Há tempos se diz que a classificação entre leite tipo "B" e leite tipo "C" estaria em extinção. De fato, diante das atuais exigências de mercado e, com mais fazendas investindo para atender os requisitos de qualidade, essa classificação já não atenderia a realidade presente.
As exigências mudaram e o mesmo deveria ocorrer com a forma de comercialização.
Pois bem, enquanto a legislação não muda, o mercado se encarrega de apressar as mudanças. Observe a diferença, na figura 1, entre os preços do leite tipo "B" e leite tipo "C" no Estado de São Paulo. Os preços mensais estão em valores reais, considerando a inflação pelo índice IGP-DI.
Evolução dos preços do leite B e C nos últimos 10 anos - R$ deflacionados pelo IGP-DI/litro
A diferença de preços, que há 10 anos era em torno de 25% a 30% entre o leite "B" e o leite "C", hoje está por volta de 8% a 9%. Veja a diferença média em São Paulo, nos últimos 10 anos, na tabela 1.
Tabela 1: Diferença média anual entre os preços pagos pelo leite tipo B e leite tipo C, ao produtor, no Estado de São Paulo
A tendência é nítida. E mesmo as diferenças atuais estão mais relacionadas a bonificações por volume de entrega do que à tipificação do leite. Vale lembrar que as fazendas com melhores condições técnicas, e que enfrentaram os duros anos da década de 90, eram as produziam leite tipo "B".
Independente da instrução normativa 51, que estabelece padrões de qualidade para o leite produzido no país, o futuro exigirá maior atenção à qualidade do leite.
Para garantir qualidade, é essencialmente necessário que se trabalhe com conceitos de cadeia agroindustrial.
Neste contexto, a qualidade é garantida em todas as fases: insumos, produção, refrigeração, transporte, industrialização e distribuição. Espera-se, portanto, mudanças nas relações, especialmente comerciais, entre os envolvidos na cadeia agroindustrial do leite.
É por este motivo, e por esta tendência irreversível, que o pagamento por qualidade - sólidos totais, gordura e proteína - deve se estabelecer.
Atualmente se nota a diferença, a preferência da indústria por produtores que permitem reduzir o custo de produção na industrialização. Em São Paulo, por exemplo, os maiores preços pagos pelo leite tipo "C" são cerca de R$0,04/litro superiores aos preços médios do leite tipo "B". A diferença entre as maiores bonificações é de R$0,03/litro entre leite "B" e "C". Essa diferença, reitera-se, está relacionada à possibilidade de redução de custos para a indústria.
Atualmente, considerando a média, o que mais se paga na escala de preços é o volume de produção e a possibilidade de reduzir custos por unidade transportada. Pagar por qualidade é uma tendência, por que leite de melhor qualidade reduz custos de produção na indústria, além de viabilizar um "mix" melhor de produtos que são ofertados no mercado. Todos ganham.
No entanto, as mudanças sempre trazem desconforto, especialmente quando envolvem preços, receitas e formas de administrar o próprio negócio. O mercado, e as novas exigências, tendem a provocar um amadurecimento da cadeia agroindustrial. E é a velocidade com que o setor encara estas mudanças que será o diferencial competitivo do agronegócio do leite brasileiro no cenário internacional.
A boa notícia é que já existem sinais desse amadurecimento. O próprio Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite, organizado pela iniciativa privada, é uma amostra do amadurecimento.
Em recente palestra no fórum "Agronegócio lácteo: radiografia e perspectivas", organizado pela Láctea Brasil, o professor Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE), elogiou a agenda de atividades elaboradas pelo setor na conclusão do Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite. Segundo ele, o setor está deixando de teclar em algumas reivindicações antigas e protecionistas para se mobilizar em prol da construção de um mercado e da solução de problemas que reduzem a competitividade do agronegócio nacional.
É um bom começo, pois o caminho parece estar certo.