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Adicionar água no concentrado inicial de bezerros melhora o desempenho durante o verão?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E FERNANDA LAVÍNIA MOURA SILVA

CARLA BITTAR

EM 26/09/2016

8 MIN DE LEITURA

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Durante períodos de estresse pelo calor, bezerros de raças leiteiras exibem crescimento lento e maior susceptibilidade a doenças. Esses períodos são marcados por reduzida ingestão de alimento e aumento da demanda energética para mantença acompanhada de baixa imunidade. Estudos têm mostrado uma significante diminuição do ganho médio diário (GMD) em bezerros durantes os meses de verão.

Sabe-se da importância do consumo de alimentos sólidos em dietas iniciais no desenvolvimento do rúmen, o que permite o desaleitamento precoce e manutenção de taxas de crescimento. Adicionar água a ração total é frequentemente sugerida como um método para melhorar a palatabilidade e reduzir a seleção de alimento. No entanto, a literatura não tem nenhum estudo sobre os efeitos da adição de água no concentrado inicial sobre o desempenho e comportamento dos bezerros.

O aumento no teor de umidade tem sido relatado por reduzir a poeira associada a ração total, e aumentar a palatabilidade, como resultado da melhora na textura ou diluição de sabores indesejáveis. Por outro lado, ração total com níveis de umidade mais elevados são mais suscetíveis à deterioração em condições de calor e umidade, o que pode acabar reduzindo o consumo do alimento se este não estiver com a qualidade desejada.

O estudo de Beiranvand et al. (2016) teve como objetivo determinar os efeitos da adição de água no concentrado inicial sobre o consumo, GMD, eficiência alimentar, parâmetros da fermentação ruminal, metabólitos sanguíneos, e comportamento nutricional de bezerros de raça leiteira durante os meses de verão. A temperatura do ar e a umidade relativa foram obtidos para o cálculo do índice de temperatura e umidade (ITU).

Trinta bezerros machos (3d de idade; 42,0 ± 4,2 kg de peso corporal) devidamente colostrados foram utilizados. Todos os animais foram alimentados com dietas contendo os mesmos ingredientes e composição nutricional (22,7% PB; 16,4% FDN; 3,03Mcal/EM), mas com diferentes teores de matéria seca: (1) 90% MS (dieta seca), (2) 75% MS (dieta úmida), e (3) 50% MS (dieta molhada). Os bezerros receberam leite pasteurizado (4kg/ animal/ dia) duas vezes por dia, e tiveram livre acesso à água e a ração inicial. Os animais foram desaleitados com 50 dias de vida e permaneceram no estudo até 70 dias de vida. Para calcular o consumo a oferta e as sobras foram registradas diariamente. Todos os bezerros foram pesados ao parto e subsequentemente a cada 10 dias até o final do experimento. Eficiência alimentar foi calculada, e o perímetro torácico e a largura de garupa foram registrados. No dia 70 do estudo, amostras de rúmen foram coletadas 3 horas após o fornecimento da dieta O pH ruminal foi imediatamente mensurado e uma amostra foi tomada para análise de ácidos graxos voláteis (AGV).

Taxa respiratória e temperatura retal foram mensuradas nos dias 30, 45 e 70. Dados de comportamento (alimentação, ruminação, ficar em pé, deitar, e comportamento oral não nutritivo) foram monitorados no dia 35 do estudo (durante 8 h após o fornecimento de leite da manhã) e no dia 70 (durante 8 h após o fornecimento da ração).

Como resultado, os autores observaram que a média de ITU durante o estudo foi 86, indicando maior grau de estresse pelo calor (Figura 1). Para o estudo, os valores de ITU de 78 a 79 e ≥83 foram considerados moderado e severo para o estresse de bezerros leiteiros, respectivamente. Em comparação com as vacas leiteiras, bezerros podem ser mais capazes de lidar com as temperaturas mais elevadas, devido à sua grande área de superfície em relação ao peso corporal e menor geração de calor.

Figura 1 - Médio (Med), mínimo (Min) e máximo (Max) índice de temperatura e umidade (ITU) diários durante o estudo. A linha tracejada representa ITU ≥78.

água no concentrado inicial de bezerros

Todos os bezerros permaneceram saudáveis e não apresentaram sinais da doença durante o experimento. A adição de água e consequente redução no teor de MS dos concentrados resultou em maior consumo de concentrado (P <0,01; Tabela 2; Figura 2) durante o período de aleitamento e período total, maior peso corporal ao desaleitamento (P <0,05) e peso corporal final (P <0,01).

Tabela 2 - Efeitos da dieta sobre o peso corporal, consumo de concentrado, GMD, eficiência alimentar, perímetro torácico e largura de garupa.

água no concentrado inicial de bezerros - dieta - peso corporal

Segundo os autores, o aumento do consumo de concentrado em bezerros alimentados com ração úmida e molhada pode ser devido à maior palatabilidade do concentrado com o aumento da umidade. No entanto, outros trabalhos mostram que a adição de grande quantidade de água ao alimento pode resultar no seu aquecimento horas após o fornecimento, particularmente em ambientes com temperatura elevada. Este aumento na temperatura do alimento pode ser indicativo de deterioração, podendo contribuir com a redução do consumo de MS. No presente estudo, nenhum fungo ou deterioração foi observado no alimento durante todos os meses de verão, provavelmente porque o concentrado foi preparado e fornecido a cada dia.

Figura 2 - Consumo de concentrado com diferentes teores de matéria seca por bezerros leiteiros. 

consumo de concentrado - bezerras


O GMD foi maior (P <0,01) durante os períodos de aleitamento e período total em bezerros alimentados com dieta molhada e úmida em comparação com aqueles que receberam dieta seca. Entretanto, o ganho não foi afetado pelo teor de matéria seca do concentrado durante o período pós desaleitamento. Embora tenha havido efeito no consumo e nos ganhos, o teor de matéria seca dos concentrados não teve qualquer efeito sobre a eficiência alimentar em qualquer período (Tabela 2). Os valores mais elevados de GMD observados durante a fase de aleitamento e durante todo o período experimental em bezerros alimentados com dieta úmida e molhada pode ser atribuído ao maior consumo de concentrado e melhora da uniformidade e aderência e menor sujidade do concentrado úmido.

Figura 3 - Ganho médio diário de bezerros alimentados com concentrados com diferentes teores de matéria seca.

 

 

bezerros alimentados com concentrado


O pH ruminal permaneceu inalterado à adição de água na dieta (Tabela 3). A concentração de AGV total no rúmen e a proporção molar de acetato e propionato aumentaram linearmente (P < 0,01) com o aumento de água na dieta. No presente estudo, a água foi adicionada ao concentrado com intuito unir as partículas de alimento, aumentando o consumo de concentrado, de forma a fornecer mais nutrientes para estimular a fermentação ruminal em bezerros jovens.

Tabela 3 - Efeito das diferentes dietas sobre os padrões de fermentação ruminal.

dietas e fermentação ruminal

Não foram encontradas diferenças entre os tratamentos nos tempos de alimentação, ruminação, ficar de pé, deitado, ou o comportamento oral não nutritivo (Tabela 4). O tempo de alimentação teve um efeito quadrático (P <0,05) durante o período pós desaleitamento dos bezerros, com decréscimo no tratamento com dieta úmida em comparação com os outros tratamentos. Assim, embora os animais tenham apresentado maior consumo de concentrado, gastaram menos tempo com esta atividade.

Tabela 4 - Tempo total dos diferentes comportamentos, durante 8 h de observação nos períodos pré e pós desaleitamento¹. 

bezerros - alimentação - comportamento

Não foram observadas diferenças entre os tratamentos sobre a taxa respiratória e a temperatura retal dos bezerros nos dias 30, 45 e 70 após o nascimento (Tabela 5).

Tabela 5 - Efeito de tratamentos¹ (média ± EP) sobre a glicose sanguínea, a taxa respiratória, e a temperatura retal ao pico de calor. 

tratamentos - bezerros

Como conclusão, adicionar água ao concentrado inicial aumenta o consumo, o peso corporal, e o GMD, especialmente durante as primeiras semanas de vida. A adição de água à dieta inicial também aumentou linearmente os AGV totais e as proporções molares de acetato e propionato no rúmen. No entanto, não resultou em nenhuma mudança na taxa respiratória ou na temperatura retal. Em geral, estes resultados sugerem que adicionar água, as dietas iniciais (até 50% da MS), melhora o desempenho de bezerros durante dos meses quentes do verão.

Referências bibliográficas

Beiranvand, H., M. Khani, S. Omidian, M. Ariana, R. Rezvani, and M. H. Ghaffari. 2016. Does adding water to dry calf starter improve performance during summer? Journal of Dairy Science 99(3):1903-1911.

Comentários

Muitos fatores afetam o consumo de concentrado por bezerros em aleitamento. O fator mais importante é provavelmente o volume de dieta líquida fornecida, uma vez que tem relação inversa com o consumo de alimento sólido. No entanto, mesmo em sistemas de aleitamento convencional, quando animais recebem volume restrito de dieta líquida (normalmente 4L/d), reduzido consumo de concentrado pode ser observado. Nestas situações fatores como a qualidade do concentrado, sua forma física (finamente moído), além do acesso a forragem podem ser responsáveis pelo baixo consumo de concentrado. Um outro motivo para o baixo consumo pode ser o estresse térmico, muito embora bovinos jovens sejam menos susceptíveis a este problema que adultos. O fornecimento de concentrado com maior teor de umidade pode resultar em aumento no seu consumo, permitindo que mesmo em épocas do ano com altas temperaturas os animais apresentem adequados consumos e consequentemente adequadas taxas de crescimento. Por outro lado, a adição de água ao concentrado não resultou em menor taxa respiratória o de batimento cardíaco, não sendo uma estratégia para reduzir estresse térmico dos animais. Ainda, é importante salientar que o concentrado teve água adicionada somente no momento do fornecimento, permitindo manutenção de sua qualidade durante o dia, favorecendo assim o consumo. Adequadas práticas de manejo devem ser adotadas durante o verão para maximizar o desempenho de bezerros jovens. Alojamento com ventilação adequada e acesso a sombra, além de fornecimento de água de bebida sempre fresca e de qualidade auxiliam na redução de estresse por calor. Quando a adição de água for adotada como prática para o aumento no consumo, a manutenção da qualidade do concentrado deve ser monitorada.

 

 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

FERNANDA LAVÍNIA MOURA SILVA

Doutoranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP.

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MARIA LUCIA LAUREANO

SÃO GABRIEL - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 20/12/2022

Posso colocar água na ração para o terneiro
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 28/09/2016

Rafael,

Muito obrigada! Gostei da dica!! Vou ver se encontro o livro.

Grande abraço,

Carla
RAFAEL CANONENCO DE ARAUJO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/09/2016

Carla, parabéns pela forma com que você e seu grupo transferem o conhecimento científico para o dia-a-dia do campo. Fazer esse elo de ligação é fundamental para os progressos de nosso setor produtivo. Sempre busco ler seus artigos, assim como os de seus alunos.



Quando puder, não deixe de ler "A longa marcha dos grilos canibais". O livro é exatamente sobre a tradução da linguagem científica e experimental para a cotidiana. Você vai gostar...



Abraços,



Rafael  

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