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POR PAULO DO CARMO MARTINS

PANORAMA DE MERCADO

EM 17/12/2004

5 MIN DE LEITURA

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Meu pai me induziu a torcer para o Botafogo. Ele estava certo. No final dos anos sessenta, quando eu descobria que o mundo era mais que o meu lar e minha família, o Botafogo era um belo time. Também fiz o mesmo com o meu filho: induzi-o a ser botafoguense. Agi mal! Afinal, nos meados dos anos noventa, botafoguense virou sinônimo de sofredor. O que me conforta é ver que meu filho não perdeu muito, a julgar pelo desempenho dos times cariocas, nos últimos anos...

Em termos de extensão territorial, cabem 77 Cubas no Brasil. Com pouca extensão territorial, é quase impossível viver isolada, pois fica difícil encontrar no seu território tudo aquilo que é necessário para manter um bom padrão de vida para o seu povo. Os países pequenos sabem disso há muito tempo, por isso adotam modelo de economia aberta, ou seja, transacionam razoavelmente com o resto do mundo. Somente há três séculos atrás, é que os economistas perceberam que essa era a regra. Economia é assim: por ser ciência, uma afirmação é sempre baseada em realidade. Mas, às vezes, nós, os economistas, custamos a entender o óbvio...

"Toda afirmação simples em economia leva ao erro, com a possível exceção desta". Essa é uma máxima a ser respeitada. Mas, para que um discurso ganhe seguidores, além de lógico e inteligível, é bom que seja simples. Quanto mais simples for, mais fácil será a comunicação, mais apoio receberá. Bem trabalhado, um discurso vira até ideologia.

Entre nós, um discurso simples, popular e que está entranhado em todas as camadas sociais é o nacionalismo. Visto pelo lado meramente econômico, pode ser resumido assim: devemos produzir o máximo de bens aqui e importar o mínimo necessário. Isso é coisa do mercantilismo, lembra? A conta não fecha. Se todos querem ser superavitários, ou seja, exportar mais que importar, o comércio de bens e capitais fica estrangulado. Foi isso que matou o mercantilismo e as lógicas portuguesa, espanhola, francesa e alemã, séculos atrás.

Antes de Fidel, Cuba respeitava a lógica natural da economia. Mantinha a economia aberta, ou seja, se especializou naquilo que apresentava vantagens comparativas, enquanto importava aquilo que era caro produzir no seu país. Após Fidel, sob esse aspecto, nada mudou. Cuba continuou com economia aberta. Articulou-se com o campo socialista e manteve um padrão aceitável de desenvolvimento, ao ponto de ter sido possível investir grande parte da poupança do país em saúde e, principalmente, educação. Criou, portanto, a possibilidade de ter capital humano de qualidade: um cubano médio é melhor formado que qualquer outro latino-americano!

Cuba perde a vitalidade quando acaba o bloco socialista, no final dos anos oitenta. Sem comércio internacional intenso, reduziu a renda per capita e, conseqüentemente, a taxa de poupança em sua economia. Quanto menor a renda, menor é a taxa de poupança de uma sociedade. O inverso é verdadeiro. E quanto menor a taxa de poupança, menor é a taxa de investimento. Quanto menor o investimento, menor a renda. Esse é o ciclo estrutural da pobreza. Não depende do discurso. É ciência! Não é ideologia, é factual! Vale para o campo socialista e capitalista.

Os cubanos conhecem economia, dentre outras ciências. Sabem disso há muito. Por sentir na pele seus efeitos, tentam romper esse ciclo, buscando alternativas para abrir a economia. Mas têm dificuldades homéricas a romper. Não têm siderurgia, usina petrolífera ou grandes e variadas riquezas minerais. O que têm, exploram ao extremo. Não há outro meio. Cuba é um exemplo palpável, e não por opção, que o discurso nacionalista, o isolamento, não leva a um maior nível de renda. Se isolamento fosse o caminho, por quê os EUA iriam lhes impor esta penitência?

Dez anos depois, Ouro Preto está de novo em evidência, via Mercosul. Os comentários são os mesmos, mas ocorrem de modo cansado, sem vida, desanimado. Custa a nós, brasileiros, entender porquê os argentinos têm esta empáfia britânica, e porquê não conseguem pensar somente no curto prazo. As aventuras da paridade do Dólar nos anos noventa e o isolamento econômico humilhante que os EUA lhes impuseram via FMI, recentemente, não foram suficientes para lhes fazer valorizar a integração com o Brasil. Como dizem os paulistas, fazer o que? Creio que outro caminho não há. O ônus de uma verdadeira liderança é suportar as mesquinharias dos que pensam menor. Desgasta no curto prazo, dá retorno no longo prazo.

A Argentina cultiva o Peronismo, um movimento de direita com discurso de esquerda. São nacionalistas. Entendem que os problemas estruturais de sua sociedade são fruto do resto do mundo. Esse discurso é fácil e palatável. Não percebem o movimento monumental em curso, com o crescimento da importância da China na geopolítica mundial, e com a expansão da União Européia e o que isso representa. Não percebem que oferecemos o que os blocos econômicos tanto almejam: uma população majoritariamente jovem, volumosa, ávida por consumo, alegre. Continuarão a rufar seus tambores nos arredores da Praça de Maio, presos ao passado, com o sangue e o prazer dos dias amargos e doces vividos em momentos distintos, e que ficaram retidos em sua genealogia histórica.

Até quando suportar? Bom, o que cabe é outra pergunta: que alternativa há?

Neste último artigo do ano, pensei em escrever sobre o programa do MDS de compra de leite. É preciso valorizar compras institucionais como essa, para que haja legitimidade em sua expansão. Também pensei em refazer um retrospecto deste ano histórico para o leite. Mas vou deixar para 2005. Depois que a Revista Veja da primeira quinzena de dezembro colocou este produto em destaque na seção Radar, falar o que?

Prefiro, então agradecer a você, que acompanhou-me nestes 23 artigos de 2004, no privilegiado espaço construído pelo MilkPoint- um patrimônio e um exemplo concreto de como organiza-se rapidamente o setor lácteo.

Foi sábia a decisão humana de dividir a existência em anos. Permite rever o que foi feito e sentido, e sonhar quanto ao futuro. Zerar tudo é importante na vida. Quebra tendências. Mesmo que seja mais fictício que factual. Mas afinal, a vida é feita mais de percepção dos fatos, que dos fatos propriamente ditos que, em si, pouco dizem. A versão vale mais!

Este ano foi bom para o leite e para os que dele vivem. Espero que tenha sido bom para você. Se não foi, faça como o leiteiro aí embaixo. Toque a vida. 2005 será melhor!
 

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