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Tecnologia e fixação do homem no campo

POR MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

PANORAMA DE MERCADO

EM 03/02/2004

8 MIN DE LEITURA

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A pecuária leiteira é uma excelente atividade para fixar o homem no campo, além de permitir produção escalonada em pequenas áreas. Esse é um fato mal interpretado por muitos economistas, técnicos e políticos no Brasil.

Interpreta-se mal porque acredita-se que produção em pequenas áreas seja sinônimo de baixa tecnologia.

Com baixa tecnologia de produção, as famílias que vivem da pecuária de leite deveriam produzir praticamente para a subsistência, seja produzindo o próprio alimento, ou obtendo renda apenas para sobreviver.

O programa Globo Rural de domingo, dia primeiro de fevereiro, mostrou algumas famílias de assentados. Como um dos poucos exemplos de sucesso havia uma produtora de leite que, pelos números apresentados no programa, "produzia" cerca de 700 a 800 litros de leite por hectare por ano, na melhor das hipóteses.

Com estes índices ninguém sobrevive. E a saída encontrada pela pequena agricultora era vender leite na rua e fazer queijos com a sobra, para depois também vendê-los na rua. Tudo apresentado como se fosse uma boa alternativa, o que não é verdade.

De um lado há um esforço conjunto, planejado e arquitetado para minimizar a participação das vendas do mercado informal, enquanto, por falta de esclarecimento, um programa de elevada influência na área urbana praticamente faz propaganda da atuação de pequenos agricultores nas vendas diretas, como opção de aumento de renda.

Na época da campanha presidencial em 2002, o próprio Lula, então candidato à presidência, discursava nos programas de rádio sobre a necessidade do pequeno produtor agregar valor, produzindo queijo e vendendo diretamente ao consumidor. Não era má fé, mas sim desconhecimento do que esta prática pode acarretar.

O mercado informal não resolve o problema dos pequenos agricultores, não gera imposto, é ineficiente no aquecimento da economia e é incapaz de apresentar, ao mercado, um produto de qualidade padronizada e garantida do ponto de vista sanitário.

Outro equívoco crônico no Brasil é acreditar que fixar o homem no campo é transformá-lo em proprietário rural. Há um enorme esforço de recursos, força humana e tempo para transformar desempregados em empresários rurais, algo difícil até para os agricultores, tanto os pequenos como os grandes.

Esse é um erro que ainda será lembrado pelas gerações futuras como o maior exemplo de desperdício e mau uso do capital público no setor rural.

Para fixar o homem no campo não é preciso, necessariamente, torná-lo um proprietário rural. Se as condições não forem favoráveis, ele continuará sendo miserável, porém dono de uma gleba. O problema principal não será resolvido.
Por outro lado, encarando que a produção leiteira dos pequenos produtores também exige tecnologia, aí sim será realmente possível criar postos de trabalho no campo. Não apenas pela possibilidade de melhores resultados, mas também pela geração de empregos.

Pois bem, aplicar tecnologia significa produzir mais pela mesma unidade de bem de produção, ou bem de capital. No caso, o principal bem de produção da agropecuária é a terra. Sendo assim, deve-se objetivar o maior nível de produção por hectare.

Na tabela 1 estão expostos os resumos de alguns índices estimados para o aumento de tecnologia numa propriedade com 60 ha de área para a atividade leiteira.

Os valores foram obtidos mediante índices reais encontrados em propriedades de leite analisadas ao longo dos últimos anos. Os valores foram extrapolados para a área de 60 ha e os preços de mercado foram atualizados para o ano de 2003.
 


Na baixa tecnologia, considerada no exemplo, a produção em litros de leite por hectare por ano é 2,6 vezes maior que a média estimada no Brasil, e 3,3 vezes maior que o exemplo publicado no programa Globo Rural do domingo, dia 1 de fevereiro. Portanto, a baixa tecnologia deste exemplo já é consideravelmente superior ao que se observa na grande média da pecuária leiteira do país.
A produção anual de leite passa de 2,6 mil litros por hectare, na baixa tecnologia, para 25 mil litros na alta tecnologia.

Porém, o aumento tecnológico pressupõe aumento de eficiência na utilização da mão-de-obra. Observe que o volume de leite por pessoa ocupada sai de 130 litros por dia na baixa tecnologia para os 315 litros na situação de alta tecnologia. Cada pessoa ocupada nas empresas de alta tecnologia produz 137% a mais que as pessoas ocupadas nas empresas de baixa tecnologia.

Sendo assim, pode-se concluir que o preço a ser pago com a tecnificação seria o aumento do desemprego? De forma alguma. Observe na figura 1, o número de postos de ocupação criados, para a mesma área, nos três níveis de tecnologia simulados no estudo.

 


Apesar da alta tecnologia aumentar em 137% a eficiência de cada funcionário empregado na atividade, o número de empregos gerados na mesma área, de acordo com a simulação, será 330% maior, passando de apenas 3 postos de trabalho para produzir 400 litros por dia, para 13 pessoas para produzir 4 mil litros por dia, uma produção 10 vezes superior nos 60 hectares considerados.
Aumentando a geração de empregos na mesma área, aumenta-se também a quantidade de salários, encargos e serviços pagos mensalmente para cada hectare envolvido na produção leiteira. Observe, na figura 2, a eficiência de cada hectare na baixa, média e alta tecnologia na geração de recursos em forma de salários para cada unidade de produção.

 


Cada hectare em alta tecnologia demandará 477% mais salários e serviços do que o mesmo hectare numa produção de baixa tecnologia.

Essa é a definição de tecnologia: mais produção, mais riqueza, mais postos de trabalho, pela mesma unidade de recursos disponíveis.

Esse processo é mais justo do ponto de vista social, pois os postos de trabalho criados no campo serão de maior qualidade, com segurança para os trabalhadores e garantia de renda fixa sem assumir os riscos da agricultura.

Para quem tem pouca escala de produção e poucos recursos, qual a probabilidade de se recuperar de uma quebra de safra?

Também é mais ecológico, à medida que cada hectare em alta tecnologia produz 10 vezes mais que o mesmo hectare em baixa tecnologia. Grosso modo, considerando uma demanda estável de leite, cada hectare em alta tecnologia evita a utilização de outros 9 hectares em regiões de baixa tecnologia. Quer característica mais ecológica que esta?

Porém, para que este processo ocorra são necessários dois fatores: informação para o produtor e resultados econômicos.

Informação para saber o quê e como fazer, sem investir em bens de produção desnecessários.

Resultados econômicos porque só há investimento em tecnologia e aumento de produção se houver perspectivas de bons resultados, ou seja, se houver condições de concretizar o lucro.

Em 2003, por exemplo, os produtores com maior nível de tecnologia conseguiram finalmente sair do vermelho, entrando em situações de lucro operacional. Quanto mais enxuta a empresa, melhores foram os resultados em 2003, depois de anos de sucateamento dos bens de produção na maior parte das empresas leiteiras.

Não foram os resultados semelhantes aos obtidos na agricultura, mas em muitos casos foi possível reinvestir na atividade.

Para 2004 as perspectivas eram boas. Até dezembro esperava-se um ano de melhores resultados quando comparados a 2003, porém o cenário foi todo alterado com a crise da Parmalat. Ainda é preciso avaliar o comportamento dos preços neste início de ano para traçar um cenário mais abrangente para o mercado lácteo de 2004.

O comportamento dos preços é tão importante ao produtor pelo fato do leite ser um produto de baixo valor unitário e altamente exigente em escala. Oscilações de 5% a 10% nos valores pagos fazem grandes diferenças para os empresários rurais. Observe, na figura 3, o comportamento dos preços do leite nos últimos cinco anos, em reais nominais e reais deflacionados pelo IGP-DI.

 


Em valores reais, os preços do leite vêm caindo ano a ano e os custos de produção não têm se comportado proporcionalmente.

Em 1996 admitia-se custos de produção de leite em torno de R$0,30/litro. Ainda hoje, fala-se em custos de produção em torno destes valores.

De lá para cá, a inflação acompanhada pelo IGP-DI foi de 121,8%. Se o custo tivesse acompanhado os índices do IGP-DI, aqueles valores de R$0,30/litro representariam hoje R$0,67/litro.

Em média, os custos operacionais de 2003 ficaram em torno de R$0,54/litro em situações analisadas pela Scot Consultoria, embora estatisticamente estas empresas sejam pouco representativas dentro da realidade da atividade leiteira.

O custo de produção da atividade e, portanto, os preços a partir dos quais a remuneram são aqueles que permitem que os produtores invistam em tecnologia, gerem empregos e controlem melhor a qualidade do produto oferecido ao mercado.

Com remunerações abaixo dos custos de produção, a atividade leiteira continuará crescendo sem tecnologia, visando cobrir, temporariamente, problemas sociais. Ou seja, será um setor que não se desenvolverá.
No entanto, preços são dependentes de mercado. Cabe à iniciativa privada planejar estratégias de marketing, conscientização e ampliação de mercado.
Para o setor público resta elaborar políticas que favoreçam a iniciativa privada, controlar práticas desleais de mercado ("dumping", oligopsônios e oligopólios) e, dentro de suas possibilidades, criar ferramentas para aumentar a demanda. Ainda hoje, por exemplo, existem prefeituras usando leite importado em programas sociais.

O pequeno produtor de leite é viável. Dentro dos índices apresentados, com tecnologia, a produção em uma empresa de 20 hectares poderia atingir 1,3 mil litros de leite por dia, ou 500 mil litros de leite por ano. Porém, pequenos, médios e grandes produtores de leite estão descapitalizados para investir.
Sem capital, o processo de tecnificação é lento e sujeito às adversidades de mercado, como a atual, que é vivida pelo setor, deflagrada pela crise mundial de uma empresa que atua no país.

Política favorável para o setor leiteiro não é subsídio e nem tabelamento de preços, mas sim condições que permitam ao setor se desenvolver tecnologicamente e não ficar tão indefeso frente a especulações de mercado.
É bom nem começar a falar de cooperativismo, senão vamos longe...

MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

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