O gráfico 1 mostra a evolução dos custos operacionais de produção, do custo total e do preço do leite.
Gráfico 1. EUA - Custos de produção (¹), preço do leite ao produtor e variação da produção (²)
(1) Custo Total = Custos operacionais + Custos “alocados”.
Como custos operacionais o USDA lista as seguintes contas: todos os itens ligados a alimentação + medicamentos e vacinas + combustíveis, lubrificantes e eletricidade + serviços contratados + manutenções + pagamento de juros sobre capital operacional + outros itens de desembolso mensal.
Custos “alocados” = depreciações + mão de obra familiar + mão de obra contratada + despesas administrativas + taxas e seguros + arrendamento de terra
(2) Produção do mês corrente/produção do mesmo mês no ano anterior (%)
Fonte: Elaboração de MilkPoint Inteligência, a partir de dados do USDA
Este primeiro gráfico permite algumas observações interessantes sobre a produção americana de leite:
• Ainda que a cobertura dos custos totais de produção seja objetivo constante em qualquer atividade econômica, aparentemente ela não vem sendo o principal driver de crescimento da produção nos Estados Unidos. No período analisado, a produção americana de leite cresceu, em média anual, 1,7% e, por outro lado, apenas em alguns meses em 2014 o preço do leite ultrapassou o custo total de produção (na média apurada pelo USDA).
• Em 2014, percebe-se uma redução importante nos preços do leite. Com esta redução de preços percebe-se também uma redução no ritmo de crescimento da produção americana; mas, ela ainda segue crescendo, mesmo que em ritmo menor (o último dado, relativo ao mês de julho de 2015, aponta crescimento de 1,2% na produção versus o mês de julho de 2014).
• Na média, os preços atualmente pagos ao produtor americano (equivalentes a US$ 0,40/litro de leite) cobrem os custos operacionais do produtor (que, no último dado disponível, para maio de 2015, foram em média de US$ 0,33/litro de leite) e, ainda que a redução de preços tenha sido brutal, a situação não é historicamente desesperadora para o produtor americano (a atual diferença entre preços e custos operacionais – de cerca de US$ 0,07/litro – já foi verificada no passado sem impactos relevantes do crescimento da produção do país).
Sobre a composição do custo total de leite, entre operacionais e “alocados” (depreciações + mão de obra familiar + mão de obra contratada + despesas administrativas + taxas e seguros + arrendamento de terra), o gráfico 2 traz uma ideia clara da importância de cada um deles no custo final do pecuarista americano.
Gráfico 2. Composição do custo total de leite – Operacionais e “Alocados”
Fonte: Elaboração de MilkPoint Inteligência, a partir de dados do USDA
* Informações não disponíveis entre março e junho de 2013
Na média do período analisado, os custos operacionais de produção de leite foram de US$ 0,35/litro, representando 66% do custo total de produção. Claramente, os custos operacionais subiram de um patamar de US$ 0,30/litro para valores ao redor de US$ 0,40/litro entre 2010 e 2012 para, posteriormente, voltar ao patamar de US$ 0,30-0,33/litro, até os primeiros cinco meses de 2015.
Já os custos “alocados” mantêm-se relativamente mais estáveis ao longo do tempo, entre US$ 0,180/litro e US$ 0,195/litro, representando, em média, 34% do custo total de produção. Dentre os “alocados”, destaca-se a depreciação que, em média, representa 43% destes custos (observe o gráfico 3, com a composição dos custos “alocados”).
Gráfico 3. Composição dos custos “alocados” (1) de produção de leite nos Estados Unidos
(1) Custos “alocados” = depreciações + mão-de-obra familiar + mão-de-obra contratada + despesas administrativas + taxas e seguros + arrendamento de terra
Fonte: Elaboração de MilkPoint Inteligência, a partir de dados do USDA
Depreciações + mão de obra familiar + mão de obra contratada significam, em média, 92% destes custos “alocados”. Assim sendo, analisando o histórico de preços e custos totais monitorado pelo USDA, pode-se inferir que, na maior parte do período analisado, o preço pago ao produtor não remunerou totalmente as depreciações e as despesas com mão de obra (seja ela familiar ou contratada). Numa nova realidade de Farm Bill e intervenção governamental no mercado americano, por meio da recém-criada MPP – Margin Protection Plan (Plano de Proteção de Margens), os produtores terão de adaptar-se ao uso desta nova ferramenta de proteção de seus resultados.
Chama a atenção a elevada alocação de custos para mão de obra familiar, mesmo considerando que o produtor médio americano é um produtor de porte pequeno, de cerca de 4700 litros/dia. Como aqui no Brasil, nos EUA também está havendo uma migração da produção para os grandes produtores, com mais de 50% do leite vindo de fazendas com mais de 1000 vacas. Certamente, esses produtores maiores possuem outra dinâmica de custos, e provavelmente estão cobrindo com maior facilidade todos os custos. Isso mostra porque o número de produtores cai ano a ano. No final das contas, há concentração nos mais eficientes (e maiores).
Assim sendo, ainda que os dados médios sejam importantes para apontar as tendências de um setor, eles não refletem totalmente as mudanças estruturais que vêm acontecendo. Neste caso, assim como no caso brasileiro, os produtores eficientes estão crescendo e ampliando seus volumes, e isso faz com que o perfil médio do setor vá mudando ao longo do tempo.
Finalmente, à semelhança de muitos sistemas de produção brasileiros com maior nível de especialização, os custos de alimentação são a parte mais relevante do custo total de produção de leite nos Estados Unidos (observe o gráfico 4).
Gráfico 4. Custos de alimentação e sua participação sobre o custo total de leite nos EUA
Fonte: Elaboração de MilkPoint Inteligência, a partir de dados do USDA
Como aqui, soja e milho são as variáveis mais relevantes neste item e, com a grande inserção brasileira no mercado internacional de ambos os grãos, as referências de preços do produtor americano tendem a ser as mesmas que as acompanhadas pelos produtores de leite aqui no Brasil, basicamente traduzidas pelos mercados futuros da Bolsa de Chicago.