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Não só com dieta líquida se transforma uma bezerra em uma vaca mais produtiva

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E GERCINO FERREIRA VIRGINIO JUNIOR

CARLA BITTAR

EM 30/06/2017

8 MIN DE LEITURA

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Nos últimos anos, aumentou-se o interesse dos efeitos do manejo de bezerras em aleitamento e seu desempenho produtivo futuro. No entanto, embora muitos dados mostrem efeitos benéficos do aumento das taxas de ganho através do fornecimento de maiores volumes de dieta líquida, os resultados dessas pesquisas são variáveis. Em alguns estudos, a alimentação intensiva de leite ou de sucedâneos, resultou em vacas mais produtivas. No entanto, outros estudos não detectaram diferenças na produção de leite, gordura e proteína, quando os bezerros receberam maiores volumes ou maior densidade de nutrientes na dieta líquida.

Um estudo observacional em 795 bezerros Holandeses, com até 16 semanas de idade, indicou que aumentar a ingestão de matéria seca ao desaleitamento também poderia aumentar a produção de leite da primeira lactação. Embora a ingestão intensiva de dieta líquida aumente a média diária de ganho, também pode diminuir a ingestão inicial e, frequentemente, aumentar o número de dias com maior fluidez fecal. O uso de protocolos de desaleitamento pode incentivar o consumo inicial em bezerros intensamente alimentados e aliviar a perda de peso no período seguinte, mas os efeitos sobre a saúde podem ser mais complicados de resolver.

Um trabalho realizado por grupo da Pennsylvania State University (Gelsinger et al., 2016) teve como objetivo avaliar os efeitos da dieta durante o período de aleitamento (incluindo a ingestão de concentrado inicial) e a taxa de crescimento da produção de leite, gordura e proteína da primeira lactação.

Uma pesquisa bibliográfica foi conduzida usando os bancos de dados PubMed, CABI e Web of Knowledge para compilar todos os estudos publicados que relacionassem o manejo de bezerras em aleitamento com o desempenho subsequente da primeira lactação. Os estudos selecionados para inclusão foram aqueles com uma descrição adequada dos tratamentos durante o período de aleitamento, incluindo descrições completas de todos os alimentos oferecidos aos bezerros; medições individuais da ingestão para todos os alimentos e crescimento durante todo o período, além da produção de leite na primeira lactação. Um resumo dos nove estudos incluídos na análise final é apresentado na Tabela 1. As bezerras foram desmamadas com idade variando de 42 a 84 dias, com uma média de 60 dias

Tabela 1. Resumo dos estudos incluídos na análise final.

dieta de bezerras leiteiras

*clique para ampliar 
 

Dos nove estudos incluídos na análise, quatro compararam um programa de substituição de leite convencional com vários programas acelerados, dois compararam o substituto de leite com leite integral, um comparou a alimentação de diferentes volumes de leite integral e dois testaram os efeitos de suplementos dietéticos adicionados ao leite ou substituto do leite. A composição das dietas líquidas e iniciais variou entre os estudos.

A porcentagem de gordura e proteína de substituto de leite variou de 12 a 22% e 21 a 31%, respectivamente. Fontes de gordura e proteína também foram variáveis. O conteúdo de proteína bruta inicial variou de 18 a 25%. A análise descritiva dos dados (Tabela 2) mostra consumo médio de concentrado inicial de 0,45 kg MS/d e de dieta líquida 0,71 kg MS/d, o que representa em torno de 5,7L, quando se considera 12,5% de sólidos na dieta líquida.

Tabela 2. Estatística descritiva: consumo de matéria seca de dieta líquida e concentrado inicial, ganho de peso durante aleitamento, produção de leite, gordura e proteína na primeira lactação.

dieta de bezerras leiteiras

*clique para ampliar
 

A maioria das variações em cada resposta modelada foi explicada pelo estudo individualmente, sugerindo que o manejo geral da fazenda tem um efeito muito maior no desempenho da primeira lactação que a nutrição e crescimento antes do desaleitamento. Portanto, embora o aumento da ingestão de dieta líquida e concentrado inicial antes do desaleitamento possa melhorar o manejo pós-desmame, sua influência em relação a outras práticas de manejo é muito pequena e os coeficientes exatos aqui relatados devem ser aplicados com cautela. O modelo que incluiu o efeito do estudo e do consumo de dieta líquida e dieta sólida explicou a maior parte da variação de cada resposta.

Os modelos incluindo estudo e consumo de dieta líquida ou consumo de dieta sólida foram equivalentes em predizer a produção de leite, gordura e proteína na primeira lactação, mas suas direções forma opostas. Isso ocorre por que existe uma correlação negativa entre o consumo de leite e o consumo de dieta líquida (r = −0.82; Figura 1), devido a limitada capacidade de consumo de matéria seca diária. Essa relação é evidente quando o consumo de dieta líquida foi maior que 0,8 kg/d. O consumo de matéria seca de concentrado foi mais variável quando o consumo de dieta líquida foi menor que 0,8 kg/d. Esse aumento na variabilidade pode ser devido à palatabilidade ou digestibilidade dos concentrados fornecidos ou pelo consumo de algum ingrediente específico. Os efeitos do tipo de grão, do processamento, tamanho de partícula, assim como a suplementação de forragens já foram bastante estudados.

Figura 1. Relação (r = −0.82; Y = −0.66X + 0.92) entre o consumo voluntário de concentrado e o consumo de dieta líquida fornecida.

dieta de bezerras leiteiras


A modelagem dos dados incluindo o efeito do estudo e do consumo de dieta líquida na produção de leite prediz aumentos de 66,2L para cada 100 g/d de consumo de dieta líquida (MS). Estes dados são semelhantes aos dados de outra meta-análises do grupo da Universidade de Cornell que mostra aumentos de 42,9kg para aumentos de 100g de consumo de dieta líquida. Por outro lado, quando o modelo incluiu o efeito do estudo e o consumo de concentrado, a predição foi de redução de 50,4L na primeira lactação para cada 100g/d de aumento no consumo de concentrado.

Outros trabalhos haviam demonstrado o efeito positivo do consumo de concentrado ao desaleitamento na produção de leite. Este consumo permite que o animal mantenha suas adequadas taxas de crescimento após o desaleitamento, garantindo também o desempenho na lactação. É possível supor assim que a relação negativa entre o consumo de concentrado e a produção de leite na primeira lactação indica o efeito negativo da limitada disponibilidade de nutrientes para o máximo desenvolvimento do animal. Também ocorre como consequência da correlação negativa entre consumo da dieta líquida e do concentrado.

A importância do consumo de concentrado fica mais clara quando o modelo incluiu os efeitos do estudo e dos consumos tanto da dieta líquida quanto da dieta sólida. Neste modelo, a predição foi de 138,5L a mais. Bezerras que consomem pelo menos 100g de concentrado além de sua dieta líquida podem produzir 127L a mais de leite, em comparação com aquelas que não consumiram concentrado antes do desaleitamento. Estes dados mostram a importância dos dois tipos de alimentos, a dieta líquida atendendo a maior parte da exigência do animal; enquanto a dieta sólida tem papel importante no desenvolvimento do rúmen e manutenção das taxas de crescimento na fase seguinte.

O grupo de Cornell havia projetado aumento de 155L de leite para cada 100g/d adicional de aumento no ganho de peso diário. No presente estudo este aumento foi semelhante, sendo de 130,4L para cada aumento adicional de 100g/d no ganho de peso das bezerras. Nesta meta-análise, as novilhas que cresceram a taxas de 0,5 kg/d antes do desaleitamento foram as que produziram menos leite na primeira lactação.

De acordo com os dados modelados, a taxa de ganho de peso durante o aleitamento parece afetar minimamente a produção de leite quando esta é inferior a 0,5 kg/d. Por outro lado, teve maior influência à medida que a taxa de crescimento aumentou de 0,5 para 0,9 kg/dia. Isso provavelmente está relacionado ao efeito positivo da ingestão na fase de aleitamento na produção subsequente, uma vez que bezerros que consomem mais nutrientes terão um crescimento mais rápido e maior disponibilidade de nutrientes, o que pode estar relacionado ao grau de desenvolvimento mamário. Um crescimento mais rápido também pode ser indicativo da eficiência metabólica, o que implica que as bezerras metabolicamente eficientes continuam a ser metabolicamente eficientes como adultos.

A maioria (98%) da variação em todas as variáveis de resposta foi explicada pelo estudo, indicando que outros aspectos da gestão da fazenda têm maior efeito sobre o desempenho da primeira lactação do que a alteração da nutrição e crescimento durante o aleitamento.

Os modelos baseados em 21 grupos de tratamento em nove estudos relacionando nutrição e crescimento de bezerras em aleitamento com a produção de leite indicaram que a taxa de crescimento e ingestão de leite ou de substituto de leite pode aumentar os efeitos de bom manejo pós-desaleitamento, mas representam menos de 3% da variação nas respostas observadas. Embora a resposta de aumento na produção possa variar, o fornecimento de nutrientes adequados através de dieta líquida e sólida e a taxas de ganho acima de 0,5 kg/d podem melhorar o desempenho da primeira lactação de novilhas quando combinado com o manejo adequado após o desaleitamento.

Referências bibliográficas

Gelsinger, S.L., Heinrichs, A. J. Jones, C. M. 2016. A meta-analysis of the effects of preweaned calf nutrition and growth on first-lactation performance1 J. Dairy Sci. 99 :6206–6214.

Comentários

Já faz alguns anos que a pesquisa tem mostrado efeitos benéficos do fornecimento de maiores volumes de dieta líquida na produção de leite futura dos animais. Esta estratégia alimentar tem aparentemente levado a produção de bezerras com melhor eficiência metabólica, talvez por maior tamanho de órgãos internos ou pelo melhor desenvolvimento da glândula mamária. No entanto, quando o maior fornecimento de dieta líquida não é acompanhado de adequados consumos de concentrado, não tem grandes benefícios. Primeiro, porque o animal acaba sendo desaleitado sem estar pronto do ponto de vista de desenvolvimento ruminal e acaba por perder peso na fase subsequente. Segundo por que os dados mostram efeito positivo do consumo de matéria seca ao desaleitamento no aumento da produção de leite na primeira lactação. Assim, tão importante quanto o fornecimento de maiores volumes de dieta líquida, temos o consumo de concentrado.

Estratégias para aumento do consumo no final do período quando se tem aleitamento intensivo devem ser adotadas para que os efeitos sinérgicos entre o consumo de dieta líquida e sólida possam ocorrer resultando no aumento do potencial de produção. Não menos importante deve também ser a qualidade do concentrado oferecido no que diz respeito a inclusão de ingredientes que sejam digestíveis (para animais com o rúmen ainda em desenvolvimento) e também palatáveis, de forma que estimulem o consumo. Assim, nem só com dieta líquida se transforma uma bezerra em vaca mais produtiva. Há que se pensar também em adequado consumo de concentrado.

 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

GERCINO FERREIRA VIRGINIO JUNIOR

Doutorando na Esalq

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LUCAS BRANDÃO-GONÇALVES

OURO VERDE DO OESTE - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 15/01/2019

Olá professora Carla. Muito bom este artigo.
Minhas bezerras estão com ganho superior a 0.8 kg/d durante a fase de aleitamento (até os 90 dias). Gostaria de saber em momento esta taxa de ganho de peso pode ser prejudicial ao desenvolvimento do tecido secretor/glândulas mamárias desses animais.
Obrigado!
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 15/01/2019

Lucas,
Os efeitos negativos das altas taxas de ganho começam por volta dos 4 meses de idade. No entanto, pesquisas mostram que se essa alta taxa de ganho é conseguida com altas relações proteína:energia da dieta, o efeito negativo que resulta em menor potencial de produção de leite não ocorre. Estamos ansiosos aguardando as novas recomendações dessas relações na próxima publicação do NRC.
Att.,
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 31/07/2017

Vinícius,

Tenho recomendado o fornecimento de feno somente após o desaleitamento, mas deve-se fornecer concentrado adequado em fibra (entre 16 e 25% de FDN).

Quando fornecemos feno logo no início muitos bezerros deixam de consumir concentrado e isso reduz o ganho de peso pois o animal está substituindo um alimento com 22% de PB e 80% de NDT por outro com 12% de PB e baixos teores de NDT. Ao mesmo tempo o bezerros precisa de fibra para evitar acidose, o que compromete seu consumo de concentrado, e para a manutenção da saúde ruminal. assim, temos que adicionar fibra ao concentrado. As fontes podem ser variadas como casquinha de soja, polpa cítrica e até mesmo o feno picado.

O desenvolvimento ruminal é dependente do concentrado devido aos produtos finais de sua fermentação. Dê uma lida neste radar: https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/animais-jovens/qualidade-e-composicao-de-alimentos-para-o-desenvolvimento-ruminal-de-bezerras-leiteiras-103020n.aspx



Abs.,

Carla  
VINÍCIUS FERNANDES CARVALHO

JATAÍ - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/07/2017

Carla qual seu ponto de vista de usar feno de tifton na fase de aleitamento dos 30 aos 90 dias ? Isto implicará no desenvolvimento da bezerra? No desenvolvimento ruminar? Ganho de peso ? Benéfico ou maléfico ?
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/07/2017

Rogério,

podemos desaleitar os animais bem cedo, como você está propondo, desde que este animal tenha consumo adequado de concentrado que resulte em desenvolvimento ruminal. No entanto, as taxas de crescimento vão ser muito menores. O ideal é que o aleitamento seja de pelo menos 56-60 dias e o mínimo de dieta líquida que podemos fornecer é de 4L/d. Lembre-se que este animal está mais preparado para digerir e absorver nutrientes da dieta líquida do que da dieta sólida.

Abs.,

Carla

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