A média dos valores pagos de janeiro a maio deste ano está cerca de 16% superior à obtida no mesmo período do ano passado e o novo patamar de preços está bem próximo ao verificado em 2005 (ano de pico de preços), como pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1. Evolução dos preços brutos do leite pagos aos produtores (valores nominais), em reais por litro.
Os principais motivos para uma expectativa otimista quanto à situação de mercado são a oferta escassa de leite na maioria das regiões produtoras e os preços firmes no mercado internacional. Observando o cenário interno, a oferta de leite é cerca de 16% inferior à de dezembro de 2006, de acordo com o índice de captação do Cepea.
Com as temperaturas mais baixas e o período de seca, no geral, a oferta de leite ainda deve permanecer em baixa no país, contribuindo assim para o momento de forte disputa entre os laticínios pela matéria-prima, o que pode favorecer uma sustentabilidade nos atuais patamares de preços.
Segundo agentes de mercado, para junho deve haver ainda um aumento em torno de 3 centavos por litro de leite.
Outro fator que sinaliza uma tendência altista para este mês é a alta que vem ocorrendo no mercado spot, conforme foi publicado pelo MilkPoint (clique aqui para ver a notícia).
Os preços praticados nesse mercado já chegaram a R$ 0,85/l, incluindo ICMS, o que representa uma alta de cerca de R$ 0,35/l em relação a janeiro deste ano, quando os preços estavam em torno de R$ 0,50/l.
Vale lembrar que o mercado spot, em que o leite é comercializado entre empresas, representa um "termômetro" para o mercado de leite. As variações do leite spot são maiores: quando há uma alta, normalmente é maior que a ocorrida nos valores pagos aos produtores (assim como quando há quedas), mas os aumentos verificados na segunda quinzena de maio sinalizam a oferta insuficiente do produto nacional.
Os agentes do setor apostam em estabilidade do mercado spot, mas revelam que ainda há espaço para novo aumento, dada a baixa quantidade disponível de matéria-prima, aliado ao fato de algumas empresas estarem investindo em aumento da captação, devido a novas unidades industriais ou ampliações, como é o caso da Líder, no Paraná, e da Nilza, em São Paulo.
No mercado atacadista, os preços continuam em alta. O valor do leite longa vida já chegou a R$ 1,70/l, segundo agentes do setor, em função da menor oferta do produto. Em janeiro, segundo dados do Cepea, o litro do leite UHT estava em média a R$ 1,11.
No caso dos queijos, os preços também estão aumentando em função da menor oferta. Segundo agentes de mercado, o valor do queijo tipo mussarela está entre R$ 8,00 e R$ 8,50 por quilo, sendo que a média obtida pelo produto cotado em janeiro pelo Cepea foi de R$ 6,00/kg.
No mercado externo, os aumentos de preços são constantes. Segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), os preços do leite em pó desnatado no Oeste da Europa na 23ª semana do ano (que equivale de 4 a 9 de junho) chegaram a US$ 5.400/t, e o leite em pó integral chegou a US$ 5.280/t. Na Oceania, os valores dos mesmos produtos atingiram US$ 4.900/t e US$ 4.450/t, respectivamente.
Com os valores altíssimos cotados no exterior, observa-se que a oferta de leite ainda é insuficiente para abastecer o mercado consumidor mundial. No cenário externo também não há perspectiva de quedas substanciais de valores do leite no curto prazo, o que favorece uma tendência de sustentabilidade dos atuais patamares de preços.
Neste contexto, as exportações brasileiras de lácteos ainda são favorecidas, o que tende a pressionar uma alta no mercado doméstico em virtude da concorrência pela matéria-prima, verificada principalmente por empresas focadas em exportação.
Em Minas Gerais, no geral, a produção continua em baixa em virtude da falta de pastagem para o gado. Em propriedades cuja alimentação do rebanho é à base de silagem, a produção tende a aumentar nesse período, bem como em fazendas com concentração de partos para esse período.
Em Goiás, a oferta de leite é a menor desde o início do ano e a procura pelo leite é elevada. Segundo o Cepea, houve uma redução de 7,16% na captação no estado em abril frente ao mês anterior. Por enquanto, não há tendência de aumento do volume de leite ofertado no geral.
Em São Paulo, a oferta segue baixa em virtude do clima desfavorável às pastagens, além da migração de produtores para a cultura de cana-de-açúcar e eucalipto. Há uma tendência de redução de oferta para este mês, visto que os pastos devem piorar com a queda da temperatura, além da falta de chuvas e falta de planejamento dos produtores quanto à parição das vacas e obtenção de silagem para alimentação. Sendo assim, a expectativa é de aumento de preços no estado.
No Rio Grande do Sul, ainda não ocorreu um aumento da produção de leite, como normalmente acontece nesse período do ano. Isso porque houve um atraso no plantio das pastagens de inverno em função do clima. O frio na região é bastante intenso e tem ocorrido geadas com frequência, prejudicando o desenvolvimento do pasto. Em relação a dezembro, houve uma queda da produção de leite de 27% no estado, segundo uma fonte do setor.
De acordo com o Cepea, somente em abril a captação no estado gaúcho recuou 12% em relação a março.
Segundo agentes de mercado, a curva de oferta ainda dependerá do clima, mas espera-se que a partir do dia 20 deste mês haja uma reação da produção de leite no estado. A expectativa é de aumento de 2 a 3 centavos por litro de leite neste mês.
O aumento da produção no Sul, previsto para os próximos meses em função da produção de pastagens de inverno, não deve afetar significativamente os preços do leite no mercado nacional no curto prazo, segundo agentes de mercado. Isso porque provavelmente o incremento da produção não seja suficiente para abastecer o "buraco" na oferta e, além disso, a demanda na região Sul é maior em função da instalação de novas indústrias no Rio Grande do Sul.
No Nordeste, a oferta também é menor neste período do ano em função do tempo mais seco para a produção de pastagens e temperaturas mais baixas. A expectativa de agentes do setor é de redução da produção neste mês na Bahia, Pernambuco e no Ceará. Em Rondônia há grande concorrência entre os laticínios e a tendência também é de queda na produção.
Convidamos os leitores a dar sua opinião sobre o mercado de leite na região que atuam, indicando a situação de preço e oferta.