Todo produtor de leite deve ter o seu olhar em três dimensões: a sua propriedade, os mercados de insumo e de produto e o Governo. Quem se dedica somente à sua propriedade e não olha para fora dela, dificilmente terá futuro na atividade. O inverso também é verdadeiro, ou seja, é impossível ser bem sucedido na atividade sem ter olhos apurados para o que passa dentro dela. Nesse caso, como medir a eficiência da sua propriedade?
Em Janeiro deste ano travei uma instigante conversa com o Dr. Jacques Gontijo, Vice-Presidente Comercial da CCPR, quando ele me fez, como Chefe-Geral da Embrapa Gado de Leite, um desafio: encontrar indicadores que possibilitem aferir se uma propriedade apresenta desempenho eficiente. E, acredite, essa não é uma tarefa fácil. O primeiro ponto a solucionar diz respeito ao conceito. Embora bem sedimentado em termos teóricos, eficiência pode ser analisada sob a ótica econômica e técnica. O que traz conflito é que nem sempre uma propriedade leiteira tem eficiência técnica e econômica ao mesmo tempo. Eficiência técnica significa produzir o máximo possível com a melhor combinação de insumos. Já eficiência econômica significa combinar os insumos de tal forma que se obtenha o melhor retorno econômico possível.
Sou daqueles que entende ser muito importante a busca incessante e contínua pela melhoria da eficiência técnica. Mas, o objetivo mesmo, tem de ser a eficiência econômica. O pai da ciência econômica - Adam Smith, há mais de 200 anos atrás e olhando para a realidade da Escócia, cunhou uma imagem que eu considero definitiva. Para ele, um produtor de leite não levantava às 4:00 hs. da manhã, mesmo sob o rigoroso inverno escocês, simplesmente porquê queria produzir muito leite, ou muito menos porquê queria assegurar que os filhos do médico ou do alfaiate cresceriam com bochechas róseas, ao consumir leite. Para Smith, o produtor de leite escocês gostava mesmo era de si e de sua família. E, para assegurar que seus filhos iriam crescer saudáveis e de bochechas róseas é que ele se submetia ao penoso trabalho de cuidar das vacas e delas retirar o produto que lhe assegurava adquirir tudo - ou quase - necessário para o bem-estar de sua família.
Portanto, tecnologias que assegurem aumento da produção de nada adiantam se não asseguram aumento de ganhos para o produtor, ou seja, o que se deve buscar, ao fim e ao cabo, é a eficiência econômica no processo produtivo. E é isso que explica, em grande parte, porquê uma série de técnicas desenvolvidas por pesquisadores não são adotadas por produtores. Quando uma tecnologia reduz custo, reduz risco e é de manuseio compatível com as condições sócio-econômicas do produtor, esteja certo, é como aquele velho ditado popular: fogo acima e morro abaixo... ninguém segura.
Mas voltando ao assunto do desafio posto, ou seja, encontrar indicadores fáceis de serem calculados, que permitam aferir eficiência econômica na atividade leiteira. Formamos um grupo seleto, com a participação do próprio Dr. Gontijo, do renomado Prof. Sebastião Teixeira Gomes e dos pesquisadores da Embrapa Gado de Leite Luiz Carlos Takao Yamaguchi e Arieverton Fortes e eu. Ao final, esse grupo concluiu que cinco variáveis devem ser consideradas.
A primeira, inspirada no Prof. Vidal, diz respeito ao número de vacas em lactação por hectare. Essa é uma medida de eficiência técnica. Outra medida é a produção de leite anual obtida por hectare. Se um produtor tem baixos indicadores nestes dois parâmetros, dificilmente consegue ganhar dinheiro na atividade leiteira. Mas, ao obter índices técnicos próximos aos que se obtém nos institutos de pesquisa, nem sempre o produtor está ganhando dinheiro. Daí a necessidade de se considerar três outros indicadores. Esses, de caráter econômico. O primeiro é a Taxa de Remuneração do Capital. Esse é um indicador importante, pois permite aferir quanto cada Real aplicado em leite está dando de retorno. Se o retorno de uma propriedade for, por exemplo, 6% ao ano além da inflação, o melhor seria aplicar o dinheiro em uma caderneta de poupança. Tem que ser superior. O segundo indicador é o Capital Imobilizado em ativos por litro produzido. Quanto maior esse indicador, menos eficiente é a propriedade em análise. E o terceiro é o Capital de Giro em relação ao capital imobilizado na atividade.
Esses três últimos indicadores são universalmente utilizados em análise econômica. São usados no setor industrial e de serviços. E o setor lácteo estará dando mais um passo de maturidade, se passar a utilizá-los como referência. Afinal, custo de produção é profundamente importante em qualquer atividade econômica. Mas, é o básico. É como medir temperatura e pressão. Se estiver fora do padrão, é possível afirmar que o paciente está com problemas de saúde. Mas, se o resultado estiver no padrão, não é possível afirmar, categoricamente, que o paciente goza de saúde integral e terá vida longa.
Há um longo caminho a seguir no sentido de tornar conhecido e de fácil manuseio esses indicadores. É necessário estabelecer como medi-los na prática. Também é necessário definir medidas consideradas boas para cada um dos indicadores. Em linguagem sofisticada, significa estabelecer os indicadores benchmark. Um exemplo prático: se alguém está com temperatura acima de 37 graus, é mau sinal. E qual será, para leite, uma boa taxa de retorno do capital? Qual é o índice ideal em termos de capital imobilizado por litro produzido? Quantas vezes uma propriedade deve girar seu capital em relação ao seu ativo, para ser considerada eficiente? E o que dizer dos indicadores técnicos analisados em conjunto com os indicadores econômicos? A partir da definição desses parâmetros de referência, será possível indicar propriedades eficientes. E, ao conhecer os processos que essas propriedades utilizam, será possível disseminar tecnologias com maior segurança.
Esse é um caminho que Embrapa Gado de Leite e Universidade Federal de Viçosa pretendem seguir, nesse caso, por intermédio do professor Sebastião Teixeira Gomes. Iremos pesquisar propriedades. É esperar para ver, entender, crer e aplicar ao seu negócio.