Ao longo de 2003, o Brasil dispendeu US$ 112,3 milhões com importações de produtos lácteos e exportou US$ 48,5 milhões. Portanto, os lácteos geraram um déficit de US$ 63,8 milhões na balança comercial. Até setembro deste ano, as importações foram de US$ 61,6 milhões, contra exportações de US$ 57,5 milhões. Déficit, portanto, de US$ 4,1 milhões. Em nove meses, as importações equivaleram a 54,8% das importações totais do ano passado, enquanto que as exportações este ano já são maiores em 18,5% ao que se verificou em todo o ano passado.
No artigo anterior, publicado nessa coluna, apresentei simulações feitas pela OCDE para o mercado de manteiga e queijos até 2013. O atento leitor Amauri César Pivotto, verificou que há um descompasso nos dados apresentados para 2003. A partir daquele ano as estatísticas mudaram de patamar. Procurei obter justificativas para este fato. Vasculhei o site da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico em busca de detalhes metodológicos e acionei o corpo de pesquisadores que a Embrapa mantém no Labex-Europa. Mas não foi possível juntar informações convincentes.
Esse é um motivo mais do que cabal para que o Brasil inicie urgentemente a realização de estudos visando entender o mercado internacional de lácteos e, mais ainda, é necessário que comecemos a fazer nós mesmos as previsões de comportamento de mercado. No âmbito interno, um importante passo está sendo dado pela OCB/CBCL e pelo Cepea/USP e Embrapa Gado de Leite, que começam a disponibilizar informações de mercado interno, por meio do SIMLEITE - Sistema de Monitoramento do Mercado de Lácteos Brasileiro. Enquanto não viabilizamos articulação semelhante entre o setor produtivo e a academia, resta a todos nós somente conhecer os estudos de mercado feitos no exterior.
No artigo anterior há uma tabela que lista os países que compõem a OCDE. Ao todo são trinta e correspondem a mais de 80% das exportações mundiais de lácteos. No presente artigo, apresento suas previsões até 2013. A tabela 1 retrata o comportamento esperado de Manteiga, Queijo, Leite em Pó Desnatado, Leite em Pó Integral, Soro de Leite em pó e Caseína. Como se percebe, em termos nominais, as previsões são de mercado com preços estáveis. Considerando-se uma possível inflação média acumulada até 2013 nesses países, de 10%, em termos reais os produtos deverão ter pequena queda de preços. A maior queda de preços reais deverá ser para o leite em pó. Portanto, a OCDE não está prevendo a redução de subsídios ao ponto de interferir nos preços do mercado internacional. Em seu estudo, há previsões para o comportamento de preços internos que confirmam esta afirmação.
As tabelas 2 a 4 trazem as previsões para Leite em Pó no âmbito da OCDE, nos demais países e o consolidado no mundo. No âmbito da OCDE, a produção, a importação e o consumo deverão se manter em patamares próximos aos atuais. Contudo, a previsão é que haja aumento das importações e redução dos estoques. Mas estas ainda continuarão restritas. Afinal, se confirmadas, serão apenas um terço do volume a ser exportado.
Já entre os países que não compõem a OCDE, a previsão é que a produção cresça 62% nos próximos dez anos, enquanto o consumo deverá crescer 26%, o que implicaria numa redução das importações em 9%, aproximadamente. A resultante desse comportamento deverá gerar um crescimento da produção e consumo mundiais próximos a 10%, ao final de uma década.
Nos últimos dias o debate a respeito da condução da política externa brasileira se intensificou. Há aqueles que entendem que o Brasil perde espaço ao não se alinhar com os países do primeiro mundo e não demonstrar efetivo interesse na criação da ALCA e de um mercado de livre comércio com a União Européia. Sem entrar nessa questão, o fato é que, sob a ótica do leite, parece ser promissor investir na relação Sul-Sul, ou seja, intensificar relações comercias com os países latino-americanos e africanos, já que são importadores líquidos de leite, além da China, que poderá construir sólida parceria com o Brasil, depois da vinda da missão daquele país, prevista para novembro.
Tabela 1. Previsão de preços para produtos selecionados no mercado mundial. 2004-2013. (US$/t.)
Tabela 2. Previsões para Leite em Pó Desnatado no âmbito da OCDE. 2004-2013. (mil t.)
Tabela 3. Previsões para Leite em Pó Desnatado fora da OCDE. 2004-2013. (mil t.)
Tabela 4. Previsões para Leite em Pó Desnatado para o mercado mundial. 2004-2013. (mil t.)