Nunca é demais reconhecer que avançamos muito na organização da cadeia produtiva do leite, nestes últimos 13 anos. Isso ajuda a espantar sentimentos derrotistas, daqueles que vêem imobilismo na cadeia do leite. Mas também não podemos partir para outro extremo, ou seja, somente cultuar a reorganização em curso. É preciso estar de olho no que ainda há a fazer nesse sentido, e não é pouco.
Todo setor, quando amadurece, acompanha o comportamento de diferentes mercados que lhe afetam. Acompanha os mercados de insumos, pois isso afeta os seus custos de produção. E cada insumo tem um mercado diferente, com variáveis específicas que lhe afetam. Também acompanha o mercado de produtos, já que muitos deles concorrem com os produtos que o setor oferta. A finalidade é criar indicadores que permitam aos gestores das empresas tomarem decisões, buscando reduzir riscos.
Veja o caso do setor financeiro, mais especificamente a Bolsa de Valores. Quem atua neste mercado precisa ter noção do que ocorre no setor produtivo e na política. Mas isto não basta. Precisa acompanhar o comportamento do Índice da Bolsa - IBOVESPA, para saber se as expectativas do mercado, traduzidas no Índice, são próximas da sua. Isso tudo é necessário para decidir se compra mais ou vende as ações que ele tem, digamos, do Bradesco ou das Lojas Americanas.
Esse comportamento também está presente no setor produtivo. A siderurgia e as montadoras de automóveis, por exemplo, além de monitorar o comportamento dos mercados que lhe afetam, chegam ao requinte de contratarem consultorias de empresas especializadas em criar cenários. A Tendência é um dos vários exemplos de empresa que presta esse serviço, e que tem a sua frente o ex-ministro Maílson e o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, dentre outros. No caso do leite, temos dificuldade até para obter preços de insumos. Isso inibe um melhor conhecimento do negócio leite.
Veja os gráficos abaixo. Eles retratam comportamento de preços de 22 insumos no Estado de São Paulo, tendo como fonte primária o Instituto de Economia Agrícola. Seguindo a linha dos dois últimos artigos publicados nesta coluna, que retrataram preços recebidos por produtores de leite, onde explico procedimentos que adotei, produzi os referidos gráficos utilizando números-índices. Além de ser uma forma de melhor comparar o comportamento de preços de produtos diferentes, tem a vantagem de permitir verificar quanto, em termos percentuais, o preço de cada produto subiu ou caiu em relação à origem. A base foi novembro de 2000 (índice 100), mês a mês.
Não é pretensão deste artigo analisar os 22 gráficos e compará-los com o comportamento de preços do leite em São Paulo, que também é apresentado. Apenas como "aperitivo", veja como os preços dos diferentes farelos se comportaram. Será que foi bom negócio fornecer farelo de algodão a partir de agosto de 2002? Compare com os preços de leite. Por que o preço do farelo de soja não explodiu? Sua percepção é que explodiu? E a ração para vacas em lactação, por que não seguiu o comportamento de preços de outros insumos? E o preço do trator? Por que ficou tão mais caro? Não seria o caso de se pressionar este setor altamente concentrado? Quando o BNDES cria uma linha de crédito para trator, não cria também a possibilidade de pressionar este setor quanto a preços?
Enfim, não seria o caso de termos indicadores de monitoramento de mercado, que subsidiassem produtores, lideranças e dirigentes de empresas do agronegócio do leite, para que, de modo contínuo, pudessem acompanhar e interferir nestes mercados, ao mesmo tempo em que usufruiriam de informações para planejar, privada e individualmente, o rumo que deveria ser dado aos seus negócios?
Seqüência de gráficos sobre comportamento de preços de leite recebido por produtores e preços de insumos. São Paulo. Novembro de 2000 a novembro de 2003.