Ainda na primeira quinzena de maio, informações sobre queda nos preços no mercado "spot" começaram a surgir. Queda no mercado "spot" preocupa especialmente as cooperativas e empresas menores que dependem deste mercado.
Observe o comportamento, em reais nominais, do mercado "spot" nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás.
Em maio, os preços do leite "spot" recuaram 2,4%. No entanto, não se trata de um recuo no mercado. Até o presente momento, o que ocorreu foi que as indústrias compradoras não aceitaram integralmente o repasse de 8% nos preços do leite, que as empresas fornecedoras passaram a pedir em abril.
Comparando os preços de maio em relação a março, os valores negociados no mercado "spot" são 5,38% superiores.
No mesmo período, considerando os meses de pagamento do leite, os preços do leite ao produtor, na média nacional, aumentaram 4,75%.
Portanto, esse recuo nas cotações do mercado "spot" ainda não representa indício de virada no mercado. Por ora, não é preocupante.
O que mais preocupa no momento é o comportamento no mercado ao consumidor. De março a maio, os preços do longa vida aumentaram 1,7%. Embora tenha sido registrado um aumento médio de 8% no mês de fevereiro, os preços ainda estão baixos à indústria. O mesmo acontece com outros produtos lácteos.
A cotação do dólar, a mais baixa desde maio de 2002, coloca os atuais preços do leite ao produtor nos patamares mais altos dos últimos 7 anos. Atualmente, considerando o câmbio do final de maio, o leite brasileiro vale, em média, US$ 0,24/litro.
Preço em dólar alto não implica em boas condições aos produtores. Em valores reais, corridos pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), os preços atuais são apenas 3,5% acima dos preços médios para o mês de abril nos últimos 7 anos, e 1,2% inferiores aos preços médios do período de entressafra de 2004.
O câmbio atual, isso vale para todos os produtos, desfavorece a agropecuária brasileira. Mesmo assim, é válido lembrar que dentre as diversas atividades agropecuárias, o produtor de leite é, atualmente, um dos que menos tem por reclamar.
Diversos setores da economia costumam "ler" como exagero a relação da agropecuária com o câmbio. Porém, vale lembrar que a "danada" flutuação do dólar, segundo explicação do Ministro Antônio Palocci, pode trazer tempestades para dentro das fazendas.
O planejamento operacional da produção rural, e a maior parte dos desembolsos, ocorrem durante os meses de chuva: plantio, adubações, ensilagens, coberturas, tratos culturais, etc. Neste período, o câmbio médio, cotação do dólar comercial venda, ficou em torno de R$2,825/US$. Atualmente, o câmbio é 15,22% inferior a esta cotação. Custos altos e preços baixos; esses são os motivos do desânimo que caracterizou os últimos encontros do agronegócio, como a feira Agrishow de Ribeirão Preto (SP), por exemplo.
A valorização da moeda brasileira já refletiu na economia. Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), os preços de eletrônicos e equipamentos de telecomunicações reduziram-se 15,65% em um mês, de abril a maio. O mesmo deve acontecer com os demais eletrodomésticos e, conseqüentemente, com os alimentos.
A política de alta de juros do Governo traz os resultados esperados: queda na inflação, valorização do salário mínimo em dólares, enfim, sensação de que tudo vai bem na economia.
É um filme que já passou e, provavelmente o final será o mesmo.
Além da pressão da economia, a agropecuária enfrenta a provável mudança na balança comercial e o varejo, que mantém margens elevadíssimas de preços na comercialização de alimentos. O setor produtivo não fica com o dinheiro e não há espaço para reajustes.
Observe o comentário da médica veterinária Gabriela O. Tonini na última edição de A Nata do Leite: "As vendas seguem fracas. E a tendência é que o consumo permaneça inibido no curto prazo. Mesmo com o aumento do PIB brasileiro, e o salário mínimo acima de US$100,00, o consumidor não aceitou repasse nos preços. Na verdade, o preço do leite é baixo ao produtor, baixo à indústria e é alto para o consumidor. Onde está a "mágica" neste cálculo? Está nas margens do varejo. A mussarela, por exemplo, sai da indústria a um preço e chega ao consumidor 80% mais caro."
É preocupante!
O fato é que no curto prazo, a produção leiteira sofrerá maior pressão baixista nos preços. Não é de se admirar que o setor assista uma antecipação dos preços de entressafra.
E também não é de se duvidar que a produção rural amargue um câmbio mais elevado no segundo semestre, novamente no mesmo período que os produtores concentram a maior parte dos desembolsos.
Para o pagamento de junho, produção de maio, os preços tendem a sofrer um leve reajuste, não indicando tendência de alta. O cenário atual é mais para estabilidade nos preços do leite.