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Mercado de leite nos principais estados

POR PAULO DO CARMO MARTINS

PANORAMA DE MERCADO

EM 06/02/2004

5 MIN DE LEITURA

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Dentre as muitas afirmações sobre o mercado de leite nacional, os fatos demonstram que uma é inverdade e outra é meia verdade. A afirmação não verdadeira: Com o fim do tabelamento do leite, os preços ao produtor ficaram muito distantes entre os diferentes mercados (estados). A afirmação meia verdade: os preços oscilam no Brasil porque a produção é ainda muito sazonal.

Para negar a afirmação sobre aumento da variação de preços entre mercados, lanço mão da Figura 1. Numa análise mês a mês, entre janeiro de 1986 a agosto de 2001, percebe-se que somente no canto direito do gráfico os preços reais praticados nos estados começam a se aproximar. Essa região corresponde ao período pós-1994. Portanto, após o final do tabelamento de preços para leite e derivados, ocorrido em 1991, a distância de preços entre mercados se reduz. A explicação para uma tendência de convergência de preços é simples: com as transformações ocorridas na cadeia do leite (como granelização e crescimento do mercado de Longa Vida) e com a circulação maior de informações, os mercados de leite fresco deixaram de se limitar aos estados (mercados estaduais) e começou a construção de um mercado nacional. Simplificando, passamos a ter "globalização" dos mercados regionais, ou seja, o preço do leite de uma região repercute nas demais regiões e vice-versa.
 


Quanto à afirmação de que a oscilação de preços do leite ao produtor se deve à sazonalidade de produção, essa é uma meia verdade. É inegável que, em parte, a oscilação se dá por questões de baixa tecnologia em sistemas produtivos, traduzidas em restrição alimentar e suas conseqüências, no período de seca. Mas a oscilação de produção também é motivada por instabilidades do mercado e por políticas de governo. Enfim, a sazonalidade da produção nacional é resultante do grau de restrições dadas por três variáveis interdepedentes: nível tecnológico, mercados e ações de governo.

Vejamos o comportamento de preços do leite ao produtor nos seis principais estados produtores da Federação, entre novembro de 2000 e novembro de 2003. Estes preços foram deflacionados para novembro de 2003, tendo como deflator o IGP da Fundação Getúlio Vargas. O que significa deflacionar está didaticamente explicado no artigo da quinzena anterior (para ler, clique aqui). Ali informamos que o maior preço de leite pago no período foi em Minas Gerais, seguido de São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia.

No presente artigo o meu propósito é discutir a oscilação de preços naqueles estados. Para permitir comparação entre eles, que apresentam preços diferentes, optei pela apresentação na forma de números-índices. Novembro foi escolhido como ponto de partida e, portanto, é 100 para todos os estados. Compare agora o final da Figura 1 e os gráficos abaixo. É como se estivéssemos colocando uma lupa no final da Figura 1, embora o período não seja totalmente o mesmo. Na Figura 1 vemos a floresta, enquanto nas figuras abaixo, vemos cada árvore da floresta. E assim, o que parece idêntico, mostra-se diferenciado.

Os estados que mostraram maior amplitude de variação foram São Paulo e Paraná, respectivamente 114 e 60 (SP) e 121 e 69 (PR), seguidos de Goiás (111 e 74) e Minas Gerais (110 e 76). O Rio Grande do Sul e a Bahia foram os estados com menor amplitude de variação entre os extremos de preços praticados em três anos de análise. Respectivamente, 107 e 81 e 105 e 82.

Mas amplitude de variação nos diz pouco. Aproximemos a lupa. Vejam que, na safra de 2001 os preços recebidos pelos produtores caíram pouco (até 10%) nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, mas despencaram no Paraná (30% em 60 dias!!!). Mas é também nesse estado que o maior pico relativo de preços na entre safra foi obtido. Depois de junho/julho/2001, tivemos o efeito Apagão, lembram? E a queda relativa mais intensa foi em São Paulo. Vejam, os produtores daquele estado receberam, em Janeiro de 2002, 60% do que receberam no início da safra anterior (novembro de 2000). Como sobreviveram a uma queda tão grande de receita? Surpreendentemente, a menor queda relativa ocorreu no Paraná. Por que os preços reagiram tão rapidamente entre as duas safras, naquele estado? Será que na safra 2001 houve comportamento oportunístico dos laticínios, que pressionaram o preço para baixo? Será que a resposta a esse quadro foi a criação do Pool formado pelas cooperativas Castrolanda, Batavo e Arapoti? E será que foi esse Pool que segurou a queda de preços na safra seguinte? Fico com estas hipóteses, mas deixo as respostas para os competentes paranaenses...O fato é que o estrago do Apagão foi intenso em todos os estados.

A partir do Apagão, há uma vigorosa e contínua melhoria no comportamento de preços em quase todos os estados. Tendo por base os preços reais (deflacionados) praticados em novembro de 2000 em cada estado, percebe-se que, em 37 meses, os preços em Goiás e no Paraná estiveram acima do preço de novembro/2000 em 24 meses, em Minas 17 meses, em São Paulo e Rio Grande do Sul 15 meses e na Bahia 10.

A partir da entre safra de 2002, portanto, após o efeito Apagão, os estados que apresentaram maior estabilidade de preços foram Minas, Goiás e Paraná. Por que? No Paraná, não seria o efeito Conseleite + Pool? Não seria o efeito de maior organização política dos produtores nestes estados? Que variáveis explicariam esse fenômeno? Por outro lado, por que Bahia e Rio Grande do Sul têm ciclos bem definidos de preços em termos de safra e entre safra? São estados extremos entre os seis analisados. Extremos geográfica e tecnologicamente. Seria reflexo de ciclos da natureza? Mesmo no Rio Grande do Sul? Por que somente estes dois estados confirmam a afirmativa meia verdade do início deste artigo?

Enfim, para você que teve a paciência de ler este árido artigo até o fim e leu o anterior, rogo-lhe que leia o próximo, que fechará a trilogia. A análise se deterá a preços de 22 insumos necessários à produção de leite. Mais dúvidas que certezas, estes artigos têm o propósito de estimular o início de um debate sobre o comportamento dos diferentes mercados de leite no Brasil, seara ainda inexplorada por nossos analistas, os quais eu me incluo, me penitencio e começo uma tentativa de me redimir...

 

 

 

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