Nos meses de fevereiro e março começaram a circular notícias de que em 2004 não haveria espaços para altas nos preços do leite.
Diversas foram as justificativas para sustentar tal afirmação, porém a principal era o comportamento do mercado consumidor.
Realmente, o consumo de produtos lácteos retraiu-se em 2003, o que contribuiu para a queda nos preços a patamares inferiores dos que eram esperados até meados daquele ano. Em 2003 a renda média do trabalhador caiu quase 13%, reduzindo o poder de compra.
Como sempre é esperado para o início do ano, a expectativa girava em torno da recuperação do mercado do longa vida no atacado, produto cujo comportamento baliza as tendências de preços no setor.
Em fevereiro último, nesse mesmo espaço, o artigo "Para onde o mercado aponta" abordava as diferenças de preços do longa vida no atacado entre os meses de abril e janeiro nos últimos anos. Observe, na tabela 1, os mesmos diferenciais de preços nos anos anteriores, porém incluindo o mercado de 2004.
Veja que os preços do longa valorizaram-se, como normalmente ocorre, nos primeiros meses do ano. Em 2004, o valor do mercado de abril foi 15,21% acima do mercado de janeiro. Em reais, a diferença é de quinze centavos por litro.
O aparente aquecimento no mercado, aliado à entrada do período de entressafra, provocou maior concorrência pela compra do leite dos produtores.
Os preços pagos pela produção de março aumentaram cerca de 5,96% na média do país. O mercado "spot", leite negociado entre as empresas, valorizou-se 16% no mês de abril, quando comparado a março. Observe, na figura 1, o comportamento do mercado "spot" nos Estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Os valores atuais se equiparam ao mercado de abril de 2003.
Esse cenário levou os compradores e produtores a acreditarem em novos aumentos nos preços, reduzindo as dúvidas com relação ao comportamento do mercado para 2004.
Na figura 2 estão as opiniões de todos os entrevistados em abril com relação aos preços para os próximos dois meses.
Havia meses que não era registrado nenhuma resposta indicando tendência de queda nos preços. É praticamente consenso que o preço do leite deve aumentar ainda mais.
Os preços do leite, portanto, devem se manter firmes e em alta ao longo dos próximos 3 meses. Pelo menos, é o que o cenário atual indica.
O que preocupa atualmente são os valores, considerados elevados, para o longa vida no mercado varejista. Há quem acredite na possibilidade de retração no curto prazo; meados de maio.
No entanto, observe na figura 3 os preços, em reais nominais, do longa vida no atacado e no varejo nos anos de 2003 e 2004.
A diferença entre os preços do varejo e do atacado é atualmente de 13,3%, cerca de um ponto porcentual abaixo da média do período de um ano, que é de 14,5%.
Observe que os preços, comparados com o período anterior, não são tão elevados. Porém vale ressaltar que altas repentinas nos preços costumam inibir o consumo.
Se os valores do litro de leite no varejo tivessem acompanhado a inflação, pelo IGP-DI, o consumidor estaria pagando, atualmente, cerca de R$ 1,415/litro de leite longa vida, exatamente o preço médio observado para o final de abril. E observe que essa média foi levantada num período de crise, queda do poder aquisitivo e redução no consumo.
Não há dúvidas que o varejo pressionará a indústria, almejando redução nas cotações. Porém o comportamento mais lógico é que o mercado se mantenha firme, tanto no atacado como ao produtor.
Vale lembrar que ao longo de 2002 e 2003 foram várias tentativas, por parte do varejo, de pressionar os preços dos produtos lácteos. A maioria, pela realidade da época, não obteve êxito.