ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Este poço tem fundo?

POR MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

PANORAMA DE MERCADO

EM 09/09/2005

5 MIN DE LEITURA

5
0

Findo o levantamento do mercado de leite de agosto, o cenário "escurece" um pouco mais aos produtores.

Atividade que até junho era considerada uma das poucas que permanecia imune à dura crise que atingiu os produtores rurais na safra 2004/2005, lentamente a produção leiteira vai entrando, com tudo, no bonde da crise.

Uma pena, pois seria o terceiro ano favorável aos produtores de uma atividade que, na última década, passou praticamente apenas por crises, uma atrás da outra.

O pagamento de agosto, quando se remunera a produção de julho, trouxe um recuo médio de 6,67% em todo país. Em algumas das principais bacias leiteiras, o recuo nos preços chegou a R$0,07/litro em apenas um mês, uma queda brusca no orçamento.

Goiás, a segunda maior bacia leiteira do país, teve queda média de R$0,06/litro nos preços pagos aos produtores. Esta queda representa 11,67% em apenas um mês. Observe os preços de agosto, produção de julho, e as evoluções em porcentagem e em centavos na tabela 1.

Tabela 1: Variações em porcentagem e em R$/litro e preço bruto médio pago pela produção de julho em todo o país.
 


Os produtores gaúchos levaram outra pancada nos valores pagos. Apenas em agosto, o recuo foi de outros 8,24%. Em três meses, a queda nos preços do leite no Rio Grande do Sul já atinge 16%.

Dentre as principais bacias leiteiras, além do Rio Grande do Sul, as quedas mais expressivas ocorridas até o momento foram observadas no Paraná (13,5%) e em Goiás (15%).

Na média nacional, os preços caíram cerca de 10,7% desde o pagamento de julho (produção de junho). Para calcular a média nacional, a Scot Consultoria acompanha todos os Estados que representam mais de 1% da produção nacional. São 16 Estados, cujos preços pesam proporcionalmente à produção anual de cada um deles, no cálculo da média nacional. É a média ponderada.

Como mais de 80% dos entrevistados acreditam em recuos nos preços para os próximos meses, a situação ainda não se estabilizou, e nem mesmo as estimativas para o próximo pagamento. É certo que os preços caem ainda mais. Por isso, até o final do ano os preços recuarão mais do que se esperava. Até então, acreditava-se em quedas próximas de 14%.

Já é certo que o impacto nos resultados das fazendas leiteiras será maior do que o que se esperava até o momento. O ano será difícil!

A opinião dos entrevistados, de que os preços recuarão ainda mais, não é exagero. Os preços do longa vida recuaram novamente em agosto. No mês, a cotação média do longa vida no atacado abaixou 3,56%. Em relação a abril, quando os preços foram os mais altos, houve queda de 18%.

No varejo, situação semelhante. Em agosto os preços caíram 5,67%. No ano a queda já é de 14%. Observe, na figura 1, a evolução dos preços do longa vida no varejo e no atacado, em reais nominais (dinheiro da época), no período de janeiro de 2004 a agosto de 2005.

 


Na figura 2 estão os preços do longa vida no atacado nos últimos 7 anos, em valores reais corrigidos pelo IGP-DI e em valores nominais.

 


O fraco desempenho no mercado interno, que é refletido nas figuras 1 e 2, e os maus resultados no mercado externo, influem no preço da matéria-prima.

No ano, o preço do leite no mercado "spot", comercializado entre as indústrias, já recuou cerca de 30%. No mercado "spot", o preço médio é cotado em R$0,46/litro, o pior valor nominal desde fevereiro de 2004, pouco depois da crise da Parmalat reduzir a praticamente "nada" as cotações deste mercado.

A situação fica cada vez mais alarmante aos produtores. Observe, na figura 3, a evolução dos preços médios nacionais pagos aos produtores de leite, em reais corrigidos pelo IGP- DI e em reais nominais por litro de leite, nos últimos 7 anos.

 


Mesmo quando corrigidos pelo IGP-DI, os preços do leite ainda não atingiram os valores mais baixos da história; na verdade ainda não chegaram nem aos menores preços de 2004.

No caso da pecuária de corte, as cotações da arroba bovina, corrigidas pelo IGP-DI, estão cerca de 7,5% abaixo do que, até julho deste ano, vinha sendo considerado o pior preço da história.

Esse comportamento, caso se estendesse para a pecuária leiteira, equivaleria a um valor médio nacional para o leite em torno de R$0,39/litro, valor bruto. Hoje o preço médio nacional é de R$0,512/litro.

Evidentemente, trata-se de uma comparação injusta, visto que nos últimos anos a pecuária leiteira teve os preços mais defasados em relação à inflação do que a pecuária de corte.

De qualquer forma, o cenário pode e deve piorar. Há ainda quem fale em preços de leite a patamares significativamente mais baixos que os atuais, antes que 2005 chegue ao fim. Não há como prever; são especulações, embora nada seja impossível.

Recomenda-se prudência antes de acreditar em suposições, especialmente as alarmistas. Corre-se o risco do próprio setor contribuir para uma queda mais acentuada do que a esperada. O cenário não é nada bom, mas o "inferno ainda não está na Terra".

Vale lembrar que este momento, de péssima perspectiva para o mercado leiteiro, ocorre numa época essencial, quando se inicia o preparo dos alimentos volumosos para o próximo ano. Não é de se duvidar que todo o ganho em produção de 2005 se transforme em relativa escassez em 2006. O preço do fertilizante, 18% mais baixo que no mesmo período de 2004, é reflexo também da menor demanda. Em outras palavras, o agropecuarista não está comprando adubo como comprou em 2004.

Este ano, muitas culturas agrícolas assistem o seu pior momento das últimas safras.

Outro dia, num debate em uma palestra da Scot Consultoria, referente à pecuária de corte, um produtor mostrou seu otimismo: "Pelo menos, nós estamos no fundo do poço! Não tem como piorar, agora só melhora".

De imediato, outro produtor rebateu: "Que estamos no fundo do poço todos sabem; a dúvida é se este poço realmente tem fundo!!"

MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

5

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

FERNANDO LUIS PAES FONSECA

ITABAIANA - PARAIBA

EM 23/09/2005

Isso é resultado de uma política econômica irresponsável, de um governo que quer destabilizar o setor rural. O dólar em queda e os juros em alta, o que nós esperávamos? O setor produtivo desse país está segurando a inflação e pagando caro por isso, temos que agüentar esse governo incompetente até o ano que vem.
ÂNGELA DE FARIA MARASCHIN

OUTRO - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 21/09/2005

Meu comentário se dirige ao colega produtor de leite de Livramento, que em um texto conciso e esclarecedor conseguiu expressar toda a frustração pela qual os produtores comprometidos com a atividade estão sentindo. Cada vez mais nos sentimos "trouxas" por acreditar que o leite de qualidade realmente um dia será valorizado pelas nossas indústrias!



Até quando nós produtores vamos ficar parados, esperando que o mercado "vire" novamente a nosso favor?



FERNANDO BUENO SIMÕES PIRES

SANT'ANA DO LIVRAMENTO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/09/2005

Olha, gostaria de acreditar que o poço tem fundo. Como produtor de leite há 18 anos, nunca havia visto o que vi nestes dois últimos meses. Para mim, produtor de 51.000 litros por mês, o preço caiu, em julho R$ 0,07/litro, e em agosto, R$ 0,08/litro. Segundo a Cooperativa para qual entrego leite, a culpa é do mercado - excesso de leite. Mas não se vê marketing sobre o leite, o que tem de sobra para refrigerantes e outros produtos de menor importância que o leite. Também não se vê uma exigência maior pela qualidade do leite coletado, apesar da IN 51. Se a IN fosse realmente implantada, o "excedente" de leite desapareceria no outro dia, o mesmo acontecendo se as indústrias tivessem critérios para aceitar novos produtores. Hoje, uma empresa pega produtor de outra, não interessa o que está pegando, só se preocupam em abrir novas rotas de coleta. O resultado é o que poucos conhecem. Interessa o volume que a indústria recebe. A qualidade ainda é secundário.



Em agosto a bonificação por qualidade baixou de R$ 0,0675 para R$ 0,0525/litro, na pontuação máxima, ou seja, no momento de entrar em vigor a IN 51, houve uma queda de 22,22% na bonificação por qualidade. Aliás, a qualidade interessa a quem? A mim e a minha família, que tomamos leite cru, do próprio tanque. Acho que a mais ninguém.



Toda a qualidade do leite, buscada ao longo destes anos, acaba no momento que ele sai pela torneira do tanque para dentro do caminhão, e nele é misturado a outro, produzido em condições completamente diferentes. Mas a indústria os recebe, e me bonifica em R$ 0,0525/litro, só que a qualidade no volume total recebido já caiu. Do preço final, recebido hoje com 51.000 litros, a bonificaçaõ pelo volume representa 89,63%, ficando os restantes 10,37% relacionados a qualidade e gordura, 9,8% e 0,57%, respectivamente. Desta forma, o "branco" do leite, é responsável por 89,63% do seu preço final, e a qualidade do produto, que realmente deveria interessar a todos os segmentos envolvidos na atividade recebe peso de apenas 10,37%. E as indústrias degladiando-se para "pegar" mais produtores, depois tentando colocar o produto nos supermercados - um capítulo a parte - o preço despencando, e as desculpas aflorando: " há excesso de leite; não houve entressafra; o poder aquisitivo da população caiu; os hábitos do consumidor estão se modificando etc..." E nós produtores? Damos as costas e vamos para nossas propriedades produzir mais lete e investir em tecnologias cada vez mais caras, visando melhorar mais o produto e aumentar a produção para melhorar o preço em função da escala. E o consumidor?



Continua comprando refrigerantes e refrigerecos, cervejas da onda e outras mais, trocando de celulares como quem troca de roupa - e o poder aquisitivo do povo caiu! E o Sr "mercado"? Ganha com o VÁCUO existente entre produtor e indústrias, pois sua "margem de lucro" continua intocável, chegando a R$ 0,30 por litro de leite "longa vida" comercializado, onde só a embalagem vale hoje R$ 0,37. O supermercado extorque - a ação é esta mesmo, extorsão- intimida a indústria na hora da compra do produto lácteo e dela tira a "margem de lucro" . E nós produtores é que arcamos com o ônus. Produzimos o mês inteiro, por um preço, e depois de fechado o mês, recebemos a notícia de que em função dos problemas já citados anteriormente, o leite a ser pago terá redução de preço. O problema de caixa da indústria foi sanado. E o nosso? Não temos a quem recorrer, senão a nós mesmos. Políticos? Não temos malas pretas. Governo? Que governo?



Nos profisionalizamos em produzir leite, mas não sabemos vender o fruto de nosso trabalho, A QUALIDADE. Sinceramente me sentiria realizado em saber que estamos no "fundo do poço".



Fernando Bueno Simões Pires

Produtor de leite- Livramento-RS



CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 11/09/2005

Campinas, 10 de Setembro de 2005



Olá, Maurício,



Eu, particularmente acho que esse poço do qual você está falando, não tem fundo só, que a pedra que está a beira, é maior que a boca do poço por isso, a pecuária leiteira brasileira não vai de vez, para as cucuias.



Parabéns, pelo excelente Raio X do leite que você apresentou inclusive, buscando resultados de 8 anos passados.



Não seria tão feio se os encargos e insumos tivessem subido na mesma proporção, se o poder de compra e consumo do brasileiro tivesse se mantido, o que não aconteceu e o que é pior; em 98, estávamos ainda vivendo o milagre econômico do "plano real", até o final de 99 quando ocorreu o fim do sonho e a disparada do dólar para patamares aos quais ele deveria estar bem antes, chegando depois de algum tempo a beirar a casa dos R$4,00, o que para a pecuária e agricultura, o agro-negócio de um modo geral, foi a melhor coisa que aconteceu na história da agropecuária brasileira.



Todo mundo sabe que dólar baixo é morte para países em desenvolvimento e principalmente no caso do Brasil, com essa extensão continental agricultável que tem e que precisa exportar para garantir crescimento.



Com esse dólar nos patamares de R$2,3, juros nas alturas inibindo o empreendedorismo, só podemos esperar que a pecuária brasileira sofra muitíssimo. O pior disso tudo, é que o pecuarista brasileiro não tem a cultura da continuidade e persistência.



Numa situação como a que está se configurando, o produtor de leite de Goiás, Minas, Mato Grosso do Sul, Bahia, e até de boa parte do estado do Paraná, começam a vender vacas leiteiras para o corte, ou, colocam nelore na vacada, desmantelando todo um trabalho que sabemos levar anos para se recompor, e aí, os argentinos, neozelandeses, europeus e americanos, desovam aqui, seus excedentes de leite e derivados quase vencidos, para vergonha e desespero de quem trabalha na área e sabe que este país não precisaria passar por vexames desse tipo, até que a crise passe e nossos produtores voltem a correr atrás do prejuízo de refazer seus rebanhos novamente.



O que é necessário para que o produtor brasileiro consiga atravessar crises e sair lá no outro lado sem muitos arranhões? Aprimoramento, trabalho, visão de médio e longo prazos, produção em escala e produtividade por animal e por hectare, e, finalmente, consciência para produzir com alta qualidade, ganhando assim, competitividade em mercados externos.



Seguir exemplos e se espelhar em países como o Canadá, tido como um dos países com leite de melhor qualidade no mundo, agora se preocupando com a aparência das embalagens, para ficar melhor na cena! Enquanto isso não acontecer, teremos que nos contentar com as sobras e cantar aquela musiquinha sertaneja que diz assim: "nóis trupica mais num cai, podi levá fé que desse jeito vai".



É... triste realidade não é? Nós não caímos, mas também não levantamos.



Infelizmente o nosso Brasil, que tem tudo para se projetar mundialmente, não consegue sair da condição de mero vendedor de commodities e de matérias primas.



Abraços,



Clemente.



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado Clemente,



A sua carta reflete a indignação e o desânimo que tenho encontrado junto aos produtores, tanto de São Paulo como de outros Estados.



É fato que o atual comportamento do mercado refletirá em um comportamento desfavorável para todo o setor, num futuro bem próximo.



Esperamos passar pela turbulência o mais cedo possível.



Um forte abraço



Maurício Palma Nogueira

Engenheiro agrônomo
JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/09/2005

Prezado Mauricio,

Pelo menos temos a certeza que 2006 será melhor, pois inevitavelmente os produtores não investirão este ano e a produção também começará a diminuir por redução de alimentação de concentrado para as vacas, além de ocorrer muitas demissões no campo, engrossando novamente as fileiras do MST.

O próprio governo vem alardeando o número recorde de contratações com carteira assinada, principalmente no setor rural e isso foi principalmente pela melhoria no setor leiteiro. Vamos dar marcha ré! Mas com o dolar a R$ 2,34 todos os setores da economia vão ser afetados e a previsão é que o superavit comercial do Brasil comece a declinar, até que em meados do ano que vem, quando a balança comercial ficar insustentável e o próprio mercado imponha uma drástica desvalorização do real assim como foi feito em 1999.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures