Gráfico 1. Evolução da taxa de câmbio (R$/US$) – 2014 e 2015
Fonte: CEPEA/BACEN
A valorização da moeda americana em cerca de 27% entre as médias de 2014 e o acumulado 2015 deveriam trazer menor competitividade do produto importado em nosso mercado (e, consequentemente, maior competitividade do nosso produto no mercado internacional). Porém, com a conhecida desvalorização dos lácteos em mais que 50% nas cotações mundiais, as importações lácteas vem crescendo e as nossas exportações, caindo.
Em números de equivalente leite fresco (matéria-prima) de janeiro a maio, as importações cresceram 73% em relação ao mesmo período do ano passado e as exportações decresceram 40%. O efeito de entrar mais leite e sair menos produto traz um aumento equivalente a 2,8% de crescimento da nossa produção formal no período. Assim, se a produção local não crescer nada de janeiro a maio deste ano (os números do primeiro trimestre deste ano deverão ser divuilgados pelo IBGE no próximo dia 26), já temos 2,8% mais leite que no ano passado (observe os detalhes na figura 1)
Figura 1. Balança comercial láctea brasileira – Janeiro a Maio
Fonte: elaboração do MilkPoint Mercado, com base em dados do IBGE e do MDIC/Sistema ALICE
De fato, os efeitos do produto importado já são percebidos no mercado brasileiro. Como mostra o gráfico 2, o leite em pó trazido principalmente de Argentina e Uruguai entra, desde março deste ano, a preços mais baratos que o equivalente nacional e, hoje, é referência de fixação de negócios no mercado e faz sofrer as indústrias que atuam neste segmento.
Gráfico 2. Preços efetivos do leite em pó integral industrial importado e do equivalente nacional
Fonte: Levantemento semanal de atacado do MilkPoint Mercado e sistema ALICE
Para este mesmo caminho parece seguir a muçarela, queijo mais vendido em nosso mercado (representa cerca de 30% do mercado de queijos que, por sua vez, absorve quase 40% da produção de leite brasileira). Ainda que não se perceba movimentação significativa de preços no nosso mercado atacadista, é fato que o queijo muçarela importado entrou, no mês de maio, cerca de 30% mais barato que o equivalente nacional (observe as cotações de atacado e o preço médio do produto importado no gráfico 3).
Gráfico 3. Preços efetivos da muçarela importada e da equivalente nacional no atacado
Fonte: Levantemento semanal de atacado do MilkPoint Mercado e sistema ALICE
Mau sinal para a cadeia láctea nacional, que já enfrenta este ano uma realidade de preços reais menores que os do ano passsado. Este efeito é percebido no varejo, com preços da muçarela (gráfico 4) 8,5% menores (em termos reais, descontada a inflação!) do que no ano passado e 4,8% inferiores no caso do leite UHT.
Gráfico 4. Preços da muçarela fatiada no varejo da cidade de São Paulo
Fonte: MilkPoint Mercado, com dados da FIPE e do IEA
Além dos preços mais baixos, há também um perigoso efeito de redução dos volumes vendidos. Conforme divulgado em detalhes no MilkPoint Mercado, os volumes de vendas apurados pela Kantar Worldpanel para a cadeia láctea são, neste ano (período analisado de janeiro a março), de forma geral menores que no ano passado, com variações negativas de -6% a quase -30% nos volumes vendidos, dependendo da categoria analisada.
Do lado do produtor de leite, a situação também não está nada fácil... Os preços pagos este ano estão, também em termos reais, menores que no ano passado e, apesar das condições de preços favoráveis para a soja e o milho, o poder de compra do produtor é, até o momento, um dos piores dos últimos 5 anos (somente ganhando da situação observada em 2012, quando houve forte aumento nos preços dos grãos e uma forte baixa nos preços do leite). Como mostra o gráfico 5, com a Receita Menos Custo da Ração (RMCR), em maio o poder de compra do produtor de leite foi 12% pior que em maio de 2014.
Gráfico 5. Evolução da Receita Menos Custo da Ração (RMCR)
Fonte: elaboração de MilkPoint Mercado, com base em dados do Cepea e do Deral/Seab/Paraná
O resultado (ainda não confirmado pelas informações oficiais do IBGE) deve mostrar um crescimento bem menor da produção brasileira no primeiro semestre deste ano em relação aos 8,9% observados no primeiro semestre de 2014.
Mas, o que nos espera para o segundo semestre?
No mercado local, por conta do cenário econômico, não se espera que a demanda interna por lácteos tenha reações/crescimento muito forte, a ponto de influenciar os preços ao longo da cadeia. A tendência de redução de volumes de venda, verificada até agora, tende a seguir sendo a mesma no segundo semestre.
Ao mesmo tempo, do lado da oferta, já estamos prestes a começar a receber volumes adicionais do período de safra nos estados do sul do país (notadamente Rio Grande do Sul e Santa Catarina) que, juntamente com os volumes adicionais que vem sendo importados este ano, devem reduzir a pressão por preços no mercado, a partir de agora e durante o segundo semestre (devemos lembrar, também, que a safra do Sudeste/Centro Oeste normalmente começa a entrar no mercado a partir de outubro/novembro). Assim, espera-se que os níveis atuais de preços ao longo da cadeia não subam muito mais e comecem a ceder à medida que os volumes adicionais das safras venham entrando no mercado.
Já que as importações e a balança láctea vem tendo um papel significativo em nossa oferta interna neste ano, é relevante observar também a tendência para o mercado internacional. Existia uma perspectiva de início de recuperação dos preços internacionais a partir do início do segundo semestre, mas esta recuperação deve ser retardada para final do ano/início de 2016. Isto porque, apesar da forte redução dos preços internacionais dos derivados lácteos (e, como consequência, dos preços pagos aos produtores nos diferentes mercados), a produção de leite não teve o ajuste (queda) que se esperaria que ela tivesse neste novo patamar de preços. Isso porque os preços dos principais insumos para a produção de leite (notadamente milho e soja) também estão baixos, o que ajuda a manter certa “competitividade” do leite frente a estes insumos.
Ao mesmo tempo, do lado da demanda, os grandes importadores do mercado mundial (notadamente a China) estão bem esticados e com baixo nível de atividade (compras) no mercado internacional, o que ajuda a formar o quadro de grande oferta e demanda menor, que acaba num equilíbrio de preços mais baixos.