Maurício Palma Nogueira
A seca, que normalmente atinge apenas a agricultura e a pecuária, tem sido severa nos últimos anos reduzindo o volume de água nos reservatórios das usinas de energia.
Por este motivo o tão falado racionamento de energia nesta entressafra. As determinações e medidas para o controle de energia ainda não estão muito claras à população. A grosso modo os programas de racionamento não irão garantir disponibilidade de energia e provavelmente acabem ocorrendo os tão temidos "apagões".
Ao contrário do que parece para a grande maioria, o "apagão" não é apenas ficar no escuro, não ver televisão, não entrar na internet, etc. Antes fosse.
O corte da energia elétrica atingirá a economia do país. Espera-se retrocesso e até mesmo desemprego com o corte de energia nas indústrias, comércios 24 horas e fazendas. Apesar das dificuldades técnicas, já apontadas pelas empresas de energia elétrica, com relação a possibilidade de seleção dos locais de corte de energia, privilegiando indústrias, hospitais, clínicas, câmaras frigorificadas e outros em detrimento das residências, esta alternativa seria a melhor opção.
Porém, se dentro da área urbana a seleção de regiões para o "apagão" é difícil, a área rural poderia ser privilegiada ficando fora do corte de energia de maneira mais fácil, dada a diferença entre as redes que carregam energia. Não separaria residências de unidades produtivas, como salas de ordenha, tanques de expansão, luminosidade de granjas, etc. No entanto, em comparação com a área urbana, o consumo residencial na zona rural tende a ser muito pequeno.
Por que este privilégio? Na ótica dos produtores de leite, a falta de energia consiste em um severo problema nas fazendas. Alguns representantes de indústria já avaliam que os cortes de energia deverão dificultar a entrada dos produtores no Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite, tendo em vista a demanda de energia elétrica que o programa exige, especialmente para o resfriamento do leite.
Por mais que não pegue os horários de trabalho, a sugestão de horários específicos para o corte em fazendas de leite pode acabar não resolvendo dado o armazenamento de leite em tanques de expansão.
O manuseio de alimentos concentrados ou outros (picadora) pode ser administrado, mas o grande problema é a ordenha e o armazenamento de leite. A ordenha pode ser resolvida com o horário de corte de energia.
Porém, o leite perdido em apenas uma noite sem energia elétrica, muito comum nos períodos de chuvas nas fazendas, pode representar de 3 a 6% da produção mensal, caso a fazenda armazene leite granelizado.
Nesta época, e com o iminente problema, cabe ao produtor buscar antecipar a solução indo atrás de geradores para os dias de cortes de energias.
No mercado existem diversos geradores e alguns ainda não aumentaram de preços, mesmo com o aumento da demanda. Porém, logo os preços deverão subir.
Para girar toda uma fazenda de porte médio, um gerador de 30 kva pode ser empregado. Porém, o produtor deve buscar comprar um gerador para a devida finalidade, dimensionado de acordo com o necessário. Em uma fazenda de leite é necessário manter a ordenha (caso seja mecânica) e manter os refrigeradores de leite. Neste caso, geradores na faixa de R$3.000,00, acionados pela TDP do trator, são mais que suficientes para manter em funcionamento a sala de ordenha e a sala de leite.
No caso de grande parte dos produtores descapitalizados, a solução pode ser um acordo entre os horários de coleta por parte dos laticínios ou fretistas independentes, visando manter o leite o menor tempo possível nas fazendas e levá-lo para as indústrias, onde fontes alternativas de energia são indispensáveis.
No entanto esta solução tende a aumentar os custos, pois fazendas onde a coleta seria realizada a cada dois dias, passariam a receber o caminhão uma vez por dia. A diferença de custo consistiria em aumento no desconto dos preços brutos para o produtor.
De qualquer forma, os cortes de energia mexerão com os bolsos dos produtores de leite, ou obrigando-os a comprar o gerador, ou reduzindo sua receita. Caso haja a possibilidade, é melhor investir na compra de um gerador para suporte, pois o problema de energia elétrica no Brasil, ainda mais no meio rural, está muito longe de ser passageiro.
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