Voltando um pouco, em março, o início (efetivo pós-carnaval) das aulas retomou as vendas no atacado e varejo, melhorando o cenário abaixo da expectativa da indústria nos dois primeiros meses do ano. Com a oferta reduzindo-se entre 5 a 15%, segundo agentes de mercado consultados pelo MilkPoint, os produtores na quase totalidade do país tiveram valorização do seu leite.
O preço ao produtor em março, considerando a média nacional do Cepea-Esalq/USP, valorizou quase 3% e chegou a R$ 0,7585/litro. Esse valor deflacionado pelo IGP-DI, o que permite a comparação entre períodos, é praticamente igual a março de 2010. O custo de produção de leite, entretanto, teve significativa valorização.
Segundo o ICPLeite/Embrapa, a variação no acumulado em 12 meses foi de 14,4%, com as porções produção e compra de volumosos, sal mineral e concentrado, apresentando o maior crescimento. Mesmo com os custos em alta, nossa estimativa de Receita Menos Custos da Ração (gráfico 1), um sinalizador da rentabilidade em curto prazo, e nosso Índice de Confiança da Produção, têm indicado um cenário "complicado", mas ainda favorável à produção, o que explica uma oferta de leite acima do ano passado - acreditamos que a oferta esteja cerca de 5% acima do mesmo período do ano passado.
Gráfico 1. Receita menos custo da ração - últimos 12 meses (R$/vaca.dia, corrigidos pelo efeito da inflação)
Você concorda? Como você, produtor, classifica a situação atual e expectativa da produção de seu negócio? Participe do nosso Índice de Confiança MilkPoint - Produção de abril/11.
Aliado a um possível aumento de oferta interna, temos as importações, que nos três primeiros meses de 2011 ocasionaram um déficit equivalente a 259 milhões de litros (consideramos a quantidade de litros necessária para produzir cada quilo de determinado produto) e de US$ 111,1 milhões (tabela 1). Apesar desses valores parecerem pequenos proporcionalmente à totalidade da produção nacional, tornam-se significativos se considerarmos sua participação no crescimento do mercado. Nesse ano, as importações, segundo nossas estimativas, chegaram a representar mais de 3% do consumo, ao passo que no ano passado estavam em 1%.
Tabela 1. Volume e valor comercializado no 1º trimestre de 2011 e comparação com 2010.
Dois importantes fatores são causa e consequência, respectivamente, dessa situação da oferta.
Se 2011 tiver um comportamento parecido com 2010, o aumento da oferta interna, aliado às importações, pode colocar um teto na ascensão de preços. As vendas sugerem que esse pode ser um cenário factível.
No atacado, os preços dos queijos nessa 1ª quinzena de abril subiram um pouco, mas tem oscilado, sendo avaliados em média entre R$ 8,90 a 10,20 o quilo. O mercado de leite em pó está devagar, havendo quem reporte formação inicial de estoques. Os valores têm variado de R$ 7,60-8,90/kg.
Já o leite longa vida (UHT), que inclusive é o produto com maior correlação com os preços do leite ao produtor, está firme, apresentando vendas crescentes, ficando entre R$ 1,60 a 1,85/litro, dependendo do estado e fabricante. Mesmo assim, os agentes de mercado têm reportado dificuldade em emplacar maiores preços.
Em pesquisa realizada pelo MilkPoint no varejo de Piracicaba (SP) o resultado foi semelhante. O longa vida teve valorização de 3,2% na 1ª quinzena de abril sobre a média de março e ficou em média a R$ 2,03/litro. Esse valor é igual ao de abril de 2010, mês que atingiu seu segundo maior valor do ano (o pico foi em maio/10). Segundo agentes de mercado, tem se observado uma subida dos preços do longa vida no período de um mês, mas há preocupação de que tenham encontrado resistência para novas altas. Segundo eles, está complicado emplacar maiores preços no atacado/varejo.
Gráfico 2. Preço do leite longa vida (UHT) e dias de fabricação no varejo de Piracicaba-SP.
Se esse "entrave" nos preços de vendas, principalmente do longa vida, perdurar, estaremos observando um estreitamento da margem de lucro da indústria. Nesse cenário, um novo reajuste em abril encontraria certa "resistência" nos próximos meses, podendo estagnar ou até ser revertido, como já ocorreu em momentos como esse. Se os estoques se formarem, os supermercados demorarão a atualizar os preços, dificultando ainda mais o escoamento de produto e forçando queda ao longo da cadeia.
Porém, esse é apenas um dos cenários. No cenário mais favorável, a indústria conseguirá emplacar maiores preços no atacado e varejo, com os queijos retornando aos patamares do fim do ano anterior e o mercado de longa vida permanecendo firme. Nesse caso, os preços ao produtor se mantém em trajetória ascendente por mais tempo, gerando um estímulo de oferta para o final do ano.
O comportamento do leite spot (comercializado entre indústrias), que chegou a a 89-91 centavos/litro na 1ª quinzena de abril frente a 85-87 centavos/litro em março, sugere que talvez haja espaço para novos aumentos. Afina, esse é um indicativo de aumento da procura por leite pela indústria e sinalizador de aumento de preço ao produtor, como aconteceu no ano passado. O spot é o primeiro a sentir a temperatura do mercado, e continua aquecido.
Também, vale lembrar que a elevação dos custos de produção não deixa margem de manobra muito grande ao produtor. Isso significa que ajustes muito fortes tendem a fazer com que se pague um preço elevado mais à frente, com grande desestímulo para a oferta.
O comportamento da demanda e vendas no atacado/varejo será novamente crucial nesses próximos meses, principalmente nos próximos 30 dias. Ainda, é preciso acompanhar o comportamento das importações, que introduziram grande quantidade de leite no mercado brasileiro no primeiro trimestre. A subida nos preços internacionais poderia amenizar esse fator, mas o câmbio desfavorável e os preços mais altos do produto nacional voltaram a colocar em risco o equilíbrio da balança. Vale lembrar que Argentina e Uruguai estão verificando grandes aumentos de oferta nesse ano. E, falando de preços, após a elevação dos primeiros três meses, o leilão da Fonterra patinou, com queda total de cerca de 10% em relação ao pico. Ou seja, as importações continuam inspirando cuidados.
Por fim, a oferta: a magnitude da produção no Sul do país, que ganha força a partir de junho, bem como o comportamento da entressafra no centro-oeste e sudeste são as peças faltantes nesse difícil quebra-cabeças.