De acordo com dados do Instituto FNP, o concentrado respondeu, na elaboração dos custos de produção de 2006, por 31,3% do total dos custos. Os gastos com a mão-de-obra contratada para manejo do rebanho foram responsáveis por 17,4% do total do custo e com a silagem, por 15,7%.
Tabela 1. Participação de alguns itens no custo total de produção, em porcentagem.
O milho em 2007 ficou cerca de 33,4% mais caro em relação a 2004. Nesse período, o preço da saca de 60 quilos passou da média de R$ 17,94 para R$ 20,13, segundo dados da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab). Em dezembro de 2007, a média cotada pelo produto foi de R$ 28,69/sc.
Em termos reais, considerando as médias anuais de preço do milho, houve uma queda de 1,7% entre 2004 e 2007. Porém, analisando o início e o final do período, isto é, janeiro de 2004 e dezembro de 2007, houve um aumento real de 31%.
No caso do farelo de soja, a tonelada em 2007 ficou, em média, a R$ 528,54. Deflacionando os valores dos últimos anos, a média de 2006 foi de R$ 408,55/t, a de 2005 foi de R$ 562,80/t e a de 2004 foi de R$ 786,34/t, de acordo com dados da Seab/PR. Houve, portanto, uma redução real de 32,8% entre 2004 e 2007. Porém, em dezembro do ano passado, a média cotada pelo produto foi de R$ 682,33/t.
O salário mínimo também aumentou nos últimos quatro anos. Descontando a inflação (IGP-DI), em 2004, a média de um salário foi de R$ 286,06, segundo dados do Ministério do Trabalho. Em 2005, esse valor passou para R$ 305,63, em 2006 para R$ 353,08 e em 2007 para R$ 375,00.
Outro item, o diesel, também aumentou nos últimos anos. Deflacionando os valores divulgados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a média do valor cobrado pelo litro do diesel ao consumidor foi de R$ 1,66 em 2004, R$ 1,85 em 2005, R$ 1,95 em 2006 e R$ 1,89 em 2007.
Na Tabela 2, observa-se a quantidade de litros de leite necessária para adquirir alguns insumos, como milho, farelo de soja e óleo diesel, e para pagar um salário mínimo, no caso da contratação de mão-de-obra.
Tabela 2. Quantidade de litros de leite necessária para adquirir uma saca de milho, 100 quilos de farelo de soja, um litro de óleo diesel e para pagar um salário mínimo.
Nos quatro casos citados na tabela, a relação da quantidade de leite necessária para adquirir os insumos ou o salário mínimo foi mais favorável em 2007 frente ao ano anterior. Considerando que, com exceção do óleo diesel, os outros itens estiveram mais caros em 2007, a alta do preço do leite foi o principal fator para a melhora da relação de troca nesse período.
Ressalta-se também que os aumentos de preços dos grãos ocorreram com maior intensidade nos últimos meses de 2007, e, assim, a relação de troca piorou para o produtor de leite. Em dezembro, foram necessários 42,2 litros de leite para comprar uma saca de milho, e 100,3 litros de leite para comprar 100 quilos de farelo de soja.
Para se ter uma idéia mais clara da situação da rentabilidade do produtor, foi elaborada uma relação entre os preços do leite e o custo com ração, obtendo a Receita Menos Custo de Alimentação (RMCA), deflacionada, dos últimos quatro anos. Definiu-se uma vaca produzindo 20 litros por dia, alimentada com 7 quilos de ração baseada em milho e farelo de soja (Gráfico 1). O resultado seria equivalente ao que sobra para o produtor para pagar os demais custos e obter lucro.
Gráfico 1. Variação da Receita Menos o Custo de Alimentação, em reais por vaca/dia, deflacionada pelo IGP-DI.
Em 2004, a média da RCMA foi de R$ 8,67 por vaca/dia, em 2005 de R$ 9,11, em 2006 de R$ 8,34 e em 2007 de R$ 10,58 por vaca/dia.
A média de preços de leite em 2007 foi 26,5% superior à de 2006, segundo dados do Cepea, descontado a inflação do período (IGP-DI). No caso do milho, a variação foi de 27,5% e do farelo de soja, de 10%, de acordo com dados da Seab/PR.
No final do ano passado, no entanto, houve um aumento da oferta de leite, com a chegada das chuvas e a entrada do período de safra, e a redução do consumo de leite UHT em função das denúncias de fraude. Desse modo, os produtores começaram a se preocupar com a queda dos valores da matéria-prima e o contínuo aumento dos preços da ração, baseados na alta de milho e farelo de soja. Em dezembro do ano passado, a RMCA foi de R$ 9,97 por vaca/dia.
Com as expectativas de que os preços de milho e soja não caiam no curto prazo, segundo especialistas, os grãos tendem a "apertar" a margem do pecuarista. Mas a boa notícia é que os preços do leite tendem a permanecer relativamente altos em 2008.
O aumento da demanda interna (devido ao aumento de renda dos consumidores) e externa (com a oferta internacional restrita e aumento da renda em países em crescimento) tendem a manter os preços do leite neste ano em patamares favoráveis. O aumento dos custos também são um indicativo de que o patamar de preços do leite tende a mudar, visto que, se a rentabilidade for insuficiente para produzir, pode haver uma redução da oferta nacional.
Os maiores investimentos das indústrias lácteas no país, com a construção de novas unidades e ampliação de algumas já existentes também indicam a intenção de aumentar a captação de leite no Brasil nesse e nos próximos anos. E a produção brasileira, para isso, deve aumentar na mesma proporção.
De qualquer forma, a queda drástica na RMCA nos últimos meses, ainda que permanecendo em patamares maiores do que 2006, preocupa, pois a conjuntura externa já não é a mesma de 6 meses atrás e os custos internos estão bem mais altos.