros/dia nas 3 primeiras semanas de vida; 6 litros/dia durante a 4ª semana; 7 litros/dia na 5ª semana; 6 litros/dia na 6ª semana dia e 3 litros/dia, somente à tarde, na 7ª semana de aleitamento, até completar os 56 dias de um sucedâneo com 18% de MS no produto pronto.
Além do sucedâneo, os animais tinham acesso a um concentrado de qualidade e água a vontade desde os primeiros dias de vida.
Após o desaleitamento, as bezerras foram mantidas nos mesmos grupos até atingirem 116 kg, quando então começaram a ser divididas em grupos, de acordo com o peso vivo, sendo fornecida a todas as novilhas uma mesma ração total, que variava a sua composição nutricional conforme a exigência dos animais. As novilhas eram manejadas entre os lotes somente quando atingiam o peso alvo pré-determinado, sendo as pesagens realizadas a cada 15 dias.
Como os animais era provenientes de diversas fazendas da região, quando atingiam cerca de 1 mês antes da parição, as novilhas eram transferidas de volta às fazendas de origem, e alimentadas a partir desde momento conforme o sistema de cada fazenda.
Os resultados encontrados pelos pesquisadores mostraram que os animais que consumiam grandes quantidades de sucedâneo apresentaram um menor consumo de concentrado, conforme pode ser observado na Tabela 1. Entretanto, o consumo total de matéria seca (MS) pelos animais não foi diferente, mostrando que os animais que consumiam menos sucedâneo compensavam essa menor ingestão consumindo mais concentrado ao longo de todo período de aleitamento.
Tabela 1. Desempenho dos animais do período de aleitamento até a fase de crescimento.
Entretanto, quando se observa os ganhos de peso dos animais de ambos os tratamentos durante o período de aleitamento, verifica-se que os animais do programa de aleitamento intensivo apresentaram maior ganho no período. Porém, esta diferença no ganho de peso não foi observada durante o período de crescimento, ou seja, após o desaleitamento. Um dado importante que pode ser observado é um maior consumo de concentrado e conseqüentemente um maior ganho de peso (sem diferença estatística) pelos animais que foram aleitados de forma convencional no período pós-desaleitamento. Isto se deve, provavelmente, a maior capacidade digestiva destes animais, já que durante o período de aleitamento, apresentavam maior consumo de concentrado, o que pode ter contribuído para um maior desenvolvimento ruminal.
Em relação ao desempenho reprodutivo dos animais não foram verificadas diferenças na idade em que os animais aleitados de forma convencional ou intensiva durante o período de aleitamento apresentaram peso para inseminação ou prenhez confirmada, além da produção de leite na primeira lactação, conforme mostra a Tabela 2.
Tabela 2. Desempenho reprodutivo e produtivo na primeira lactação.
De maneira geral, os resultados deste trabalho de pesquisa mostram que o aleitamento intensivo com o objetivo de se obter maiores taxas de ganho pelos animais no período de aleitamento pode reduzir o consumo de concentrado e, consequentemente, o desenvolvimento ruminal, fator essencial para que o desempenho após o desaleitamento não seja prejudicado. No entanto, o consumo de concentrado pelos animais após algumas semanas do desaleitamento não apresenta diferenças, mostrando que as bezerras recém desaleitadas apresentam grande capacidade de adaptação a nova dieta.
Além disso, os resultados mais importantes deste trabalho são em relação ao desempenho reprodutivo e produtivo, que não mostraram vantagem quando os animais alimentados sobre aleitamento intensivo foram comparados a animais sob manejo convencional.
Apesar da não ter sido encontrada diferença estatística para o parâmetro produção de leite na primeira lactação, numericamente é possível observar maior produção pelos animais que durante a fase de aleitamento consumiram maior quantidade de sucedâneo. Este resultado deve ser considerado quando se optar por este sistema, verificando-se se um maior investimento na bezerra durante o aleitamento será compensado quando esta estiver em produção.
Referências
Hoffman, PC; Funk DA Applied dynamics of dairy replacement growth and management. Journal of Dairy Science, v.75, p.2504-2516,1992.
Van Amburgh, ME; Galton, DM; Bauman DE; Everett, RW; Fox, DG, Chase, LE; Erb, HN. Effects of three prepubertal body growth rates on performance of Holstein heifers during first lactation. Journal of Dairy Science, v.81, p.527-538, 1998.
Terre, M; Tejero, C; Bach, A. Long-term effects on heifer performance of an enhanced-growth feeding programme applied during the preweaning period. Journal of Dairy Research, v.76, p.331-339, 2009.
Comentários:
Este é um dos trabalhos recentes que vem estudando os efeitos da alimentação intensiva durante o período de aleitamento sobre o desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas de reposição. Diversos trabalhos têm sido conduzidos neste sentido tendo em vista as várias observações de aumentos na produção de leite na primeira lactação quando animais receberam 50% mais nutrientes via dieta líquida em comparação ao sistema convencional de alimentação. De maneira geral estes trabalhos mostram claramente a relação inversa entre volume de dieta líquida fornecida e consumo de concentrado. Neste aspecto, os programas de aleitamento intensivo devem se preocupar com níveis de consumo de concentrado para o desaleitamento fazendo uso de redução do volume fornecido ao final do período de aleitamento ou aumentar a idade ao desaleitamento de forma que o consumo de concentrado tenha atingido níveis adequados. O trabalho mostra uma compensação no consumo com maior consumo de concentrado quando se fornece quantidades restritas de dieta líquida, o que não resulta em ganho de peso similar ao sistema intensivo. As taxas de crescimento no período subseqüente, assim como a idade a puberdade e ao primeiro parto, não são afetadas pelo sistema de aleitamento. No entanto, embora isso não tenha sido claro neste trabalho, uma grande revisão mostrou aumentos na produção de leite entre 400 e 1400 kg em animais aleitados de forma intensiva em comparação ao convencional. È de se frisar que este sistema implica em maior custo por animal desaleitado e que podem existir problemas para o desaleitamento, o que pode resultar na perda de ganho de peso adicional conseguido com o fornecimento de maiores volumes de dieta líquida.