Ao final de 2003, a expectativa de comportamento dos preços do leite aos produtores era de aumento a partir dos primeiros meses do ano. Mesmo após o estouro da crise da Parmalat, os agentes de mercado continuaram acreditando em recuperação nos preços do leite logo nos primeiro meses de 2004.
Nos levantamentos de mercado, o índice de pesquisados que acreditavam em aumento nos preços passou de 1,4% para 11,84%, indicando o início de uma tendência positiva para os preços do leite. As opiniões dos outros 88,16% dos entrevistados se dividiam igualmente entre a tendência de queda e estabilidade nos preços.
Porém, a reação nos preços ao produtor depende do mercado final, dos preços que a indústria recebe. Se o mercado reagir lentamente, os preços aos produtores também tendem a subir de maneira mais lenta.
Nos primeiros meses quatro meses do ano, no acompanhamento do mercado de 1999 a 2003, os preços do leite longa vida no atacado aumentaram, em média, R$0,15/litro ou 19,4% em valores nominais. Observe esta evolução dos preços nas tabela 1 e figura 1.
Mesmo em 2003, ano em que se registrou os aumentos menos expressivos, os preços aumentaram outros R$0,06/litro do longa vida no atacado em maio.
Para 2004, a reação nos preços também é esperada. Essa reação normalmente ocorre nos meses de fevereiro e março por ocasião do período de volta às aulas.
No entanto, em 2004 dois fatores depõem contra os patamares que os valores deverão atingir. O primeiro é com relação ao consumo final, que já vinha enfraquecido desde o segundo semestre de 2003; e o segundo se relaciona com a própria questão da Parmalat.
Enquanto o mercado se ajusta, ainda há muito leite sendo colocado no mercado a preços baixos.
Diversas indústrias, que esperavam melhores remunerações em fevereiro, anunciaram ter que praticar novas reduções nos preços do longa vida para continuar colocando produtos no mercado.
Embora este fato ainda tenha que ser confirmado pela pesquisa final, a ser completada no final de fevereiro, a presença de longa vida a preços de R$0,98/litro em diversas prateleiras de supermercados corrobora com a afirmação de que esteja ocorrendo esta pressão.
O mercado ainda está se reajustando. Se por um lado a crise da Parmalat abalou todo o cenário, por outro, o cenário, até o momento, indica que a situação se estabilizará mais cedo do que se acreditava as análises mais pessimistas.
Em valores reais, com a inflação acompanhada pelo índice IGP-DI da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os valores atuais do longa vida são os mais baixos dos últimos cinco anos.
O atual R$1,08/litro se aproxima apenas dos R$1,09/litro do longa vida registrado em dezembro de 2000, ano em que os preços do longa vida haviam "despencado" 44% de julho a dezembro. Observe a evolução dos preços, em valores reais, nos últimos cinco anos na figura 2.
Em média, no período analisado, o valor real - considerando a inflação - do longa vida no atacado foi de R$1,35/litro.
Este valor corresponde a um preço médio entre R$1,52 a R$1,59/litro ao consumidor. Se o preço do longa vida tivesse apenas acompanhado a inflação pelo IGP-DI nestes últimos anos, o preço pago pelo consumidor estaria em torno de R$1,55/litro, quase 30 centavos acima do atual preço médio do produto no varejo.