Os preços do leite ao produtor passaram a recuar a partir da produção de junho, pagamento de julho. Na média nacional, é a primeira vez que os preços recuam em junho nos últimos anos.
Até o pagamento de julho, o recuo nos preços foi de 4,39%. No pagamento de agosto, a tendência é de que os preços recuem outros 4,5%, totalizando uma queda próxima de 9% em dois meses, na média nacional.
Observe, na figura 1, o comportamento nominal (dinheiro pago na época) dos preços médios do leite nacional ao longo de 2005.
Os preços da produção de julho, segundo 82,35% dos entrevistados, recuam nas proporções apontadas na figura 1. Evidentemente, a pesquisa estatística, conduzida a partir de meados de agosto, há de atualizar o valor final do pagamento do mês.
No entanto, se assim se confirmar, o setor leiteiro também verá pela primeira vez, no período recente, preços de julho inferiores aos preços pagos em janeiro do mesmo ano, isso em valores nominais, ou seja, sem corrigir a inflação.
Em média, os preços de julho dos últimos anos foram R$0,08/litro acima dos preços de janeiro.
Em 2005, caso a nova queda nos preços se confirme nas proporções atuais, os preços de julho serão R$0,01/litro abaixo aos preços de janeiro. Ainda assim, os preços estarão em US$0,22/litro. E é por isso que tem "doido" falando que o produtor não pode reclamar. Em dólar está bom!!!
Evidentemente, coisa que não se deve deixar de lembrar, que o dólar não é um bom indicador da situação financeira dos produtores. Se assim for, ninguém está em crise, nem a pecuária de corte, com os piores preços de toda a história em reais corrigidos pelo IGP-DI.
Ainda com relação aos preços, algumas regiões registraram recuos mais drásticos nos valores médios pagos aos produtores, como é o caso do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso, cada qual com sua particularidade.
Das principais bacias leiteiras, a situação do Paraná e de Santa Catarina é a mais crítica, com os preços mais baixos em relação aos demais Estados que possuem produção anual acima de 1 bilhão de litros de leite. Observe os preços comparativos na figura 2.
Figura 2. Preços do leite brasileiro nas praças pecuárias pesquisadas pela Scot Consultoria e na média nacional $/ litro pela produção de junho, pagamento de julho
Pela figura 2, e pela tendência apontada pelos entrevistados, os produtores dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul devem apresentar quedas mais acentuadas no pagamento de agosto. Evidentemente que, por ora, ainda são conjecturas.
Pois bem, o quadro é adverso e muitos leitores têm nos escrito ou nos telefonado, indignados, relatando que os preços caíram ou cairão mais do que está sendo relatado. Neste caso, existem duas situações a serem analisadas.
A primeira é que a Scot Consultoria só pode divulgar os preços após a realização da pesquisa, que segue critérios estatísticos abrangendo regiões que representam mais de 95% do leite produzido no Brasil. O produtor, isoladamente, possui a informação antecipada, enquanto a análise de mercado demora cerca de 3 a 4 semanas para que seja finalizada. Vale lembrar que a indústria só informa a pesquisa depois de ter feito o pagamento, enquanto o produtor, geralmente, é informado antecipadamente sobre os preços que receberá. Por isso, geralmente o produtor está comparando o preço de um mês com a análise baseada no mês anterior.
A segunda consideração que se faz é com relação à boataria alarmista que se fixou no mercado. Há relatos de que os preços chegarão a patamares extremamente baixos, com os valores voltando a níveis nominais de 3 anos atrás.
Apesar de que nada seja impossível, ainda não há fatos no mercado que possam confirmar que esta situação realmente se estabeleça. Evidentemente, se o mercado persistir ruim, com formação de estoques, o cenário tende a piorar ainda mais.
No entanto, qualquer "carona" que empresas de pesquisa de mercado pegue em boatos, apenas contribui para piorar o cenário.
O mercado é adverso, sim! O preço "spot" já recuou consideravelmente - acima de 20% - e há possibilidade de novos recuos.
O longa vida no atacado, por outro lado, está nos piores preços quando se compara os valores em reais corrigidos pelo IGP-DI, desde janeiro de 1999.
As exportações de leite em pó, no atual câmbio e com o atual preço da matéria prima, passaram a ser desinteressante. Mesmo assim, o Brasil continua exportando; não pode parar, sob pena de perder mercados.
Portanto, analisando todo cenário, há possibilidade de que os preços caiam ainda mais, piorando a estimativa de perda de receita do produtor rural.
Porém, por ora a Scot Consultoria ainda trabalha com estimativas de perda de receita anual equivalente a R$0,02 a R$0,03/litro produzido no ano 2005. Espera-se que não seja necessário rever este cenário, pois tal perda já representa muito aos produtores.
A situação só não é pior porque o mercado de concentrados está favorecendo o pecuarista; um próprio reflexo da crise de preços da agricultura.
Porém, em meados de julho, alguns concentrados deram uma "desaparecida" do mercado, em algumas regiões. O fato se apresentava como o prenúncio de uma alta nos preços. Vale lembrar que as cotações dos concentrados, que já eram favoráveis em 2004, em 2005 estão cerca de 9% a 15% mais baixos, em média. Em relação à 2004, os proteinados reduziram cerca de 14,5%, enquanto os energéticos aumentaram 1,09%.
De fato, os preços aumentaram em agosto, mas muito pouco em relação ao que se imaginava.
Em agosto, quando comparado a junho, os preços dos alimentos proteinados estão 4,26% mais altos. Os energéticos evoluíram apenas 0,5% nos valores. Sendo assim, a situação ainda não ficou crítica em termos de preços de alimentos, apesar de que a relação de troca...
A relação de troca de alimentos concentrados adquiridos para cada litro de leite vendido, apesar de favorável em 2005, recuou 13% em agosto.
Para padronizar a relação de troca, a Scot Consultoria estimou uma formulação de dieta básica com os preços históricos dos principais concentrados demandados pela produção leiteira. Foram considerados os eventuais substitutos nas dietas tradicionais, geralmente compostos por resíduos de agroindústrias de alimentos.
Observe, na tabela 1, as relações de troca entre leite e uma formulação concentrada, desde o ano de 1998. Foram considerados os períodos de entressafra e a média anual.
Tabela 1: Relações de troca, nos períodos de entressafra e na média anual entre leite e uma formulação concentrada, desde o ano de 1998.
Fonte: Scot Consultoria
Observe que o poder de compra de concentrados, apesar de ser a mais favorável dos últimos anos, ainda é equivalente ao poder de compra de 1998 e 1999.
Para o produtor, recomenda-se para final de agosto e mês de setembro, atenção aos fatos de mercado, especialmente do longa vida, mercado "spot" e os resultados das exportações. Nos insumos, olho no comportamento dos concentrados e fertilizantes.
Se bem que, com esse desânimo, é provável que o produtor de leite pegue uma carona na redução do nível "tecnológico" de produção, que tem ocorrido nas demais atividades produtivas.
Se assim ocorrer, ele acabará se preparando menos com relação à produção de volumosos para a próxima entressafra.
Aí, a história começa tudo de novo!!!