Gráfico 1. Preços do UHT no atacado (R$/l) – valores nominais.
O UHT, portanto, caiu quase R$ 1,00/litro em 1 mês na média apurada e, há nas informações verificadas junto ao mercado, preços já chegando próximos aos R$ 2,60/litro, o que indica que esta “ladeira” ainda não acabou.
Como o UHT foi o derivado que mais “puxou” o mercado de leite fresco neste ano, os preços do leite spot – que normalmente são os que primeiro reagem – vem seguindo a mesma tendência de baixa do UHT. O gráfico 2 mostra a evolução dos valores nominais do spot (média Brasil) também apurados pelo MilkPoint Mercado.
Gráfico 2. Evolução da média Brasil de preços do leite spot (valores nominais).
Até a primeira quinzena de agosto o spot acumulou 34 centavos/litro de queda e deve acumular, no fechamento da segunda quinzena de agosto, 60 centavos/litro de redução nas cotações médias. Obviamente, aqui a queda foi maior do que esta média para aqueles “spoteiros” cujo preço chegou a R$ 2,40-2,50/litro no pico da curva – estas empresas têm hoje tido dificuldade de encaixar volumes, a qualquer preço.
Na contramão destas variações, o leite de produtores fornecido em julho (alguns pagamentos já foram feitos agora no mês de agosto) deve seguir a tendência de aumento, em função de sinalizações e “compromissos” feitos pela indústria antes da virada do mercado, o que reforça o desalinho entre expectativas de produtores e sentimento da venda de derivados da indústria e no mercado spot. De fato, com os preços pagos ao produtor em julho, a excelente relação de troca com o concentrado (apesar dos preços elevados do milho) e a sinalização de nova alta no pagamento de agosto indicam ao produtor um cenário bastante favorável (veja o gráfico 03, do indicador Receita Menos Custo de Ração, com dados deflacionados até julho/2016).
Gráfico 3. Receita Menos Custo da Ração – valores deflacionados.
Efeito do mercado internacional – a alta no leilão GDT de ontem
Ontem, 17/08, foi realizado um novo leilão da plataforma GDT (leia mais sobre os resultados). Por uma série de fatores (que poderão ser discutidos em análise específica), o preço do leite em pó integral subiu 19%, atingindo o patamar de US$ 2.700/ton. Isto indica que as importações de lácteos darão uma “aliviada” no nosso mercado, dando mais sustentação aos preços ao produtor, certo? Errado.
Apesar da subida do GDT, os preços internacionais internalizados no nosso mercado e comparados ao equivalente-leite fresco local, são extremamente competitivos! Só não importamos mais leite este ano porque Argentina e Uruguai vem tendo sérios problemas de queda em sua produção local (mais do que 14% de redução nos volumes em cada mercado). Nos atuais patamares de preços e com uma taxa de câmbio de R$ 3,2/US$, é competitivo até mesmo importar leite dos Estados Unidos, de onde paga-se 28% de alíquota de importação para entrar no mercado brasileiro (observe a simulação de preços do leite em pó integral e de taxas de câmbio para o leite vindo dos Estados Unidos na tabela 01).
Tabela 01. Cenários de importação de leite (custo equivalente leite fresco posto no Brasil. Origem: Estados Unidos).
Considerando-se que as empresas brasileiras hoje tem custo do leite fresco posto fábrica entre R$ 1,70 e R$ 1,85/litro (valor de referência julho/2016, incluindo preços ao produtor + frete e outras despesas), até mesmo este leite americano é viável.
Não é mais o R$ 1,50... Pode ser o R$ 1,20?
O cenário de preços para o leite de agosto (pago em setembro) já deve mostrar alguma queda, salvo exceções de empresas (e não foram poucas) que, na época das “vacas gordas” fizeram compromissos de preços por mais longo prazo (algumas, segundo comentários, até o final do ano!). A partir do leite fornecido em setembro, as reduções tendem a ser maiores, seguindo mais de perto do ajustes já verificados no mercado atacadista do UHT e no leite spot.
Se, no início do ano, atingir o R$ 1,50 era um cenário distante e, para muitos, um devaneio (leia aqui nossa análise da época), não nos parece distante a realidade de preços (em dezembro/2016 ou janeiro/2017) num patamar médio Brasil (preço bruto Cepea) de R$ 1,20/litro ou menor... Por isso, é bastante importante alinhar expectativas e, mais do que isso, planejar seu negócio para este cenário futuro de mercado.