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O leite nas mãos de poucos

POR MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

PANORAMA DE MERCADO

EM 14/03/2003

6 MIN DE LEITURA

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A concentração do leite nas mãos de poucos compradores sempre foi pauta de discussões dentro do setor leiteiro.

De fato, grande parte da produção do mercado formal está nas mãos das 12 maiores empresas receptoras de leite no País. Portanto, justifica-se a preocupação, visto que os preços podem ser fixados de acordo com os interesses exclusivos destas empresas, o que certamente implicaria em maior pressão nos preços dos produtores.

A pressão se forma pela redução do número de compradores concorrendo pelo leite, o que tende a levar os preços até o mínimo possível.

Este fato pode ser comprovado pelo comportamento das grandes empresas de laticínios no País. Em regiões com maior número de compradores, oferecem preços mais elevados, visando estabelecer-se na concorrência e conseguir a melhor matéria-prima, com o menor custo de frete. Ao mesmo tempo, nas regiões que atuam livre de concorrentes, reduzem o preço pago ao produtor e, com isso, garantem o "mix"(*) de preços para todo o leite captado na empresa.

Outro dia, durante a realização de uma palestra de mercado para um grupo de produtores, um dos participantes questionou sobre o futuro da coleta de leite no País e as consequências com relação à concentração do volume nas mãos de poucos. Ele chamou a atenção para a concorrência de preços e para a agressividade da indústria Nestlé. Segundo ele, vários produtores estavam passando a fornecer leite para esta indústria, o que o fazia temer por um futuro monopsônio ou oligopsônio na captação do leite.

De fato, a informação confere com as últimas observações de mercado. Há muita concorrência entre os compradores e muitos produtores estão se unindo e se fortalecendo nas negociações. Em São Paulo, por exemplo, qualquer organização e maior troca de informações permite que produtores de leite tipo "C" recebam preços de leite tipo "B". Na verdade, as indústrias não estão muito preocupadas com a tipificação no momento de formar os preços.

Além do salto de qualidade da matéria-prima (muito aquém do ideal) que foi proporcionado pela coleta a granel, a maior parte das linhas de produtos com maior aceitação de mercado não exigem, em termos de fiscalização sanitária, o uso de leite tipo "B". Em São Paulo, portanto, os preços para um produtor de grande volume, nas mesmas condições de um produtor goiano, por exemplo, são superiores pois este passa a receber preços de tabela de leite tipo "B".

A preocupação levantada pelo produtor procede, pois teoricamente recebe-se preços melhores atualmente e posteriormente perde-se poder de negociação pela redução do número de compradores. Como conseqüência, pode haver a redução nos preços.

Para as indústrias pagarem mais, interessa que o leite permita redução de custos operacionais, especialmente em termos de frete e rendimento industrial. O frete está relacionado com volume de produção, enquanto o rendimento industrial relaciona-se com a qualidade do leite produzido. Atualmente privilegia-se mais o volume de produção. Por isso a concorrência de preços é bem mais acirrada para produtores, ou grupos de produtores, com volume de produção acima de 500 litros/dia. O interesse das indústrias, e as ofertas de preços, aumenta proporcionalmente ao volume de produção.

Portanto, com produtores mudando de indústria, espera-se que o quadro geral dos fornecedores das principais empresas, que concorrem pelo leite brasileiro, tenha se alterado significativamente ao longo dos últimos anos.

Observe, na figura 1, a evolução do volume médio diário entregue pelos produtores das 12 maiores empresas receptadoras de leite no País e pelos produtores da Nestlé, nos últimos 5 anos.
 

 


Vale lembrar que as 12 maiores empresas nos últimos 5 anos não são as mesmas, visto que houve alterações no ranking nacional.

Observe que a média do volume diário/produtor das maiores empresas vem aumentando anualmente. De 1997 a 2002 houve um salto na produção diária de 87 litros/produtor (médio) para 168 litros em 2002, um aumento de 93%. Já a Nestlé, que há 5 anos possuía uma média de produção diária de 110 litros/produtor, hoje conta com 567 litros diários entre a média de seus fornecedores, um aumento de cerca de 415%.

Nitidamente, pelos números, a Nestlé vem se destacando na busca de produtores que possibilitem redução de custos com fretes e, provavelmente, com o rendimento industrial, embora praticamente não se pague nada pela qualidade do leite fornecido.

Há 5 anos, a melhor média diária/ produtor era da Danone, em torno de 330litros/dia/produtor. Hoje a Danone permanece com a mesma média de volume por fornecedor.

É mais do que evidente a busca da Nestlé pela melhoria do seu quadro de fornecedores, o que tende a proporcionar maior competitividade no mercado.

Esta intensificação no aumento da coleta, e na seleção de produtores, foi também impulsionada, no último ano, pelas perspectivas de exportação para os Estados Unidos, Japão e México através da "Dairy Partners Americas" (DPA), joint venture formada com a neozelandesa Fonterra, maior exportadora mundial de lácteos, segundo reportagem de Raquel Landim (Jornal Valor Econômico do dia 12/03/2002).

Sendo assim, é possível afirmar que a coleta de leite está se concentrando ainda mais?

Não necessariamente. As mesmas fontes de dados (LEITE BRASIL, CNA/Decon, CBCL e EMBRAPA/Gado de Leite) que possibilitaram a montagem da figura 1, também apontam para uma redução da participação do volume total das 12 maiores empresas receptoras de leite no total do leite do mercado fiscalizado no Brasil.

Em 1997 as maiores (12) empresas, incluindo a Nestlé, coletaram 52% do total do leite recebido pelos estabelecimentos sob fiscalização sanitária, enquanto em 2002 este total caiu para cerca de 41,6%.

A Nestlé, maior captação de leite do País, recebia exclusivamente 25,4% do total fiscalizado em 1997 e, em 2002, o volume recebido foi de 26,7% do total recebido pelas indústrias sob fiscalização.

Desta forma, em termos de concentração da coleta de leite, o quadro praticamente não se alterou, pelo contrário, a fatia de coleta das maiores empresas até se reduziu dentro do mercado, embora tenha ocorrido o fortalecimento evidente da maior indústria atuante no mercado brasileiro.

Esta constatação não indica que não haverá concentração dos compradores no mercado. Lembre-se que as indústrias, principalmente as maiores, estão agregando os melhores e mais eficientes produtores.

Embora o cálculo desta média (volume/produtor) não represente exatamente a realidade de campo, visto que as empresas podem estar adquirindo considerável volume de leite repassado por outras indústrias, este cálculo pode ser utilizado como um índice, aliás um bom índice de eficiência industrial em termos de coleta no campo.

Num futuro bem próximo, as grandes empresas estarão em melhores condições de competitividade, mais do que já possuem atualmente. Para o produtor, as consequências tendem a ser extremamente negativas, dada a possibilidade real de aumento no desequilíbrio de forças entre os compradores.

Pode-se dizer que, em termos de competitividade, as grandes indústrias estão municiando suas armas.

* Nota: Para entender o "mix" suponha que uma empresa capte 2.000 litros/dia de um produtor pagando R$0,54/litro (valor bruto). No entanto, na mesma região, a empresa capta mais 2.000 litros/dia vindo de 12 produtores produzindo cerca de 165 litros/dia. Para estes, a empresa paga R$0,40/litro (preço bruto). Desta maneira, a indústria internaliza 4.000 litros/dia, ao custo total de R$1.880,00, o que dá R$0,47/litro, preço "mix". Imagine estes valores em escala incluindo todos os fornecedores distribuídos pelo País.

 

MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

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