Com a antecipação das safras no Centro-Oeste e Sudeste, em função das chuvas constantes no 3º trimestre de 2009, os picos de produção ocorreram antes do previsto, em novembro e início de dezembro - quase 30 dias antes em relação a anos anteriores. Agora, já é possível ver a curva de produção decrescendo, iniciando a disputa por leite em algumas regiões.
Em dezembro, a produção já mostrou desaceleração, segundo dados do Cepea-Esalq/USP, o que permitiu que os preços ficassem estáveis em janeiro. O intenso calor, acompanhado de chuvas intensas, também vem prejudicando a produção no Sul do país neste início de ano, considerando a predominância da raça holandesa na produção de leite da região.
O mercado spot (negociações entre indústrias) vem sendo reajustado desde janeiro, sendo que atualmente os volumes são reduzidos, com preços mais altos. Em Minas Gerais, o leite spot está sendo negociado a R$ 0,70-0,75/litro, e em São Paulo chegou a R$ 0,78/litro na 1ª quinzena de fevereiro.
Com produção reduzida e demanda intensificada com a volta às aulas, os preços começaram a ser reajustados no mercado atacadista. O leite longa vida, segundo agentes do setor consultados pelo MilkPoint, já mostra reação de até 20% nos preços, o que deve se intensificar agora, após o carnaval. O produto está sendo negociado no atacado, em média, a R$ 1,40-1,50/litro no Sul, Minas Gerais e Goiás. Em São Paulo os preços já mostram maior reação, entre R$ 1,50 a R$ 1,60/litro. Segundo os agentes consultados, as indústrias deverão fazer novos reajustes nas duas últimas semanas de fevereiro (em SP, já há negociações entre R$ 1,60-1,70/litro).
No setor atacadista, os queijos tiveram reajustes mais leves, com preços entre R$ 7,50-8,20/kg em Minas Gerais e São Paulo. O leite em pó mantém preços estáveis, em média a R$ 8,20-8,50/kg (embalagem fracionada).
Os preços ao produtor iniciaram agora os reajustes. Para o pagamento de fevereiro, as indústrias devem reajustar de 3 a 5 centavos o valor da matéria-prima, chegando a R$ 0,62-0,65/litro no Centro-Oeste, R$ 0,65-0,70 no Sudeste e R$ 0,60-0,65 no Sul. Para o pagamento de março, a maioria dos agentes consultados acredita em nova alta de preços, em torno de 5 centavos por litro.
No varejo ainda não houve um reajuste significativo de preços, o que deve acontecer mais evidentemente até o final de fevereiro (após carnaval e início das aulas).
Enquanto o mercado interno começa a se aquecer, o mercado internacional mostra o inverso. Os preços na União Europeia e na Oceania caíram em janeiro e fevereiro, devido à instabilidade do mercado, à queda nas exportações de commodities lácteas na UE e nos EUA, e também a uma demanda mais fraca na Europa, segundo fontes internacionais. Na 1ª quinzena de fevereiro, o leite em pó desnatado na Oceania apresentou uma forte queda (10%) no preço médio em relação a janeiro, sendo cotado a US$ 2.750/ton. Já o leite em pó integral ficou em US$ 3.400/t no mesmo período na Europa, queda de 4% em relação ao valor médio de janeiro.
Segundo informações do Dairy Industry Newsletter (DIN), os preços do leite em pó desnatado na União Europeia poderão atingir os níveis de intervenção em alguns meses, conforme a proximidade da primavera. Segundo o boletim, o sentimento do mercado é negativo, não só para o leite em pó desnatado como também para outros produtos. A baixa demanda de exportação está exercendo uma pressão baixista nos preços da EU.
A valorização do dólar neste início de ano ainda não animou os exportadores brasileiros a fecharem novos negócios, em função dessa queda nas cotações internacionais e também pelo fato dos preços no mercado interno estarem mais atrativos. A balança comercial de lácteos iniciou 2010 deficitária. Em janeiro, o saldo ficou negativo em US$ 7,83 milhões. Em fevereiro, assim como para março, não há negócios significativos, segundo informaram agentes do setor que atuam nessa área.
O gráfico abaixo mostra qual seria o preço máximo pago ao produtor, em reais, para viabilizar as exportações, considerando os preços do leite em pó integral na Oceania (incluindo as taxas). Observa-se que, praticamente durante todo o ano de 2009, os preços recebidos pelos produtores ficaram acima do preço máximo calculado considerando o mercado internacional, evidenciando dois pontos: 1) mercado internacional com preços muito baixos (chegando a US$ 1.900/ton), e 2) mercado interno segurando as cotações, em função principalmente das restrições às importações, de forma que a dinâmica do mercado interno impulsionou os preços.
A partir de novembro/09, com a elevação dos valores no mercado internacional, o preço recebido ficou abaixo do preço máximo calculado. Houve então uma expectativa de retomada das exportações, o que não foi concretizado, já que pouco tempo depois o mercado internacional mostrou novamente queda das cotações.
Com preços internos sendo reajustados, gera-se um estímulo para aumento da produção de leite, que também deve ser impulsionada pela estabilidade ou até redução do custo dos insumos - segundo estudo do Rabobank, os preços da soja devem ficar pressionados este ano, devido à safra mundial recorde; para o milho, as previsões são de estabilidade de preços no 1º trimestre, com possível alta posterior, caso se confirme a previsão de redução da produção.
Considerando que começamos o ano com cerca de 6% mais leite em relação a 2009 (segundo o Índice de Captação de Leite do Cepea), a produção de abril em diante (quando provavelmente a produção responderá ao aumento de preços, e também com o início da safra do Sul) será determinante para as cotações. Caso as exportações não sejam retomadas, poderá haver um aumento da disponibilidade interna de leite, pressionando os preços. Nesse cenário, o controle das importações terá forte peso.