No início de junho, neste mesmo espaço, a Scot Consultoria chamava a atenção para a possibilidade dos preços recuarem, antecipadamente no ano de 2005. Em julho, a confirmação: a produção do mês de junho deverá valer menos quando comparada ao preço pago pela produção de maio.
Desde que a Scot Consultoria começou a acompanhar o mercado, em 1998, esta será a primeira vez que os preços recuam na produção de junho, pagamento de julho. Observe, na tabela 1, os meses em que foram registradas as primeiras quedas nos preços nos últimos 7 anos.
Tabela 1. Meses em que foram registradas as primeiras quedas nos preços do leite pagos aos produtores ano a ano
Em 2005, no entanto, os preços recuarão na produção de junho, pagamento de julho, a mais precoce chegada da "safra" dos últimos anos. Essa tendência é sustentada por 61% dos entrevistados pela Scot Consultoria, como bem lembrou a médica veterinária Cristiane de Paula Turco, no informativo "A Nata do Leite".
Em junho de 2004, não houve quem apontasse na tendência de queda nos preços do leite para o pagamento de julho daquele ano. As opiniões se dividiam em 84% apostando em novos aumentos e 16% acreditando em estabilidade. Na época, os preços subiram 5%, confirmando o que esperava a maioria.
Pois bem, em 2005 a maioria traça um cenário bem desfavorável. A queda nos preços, com base nos poucos que se arriscam a antecipar valores, poderá ficar entre 3,0% e 5,5% na média geral. Evidentemente que há de se considerar as peculiaridades regionais.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, acredita-se em quedas mais severas nos preços. Hoje os gaúchos recebem os preços mais altos pagos pelo leite nacional, o que não implica em condições mais favoráveis. Vale lembrar que passaram por uma drástica seca, que culminou na histórica quebra de safra daquele estado. E pior ainda do que a queda nos preços gaúchos estará à associação do fato com a implantação da Instrução Normativa 51.
Evidentemente, a linha de políticos que pedem pelo adiamento da implantação da instrução normativa se apoiará no mercado para pressionar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma pena para o setor! Clique aqui para ler a última notícia sobre esse tema.
Voltando ao mercado, os preços pagos em junho pela produção de maio mantiveram-se estáveis em relação ao mês anterior, o que era esperado por 68% dos entrevistados, no levantamento de maio. Observe, na tabela 2, os preços médios do leite por Estado e as variações porcentuais e monetárias dos preços pagos aos produtores brasileiros.
Tabela 2. Preços pagos em junho e variações porcentuais e monetárias do mercado de leite nos principais Estados produtores do país
Fonte: Scot Consultoria
O explica a queda nos preços?
Bom, a oferta de leite não aumentou; o período não é de safra.
Por outro lado, as vendas estão fracas. No varejo, os preços do longa vida não recuaram; permaneceram estáveis. Mas no atacado houve recuo de 5,5% em junho, quando comparados ao mercado de final de maio. Em dois meses, o preço do longa vida, à indústria, recuou cerca de R$0,10/litro em média. Ao consumidor, os preços aumentaram R$0,01/litro.
Com isso, a diferença de preços entre o varejo e o atacado atinge 21% para o leite longa vida. Juntamente com agosto de 2004, essa é maior margem do varejo, quando comparado com o atacado, em 3 anos.
No mercado "spot" já se observa o comportamento baixista. Em junho, os preços recuaram 7,3%, indicando que a baixa será repassada aos produtores. Vale lembrar que os preços aos produtores, apesar de estarem em queda, não devem cair proporcionalmente ao mercado "spot". Assim se espera.
O mercado de exportações também confirma a tendência baixista. Observe, a seguir, notícia elaborada pela equipe da Scot Consultoria, e publicada na página da empresa no dia 30 de junho.
"O principal produto lácteo nas exportações brasileiras é o leite em pó. Em 2005, o total acumulado de janeiro a maio das exportações de leite em pó, em volume, foi 56,7% maior comparado ao mesmo período de 2004. Analisando mês a mês, apenas em maio as exportações de leite em pó foram inferiores, em volume, ao igual período do ano anterior. O Brasil exportou 10,2% a menos.
Por outro lado, as importações de leite em pó, também no mesmo período, aumentaram 80%. Só em maio, quando se compara com maio de 2004, o volume de leite em pó importado foi 138% superior. "Evidente que haverá reflexos no mercado interno."
Tais reflexos estão ocorrendo, especialmente no mercado "spot". Para o próximo pagamento, em meados de julho, os preços deverão ser mais baixos. As quedas nos valores, que estão sendo esperadas, podem se estender por dois meses, parte no pagamento de julho e parte em agosto. Mais para frente, será preciso esperar pelas tendências do mercado.
Atualmente, vários são os fatores da conjuntura política e econômica que influenciam o mercado interno.
O Brasil passa por uma crise política que há muito tempo não se via. Em um cenário em que importantes políticos, especialmente aliados do governo, sugerem que o presidente da República não "ouse" tentar a reeleição, o que esperar da economia?
É preocupante; o momento exige atenção redobrada por parte de todos, principalmente dos que tiram proveito dessas situações através de especulações.
Enfim, julho chega com a notícia da precoce queda nos preços, para desânimo dos produtores. O leite vai deixando as cotações de US$ 0,24/litro e indo para US$ 0,22 a US$0,23/litro, valor que já desfavorece o produtor.
Que estranho!!!