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E se o Consumo Interno Crescer? Mas isso É Problema?

POR PAULO DO CARMO MARTINS

PANORAMA DE MERCADO

EM 01/07/2004

4 MIN DE LEITURA

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Depois dos trinta e cinco anos, não é sinal de equilíbrio ser incendiário. O melhor é ser bombeiro. Ainda mais quando se pega um gancho do editorial deste site. Afinal, nunca vi um colunista provocar o editorialista. É rua na certa! Mas, quando o Marcelo Carvalho me convidou para escrever neste privilegiado espaço, não me apresentou quais seriam as travas, os limites. E como o que diferencia este site é a exposição de idéias, o contraditório é possível e saudável. Ou não?

No editorial de 29/06, o sócio-diretor e editorialista deste MilkPoint fez uma bela análise sobre o crescimento das exportações lácteas brasileiras, demonstrando para os incrédulos, o que já começa a ser realidade. O Brasil caminha para ser auto-suficiente em leite. E mais: vai começar a incomodar o mundo lácteo, que tem o comércio mais complexo dentre todas as commodities agrícolas. Neste editorial, o Marcelo relatou-nos o incômodo que o leite já desperta em nações concorrentes.

E quais são as nações concorrentes? Engana-se quem mira aquelas que exportam. Nesta etapa do comércio internacional, estas estão mais para parceiras. Serão concorrentes quando vencermos os obstáculos alfandegários daquelas que são competitivas por graça da ação do Estado. Concorrentes, hoje, são aquelas nações que protegem os seus mercados.

Uai! Mas se isso é verdade, quem não é concorrente? Pouquíssimos países. Mas o principal concorrente nosso, somos nós mesmos. Somente avançamos em crises. Não há planejamento, como bem registrou o Marcelo. Se não tivéssemos sido jogados à dolorosa exposição do mercado internacional, em 1991, que pratica preços artificiais, ainda estaríamos discutindo sazonalidade de leite, pois foi isso que encontrei em vasta revisão bibliográfica que fiz, com base no que se produziu academicamente, antes daquele período.

Então, ir para o mercado externo somente foi possível por causa dos efeitos do apagão no consumo de lácteos. Contraditoriamente, a escassez de energia acendeu uma luz nova no painel do agronegócio do leite. Como o mercado interno ficou estreito, o negócio era expandir o mercado mirando além da fronteira brasileira. Nos grãos, isso também ocorreu em outro momento. O Prof.. Alexandre Mendonça de Barros, da Esalq-Usp, desenvolveu um rico trabalho que mostra que o aumento de produtividade ocorreu na medida em que o crédito ficou escasso, ao longo dos anos oitenta, principalmente. Se continuássemos como nos anos setenta, provavelmente estaríamos com baixos indicadores de desempenho, pois os recursos do crédito agrícola foram usados também para investimentos em outros setores. Um exemplo: o que seria da construção civil de Cabo Frio, Marataízes e Guarapari, importantes balneários dos estados do RJ e ES, se não tivesse ocorrido crédito subsidiado?

O gráfico 1 foi retirado da apresentação do Dr. Alejandro Galleto no Congresso da Fepale, ocorrido no final de junho, nos EUA. O Dr. Galetto é um reconhecido pesquisador do INTA - a Embrapa argentina, e que hoje empresta sua competência à importante cooperativa Sancor, daquele país. Por ali podem ser feitas pelo menos duas necessárias análises. Se comparamos o Brasil com os demais países, ou seja, os outrora bichos-papões que formam o Mercosul ampliado, percebemos como somos grandes. Se juntarmos toda a produção dos nosso co-irmãos, o Brasil tem, sozinho, 50% a mais. Perceba que a toda a produção argentina equivale somente ao mercado informal brasileiro.

Se a análise é feita na linha do tempo, aí é que as diferenças se mostram. Vejam que, com todos os problemas vividos em toda uma década, a década perdida dos 90, o leite se mostrou com tendência clara de crescimento.

Mas, e se o mercado interno crescer? Ora, mas que sinais há para que se suponha crescimento do mercado? Quem tem o poder de fazer crescer a demanda interna para o leite é o ministério da Fazenda. Afinal, leite é bem-salário, ou seja, a demanda cresce ou diminui se crescer o poder de compra e a massa salarial. E não há, infelizmente, a menor perspectiva de crescimento efetivo, vigoroso, no curto prazo. Mas e se os salários crescerem? Bom, aí teremos que supor que todos acreditam que o crescimento é auto-sustentável. Se não for, o incremento da renda vai para a poupança, pois quem está empregado teme ser despedido, e poupa.

Mas se os salários crescem e não houver temor de desemprego iminente? Bom, nesse caso, cresce a demanda por lácteos. Como a oferta custa um pouco a reagir, os preços sobem. Com preços mais elevados, há estímulos à produção. No curto prazo, isso é possível via melhoria de alimentação, por exemplo ração.

E como ficam as exportações, enquanto isso? Bom, comércio internacional exige honrar contrato. Uma opção é importar para exportar. A outra é exportar sem importar, mesmo com a matéria-prima mais cara. Em ambos os casos, o mundo não cai, lembrando a saudosa cantora Maísa. As empresas exportadoras têm folga para suportarem um revés, até que o mercado volte ao equilíbrio.

Portanto, por caminhos diferentes, ao contrário do que pensou inicialmente o nobre leitor, Marcelo e eu chegamos ao mesmo ponto, quanto à hipótese do crescimento do mercado (embora eu não acresite nessa hipótese, no curto prazo). E para confirmar isso, reproduzo suas palavras: Isso será ruim? Não necessariamente, afinal o importante é que o mercado de lácteos cresça - interna ou externamente. Vale lembrar que o consumo de lácteos no Brasil é ainda baixo e de pequeno valor agregado. Ganhos em volume e valor serão sempre muito bem vindos.

Sobre agregação de valor ao leite, este foi o item que mais me impactou nos trabalhos apresentados no Congresso da Fepale. Tratarei desse assunto na próxima quinzena, se nenhum outro tema polêmico surgir, se nenhuma falsa dicotomia puder ser estabelecida com o editorialista, ou se o editorialista deixar reservado este precioso espaço para o meu exercício, por usucapião precoce. Até lá!
 

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ANTONIO CARLOS GERVA

ABATIÁ - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/07/2004

Caro Professor Paulo Martins,

Sempre que leio matérias editadas pela sua pessoa, fico cada vez mais adimirado pela sua pessoa, e por que não dizer pelo seu profissionalismo da situação da Atividade Leiteira Brasileira.

Estarei repassando esta matéria para meus colegas e para a pessoa que irá trabalhar o Tema Mercado e Cenários da Cadeia Leite no Encontro das Amigas do Leite.

Se por acaso o Sr. não se incomadar, estaremos tratando e utilizando parte da sua matéria para a exposição às mulheres.

Parabéns.

Gerva.

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