ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Qual o tamanho da crise?

POR PAULO DO CARMO MARTINS

PANORAMA DE MERCADO

EM 29/07/2005

7 MIN DE LEITURA

4
0

Não há dúvida. Com atraso em relação aos demais setores do agronegócio brasileiro, o setor de leite e derivados está iniciando processo de reversão de expectativas. Mas, qual o tamanho dessa crise? Quanto tempo irá durar? Como sair dela?

Entre 18 e 22 de julho, a Epamig realizou em Juiz de Fora - MG, o Congresso Brasileiro de Laticínios, a Exposição de produtos lácteos e a Exposição de máquinas, equipamentos e ingredientes utilizados na produção de derivados. Mais de cem expositores, de diferentes países, e uma dezena de belos trabalhos científicos. Ao mesmo tempo, já em Viçosa - MG, foi realizada a 76ª. Semana do Fazendeiro, pela Universidade Federal, tendo no leite uma grande referência. E, além disso, entre 21 e 23 do mesmo mês, ocorreu o 7º. Interleite, realizado pelo MilkPoint. Um sucesso!

Na última semana de julho ocorreram dois eventos científicos de grande relevância e peso, em que o leite esteve em evidência: Congresso Brasileiro de Zootecnia, em Goiânia - GO, e o Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, em Ribeirão Preto - SP. Teve, ainda, a Expomilk, em São Paulo - SP (26 a 30). Seguramente, outros eventos de menor vulto ocorreram por todo o Brasil. Somente a Embrapa Gado de Leite fechou o mês de julho com 19 cursos exclusivamente focando a IN 51.

Os fatos mostram o dinamismo do setor e a busca por conhecimento técnico e por caminhos que melhorem a organização da cadeia produtiva mais complexa e mais importante do agronegócio brasileiro.

Durante o 7º. Interleite, a OCB/CBCL reuniu mais de 60 dirigentes de cooperativas de leite e inovou, convidando um dos grandes especialistas em economia brasileira, o Prof. Gesner Oliveira. Bela, lúcida e oportuna apresentação. Em síntese, o Prof. Gesner entende que a economia ainda não se contaminou pela crise política, mas o Produto Interno Bruto, que mede o comportamento da economia, deverá se desaquecer, pois crescerá 0,8% entre julho e setembro, e somente 0,5% entre outubro e dezembro. Portanto, o crescimento do ano de 2005 deverá ser creditado, em grande parte, ao crescimento do primeiro semestre, e não deste que estamos iniciando. Os sinais de desaceleração da economia podem ser sentidos no Índice de Preços ao Consumidor, que registrou variação (inflação) zero em junho. Entre janeiro e dezembro de 2005, o Prof. Gesner prevê que a economia mundial, mais uma vez, crescerá mais que a economia brasileira. Prevê, ainda, um câmbio de R$ 2,55 por dólar em dezembro, e a taxa de juros (Selic) em 18%. Se confirmadas as previsões do emérito professor e experiente consultor, que reflexos deveremos ter no setor de leite e derivados?

Nunca deve ser esquecido e deixado de ser insistentemente falado, que grande parte do cenário de crise da economia se deve à taxa de juros elevada, adotada pelo Banco Central. Com juros estratosféricos, entra dinheiro especulativo no Brasil, aumentando a oferta de dólares. Como a taxa de juros é o "preço" da moeda nacional frente ao dólar, vale a lei da oferta e da demanda. Se o Banco Central reduz a emissão e circulação de Reais e há mais dólares disponíveis, o Real fica caro frente ao dólar.

Os motivos da crise no leite são claros. A produção cresceu, em função dos preços recebidos pelos produtores, que estiveram atrativos entre julho de 2004 e junho de 2005. Com remuneração melhor, há um natural estímulo para que o produtor adote práticas que melhorem o desempenho técnico de seu rebanho. Mas, isso não explica tudo. Havia também uma forte expectativa favorável no setor, frente às novas fábricas. E expectativa favorável é algo relevante. Se todos imaginam que o futuro será melhor, agimos investindo na atividade e o resultado aparece meses depois. Além disso, como outros setores do agronegócio demonstravam dificuldades de se manterem atrativos desde o ano passado, houve migração para a atividade leiteira. O resultado é esse: oferta maior de leite.

Não haveria problema na elevação da oferta, se a demanda também crescesse na mesma proporção. Ocorre que crescimento de demanda depende de crescimento da renda, que depende de crescimento da economia. Com economia crescendo, crescem os salários e cresce a massa salarial. Os salários crescem e ficam acima da inflação, porquê há demanda maior por trabalhadores. Já a massa salarial cresce, pois há mais pessoas trabalhando. O problema é que isso ocorreu no primeiro semestre em proporção menor que o crescimento da oferta de leite. Logo, o mercado passou a ser ofertador de leite. Haveria uma forma de contornar esse problema, via exportação. Mas, estas, ficam comprometidas com o câmbio atual.

Seria possível prever esta crise, se tivéssemos dois indicadores de mercado, ainda que bimestrais: um indicador de vendas e outro indicador de estoques. Se as empresas de laticínios se dispusessem a informar para uma entidade idônea, como a Embrapa, a variação das vendas dos principais produtos e a variação dos estoques, seguramente iríamos nos antecipar aos problemas e correções seriam feitas, antes da crise se instalar. Mas não temos estes indicadores e eu pretendo voltar nesse assunto em próximo artigo.

Ainda é cedo para afirmar, com segurança, qual é o tamanho da crise. Portanto, compensa exercitar sobre dois cenários possíveis. No primeiro, suponha que a economia não irá se contaminar e manterá juros elevados e câmbio caminhando para R$ 2,55, como prevê o Prof. Gesner. Nesse caso, caminhamos para o período de safra com um excesso de oferta de leite. No segundo cenário, que qualquer agente racional não quer que se realize, a economia se contamina e o Governo é deposto. Nesse caso, provavelmente o câmbio caminhará para R$ 3,00 ou mais. Isso é bom para as exportações, mas não há garantia de tranqüilidade para o setor, pois a turbulência poderia traduzir em inflação, que é mais danosa para o consumo de leite que juros e câmbio desfavoráveis.

Portanto, não é possível imaginar que a crise do setor possa ser resolvida fora do próprio setor. A ajuda não virá de fora. Será necessário cortar na própria carne. Qual o melhor caminho?

O setor aproxima-se do que chamamos, em economia, de mercado de competição pura. Neste modelo, o produtor pergunta ao mercado quanto querem pagar pelo seu produto. Por ser atomizado, é impossível uma ação sincronizada para reduzir oferta, como fazem as montadoras de veículos. Seria o mesmo que se tentar promover, como foi tentada, uma campanha de boicote contra um refrigerante e uma rede de fast food multinacionais, em protesto contra a invasão do Iraque. A chance de sucesso na sincronia, na ação orquestrada, é zero. Mas, a oferta, necessariamente irá cair, mesmo que nada seja feito, pois os produtores são racionais. Irão buscar reduzir custos de produção, já que os preços apresentam queda. Como a atividade leiteira tem pouca margem de manobra, no curto prazo, o principal caminho que o produtor tem é reduzir custos via alimentação.

Então, o espaço útil para atuação de lideranças e de técnicos do setor é informar aos produtores quanto a esta crise e induzi-los a adiar investimentos e orientá-los a adotar alimentação mais barata em seus diferentes sistemas de produção. Mas, de modo seletivo, até que a crise passe. Sem informação, vira estouro da boiada e todos perdem no médio prazo, inclusive o consumidor, pois faltará leite lá na frente.

Atuar de modo a orientar os produtores é algo possível para lideranças nacionais, que vêm demonstrando continua maturidade no trato de crises. Vejam o desempenho da CNA em relação à pressão para o adiamento da IN 51. Não afrouxou, nem foi para o confronto. Com isso, viabilizou a passagem do primeiro mês da implantação da IN 51, inviabilizando o conflito esperado e almejado por muitos. Contudo, é necessária a atuação orientadora dos técnicos, que terão que lembrar que a sua função não é e nunca foi levar o produtor a produzir mais leite. Produção é meio, não fim em si. Sua função é fazer o produtor ganhar mais dinheiro e, com mercado saturado, o melhor caminho para se atingir esse objetivo, não é estimulando o aumento de produção.

Há ainda dois caminhos importantes, que demandam articulação. O primeiro é aproveitar que a Câmara dos Deputados está discutindo Medida Provisória que reduz impostos, a chamada MP do Bem. Ali há espaço para reduzir custos dos produtos lácteos e, conseqüentemente, estimular consumo interno e as exportações. O segundo, é negociar a criação de crédito brasileiro para financiar importações de países pobres.

Enfim, o tamanho da crise dependerá do nível de informação e orientação que os produtores vierem a ter. Com mais e melhores informações, menos ações oportunistas ocorrerão. Cada crise ensina um pouco aos agentes. E estes aprenderam muito com a crise do apagão. Portanto, partilho a opinião que a crise é menor que se anuncia. Os produtores, na média, saberão adiar investimentos e reduzir custos, mesmo que com inegável perda de receita nos próximos meses. Mas sairão mais fortalecidos daqui a alguns meses. Há luz no fundo do túnel, e não é explosão de bomba terrorista...
 

 

4

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

CATIA ANDREIA PASQUALI PERINI

CAXIAS DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/10/2005

Olá.



Como sempre a corda arrebenta no lado mais fraco. O preço do leite caiu muito para o produtor, mas não reduziu na mesma proporção o preço no supermercado. Isto significa dizer que os laticínios continuam ganhando e que para a indústria não há crise.



Cátia.
EDER LOPES CARDOSO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/09/2005

Redução no custo de produção: esta é uma mágica que todos nós produtores gostaríamos de aprender.



Será que as indústrias e os supermercados também se preocupam em reduzir seus custos ou é mais fácil pisar no pescoço do produtor? Falta ao produtor muito além de reduzir seu custo, pois a vida toda escutamos esta ladainha, se fortalecer como classe e forçar os demais elos da cadeia a dividir os prejuízos desta crise.
ROBERTO CUNHA FREIRE

LEOPOLDINA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 05/09/2005

Sugiro que os orgãos de classe como os sindicatos rurais, associações, Faemg, CNA e outros tantos inclusive cooperativas tendo em vista essa notícia se confirmada aproveitem e façam os seu lobbys junto a Câmara e o Senado Federal enviando e-mail para cada Deputado Federal no sentido de sensibilizá-los e ao mesmo tempo alertá-los para a situação do nossos produtores de leite e empresas que atuam no setor, pois afinal somos também um dos maiores geradores de empregos nesse país.



PAULO DE THARSO BITTENCOURT

CERQUEIRA CÉSAR - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/09/2005

Resumindo, temos uma crise porque, em função dos bons preços dos últimos dois anos, a oferta aumentou desproporcionalmente à demanda? Acho que isso está claro.



Como aumentou a oferta? Os produtores que conseguem aumentar a oferta, num curto espaço de tempo, são exatamente os ineficientes, isto é, com altos custos e modelos de exploração leiteira inadequados, aumentando o número de cabeças e a quantidade de concentrado.



Como isso se ajustará? Naturalmente, com esses produtores voltando a diminuir sua produção para minimizar seu prejuízo. O que fazer? Os produtores eficientes têm que apertar ao máximo seus custos e aguardar a normalização do mercado.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures