Os preços do leite têm subido, e tudo indica que as cotações tendem a se manter firmes e em alta ao longo da seca.
Sim, choveu até maio, o que pode dar melhores condições às pastagens. No entanto, esperar que durante a seca haja resposta em produção de leite a pasto é demais. Sem fornecimento de alimentos volumosos e concentrados, a produção de leite não aumentará no período seco. Pode até ser melhor que a do ano anterior, mas não há milagre. A oscilação da produção continua de acordo com a característica fisiológica das pastagens, ou seja, estacionalidade de produção: superior no verão agrostológico (período de outubro a março) e inferior no inverno agrostológico (período de abril a setembro), grosso modo.
A maior parte das empresas que se utilizam de suplementação volumosa na seca provavelmente mantiveram o plano de conservação de forragem, mesmo com o aumento nos preços dos insumos. Num ano com maior índice de chuva, essas empresas tendem a não passar apertadas e podem responder em produção, alimentando um maior número de vacas.
O porém fica por conta dos preços dos concentrados. Na primeira semana de maio, vários agentes do mercado de concentrados apostavam em quedas de até 20% nos preços dos alimentos ao longo do mês. Além de ser uma informação imprecisa, a queda nos preços dentro destes níveis ainda mantém a relação de troca atual em piores condições que a de um ano atrás. Lembre-se que hoje o produtor precisa de 30% a mais de leite para comprar a mesma quantidade de alimentos. A relação de troca é a moeda mais conhecida do produtor.
Colocando todos os fatores na balança, parece não haver condições de aumento significativo na oferta de leite. Aliás, pelo período que se inicia, um aumento na produção seria algo inédito. Mesmo que aumente o número de vacas parindo, de onde viriam alimentos para todas elas? A venda de leite tem que compensar a compra de alimentos.
A análise pragmática destas condições pode favorecer como contrapeso ante a possibilidade de que ocorram algumas pressões nos preços ao longo de maio e início de junho. Por mais incoerente que possa parecer, muitos entrevistados acreditam em estoques elevados de leite por parte das indústrias.
Frente a esta informação, é recomendável que o produtor se prepare para uma pressão nos preços do leite em pleno início de entressafra, algo ainda improvável, mas existem indícios que esta pressão possa ocorrer.
Portanto, há informações de que houve formação de estoques, aumento de vacas paridas e que provavelmente ainda ocorra uma pequena retração no consumo de longa vida pelo fato de aumentos significativos nos preços em curto espaço de tempo.
Em um mês, os preços no varejo aumentaram 12%. Este aumento brusco assusta o consumidor, o que deixa espaço para pressões.
Observe, na figura 1, a evolução dos preços do leite longa vida no atacado e no varejo ao longo de um ano no fechamento de abril de 2003.
As margens no varejo, sobre os preços do longa vida no atacado, foram para 16,3%, a terceira maior no período de um ano. A média de abril de 2002 a abril de 2003 é de 11%. Ou seja, os preços do varejo estão altos em relação aos preços das indústrias e dos produtores de leite.
Nos últimos anos, toda vez que ocorreu este aumento nos preços do varejo, o fato precedeu uma pressão no preço do leite, partindo do longa vida até o produtor. Vale lembrar, no entanto, que em 2002 estas pressões não surtiram efeito, haja visto as condições de escassez de oferta. A situação de hoje é praticamente a mesma, porém, informação vale ouro.
Numa época em que produtores e indústrias precisam ampliar preços para repassar custos de produção, o varejo é o que mais aumenta.
O preço de hoje ainda é ruim para o produtor, ruim para a indústria e subiu de uma vez para o consumidor. É um verdadeiro impasse, quem ri é o varejo.