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Calmaria nos preços, pelo menos por hora

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PANORAMA DE MERCADO

EM 05/07/2006

5 MIN DE LEITURA

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As previsões de estabilidade no mercado se concretizaram para o leite produzido em maio e pago em junho. De acordo com o Cepea/USP, a média nacional subiu apenas 0,75%, atingindo R$ 0,4975 por litro. O Conseleite-Paraná, por sua vez, prevê, para junho, modesto aumento de 1,35% nos preços, sugerindo que a estabilidade deve continuar.

É interessante lembrar que essa estabilidade, de certa forma, reverteu uma tendência de queda iniciada na segunda quinzena de maio, acusada pelo leite spot. Normalmente, quando há variação nos preços do leite spot, no mês seguinte há reflexo nos preços do leite ao produtor. O fato desse reflexo não ter ocorrido - pelo contrário, houve pequeno aumento nas cotações ao produtor -- indica mudança no quadro de mercado. Qual a origem dessas mudanças?

Embora não tenhamos os números definitivos em função do atraso dos dados do IBGE, pode-se citar como razão importante a menor disponibilidade de leite em vários estados à medida que a entressafra avança. O Cepea/USP, através do Índice de captação, indica 4,88% de queda na produção do país em maio, sobre abril. Em 2005, a queda havia sido mais branda, de 3,05%. Mas o dado mais relevante nesse sentido é o de junho, para os quais ainda não temos os dados. Em 2005, segundo o índice, o aumento de maio para junho foi de cerca de 8%, o maior entre meses do ano passado. Vale lembrar que, nessa época de 2005, os preços estavam elevados (15,6% maiores, em valor nominal, de maio de 2005 para maio de 2006) e o ânimo idem, resultado em grande aumento da disponibilidade de leite, com resultados que já conhecemos.

Nada indica que em 2006 teremos comportamento semelhante do ponto de vista de aumento da produção nessa época. Fala-se em 3-4% acima de 2005; o IBGE informou 5% no primeiro trimestre, mas os aumentos devem ter caído a partir de abril. O Cepea indica, até maio, 3,64% de aumento sobre 2005.

Normalmente, uma já esperada redução no Centro e no Sudeste (que no ano passado não teve) é compensada por um aumento na captação de leite nos estados do Sul, sendo resultado final um certo equilíbrio na oferta, que só não é total porque há ainda alguma variação na produção entre safra e entresafra. Com efeito, nesse mês de junho, um grande laticínio atuante no RS reportou aumento de 8% em relação a maio, ainda baixo ao se considerar que, nessa época, a produção sulista se avoluma com as chuvas e pastagens de inverno. As chuvas, por sinal, somente agora estão vindo com a freqüência esperada, o que resultou, até então, em oferta menor do que o normal.

Pode-se dizer que outro fator que contribuiu para essa reversão de tendência é o resultado até certo pronto surpreendente da balança comercial de lácteos nesse ano. Contra os primeiros prognósticos, o superávit até maio é de US$ 8 milhões, refletindo a diferença entre 36.444 toneladas exportadas e 30.246 toneladas importadas no período. Sem dúvida, esse superávit da balança comercial de lácteos ajuda a diminuir a pressão de oferta no mercado interno, sendo esse um dos motivos para a decisão de alguns laticínios de exportar mesmo em condições desfavoráveis. A alternativa - colocar o produto aqui - poderia resultar em perdas maiores, ao afetar todo o mercado.

A disponibilidade de leite per capita resume esse cenário. Estamos hoje com um pouco menos de leite per capita do que no passado (sim, a produção cresceu, mas não podemos esquecer que a população cresce cerca de 1,5% ao ano). Aliás, esses dados são interessantes. Em 2004, a disponibilidade per capita de leite inspecionado era de 6,62 kg/pessoa/mês; em 2005, 7,30 kg, ou 10,3% a mais; hoje, com dados até maio apenas, 7,23 kg.

Não temos, é verdade, os dados de estoque, que poderiam esclarecer melhor o quadro interno, mas não há a percepção de estoques acima do normal para os principais produtos - pelo contrário, as ofertas de leite em pó abaixo de R$ 5 por kg, que andaram assustando há uns 30-40 dias, parecem ter sumido do mercado.
 


Portanto, diante desse cenário, o momento é de calmaria. O que pode, porém, mudar essa situação?

No âmbito do comércio externo, tudo indica que, a continuar esse câmbio pífio (nossa "torcida" após o ensaio de elevação em maio foi em vão), as exportações finalmente cairão, com reflexos a partir de julho. Já em relação às importações, junho está com valores médios diários 70,2% maiores (em valor) do que maio, e 13,3% maiores do que o mesmo mês do ano passado. E vale lembrar que, em junho de 2005, importamos mais de US$ 14 milhões, o segundo maior valor do ano, só perdendo para maio, com US$ 16,3 milhões. Segundo André Mesquita, da Serlac, a contiuar esse cenário, é bastante provável que venhamos a terminar o ano com déficit na balança comercial, uma má notícia após dois anos de superávit.

Há, por outro lado, as tarifas de exportação de 15% impostas pelo governo argentino, impostas com o objetivo de controlar a inflação interna e que certamente não favorecem a exportação. Essas tarifas serão revistas nesse início de julho e, embora a expectativa é que sejam mantidas, sempre há um risco. Caso caiam significativamente, acredito que as importações aumentarão bastante.

O outro aspecto que pode alterar - para não voltar a falar no câmbio - é a oferta de leite. Hoje, a análise mais sensata é de redução gradativa da taxa de aumento de leite em comparação a 2005. Se no acumulado do ano estamos com quase 4% mais leite do que em 2005, minha aposta é que, nos 3 ou 4 meses seguintes, o aumento vai ser menor, a ponto de caminharmos para algo em torno de 3% no acumulado do ano até a entrada das águas do centro-oeste e sudeste.

Embora seja possível alguma oscilação de preços em agosto/setembro, a se considerar o cenário de estabilidade de preços para o próximo trimestre, nossas preocupações recairão sobre o último trimestre do ano, quando as chuvas no centro-oeste e sudeste voltam, elevando novamente a oferta de leite. Com as exportações desativadas, há o risco de termos, sim, quedas nos preços, sendo oportuno que o setor dessa vez se antecipe, estude e proponha medidas que venham a evitar quedas significativas de preços.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MÁRCIO F. TEIXEIRA

ITAPURANGA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/07/2006

Como sempre, o produtor tem que rezar muito ou desistir da atividade, já que para seu planejamento e organização, tão "cobrado" tecnicamente, não existe nenhum fator que dê o mínimo de segurança para seus investimentos em seu trabalho, que sempre pode ser planejado com muita antecedência.

Ainda, depois de tanto tempo, estamos na era das cavernas na atividade leiteira no Brasil! Até quando vamos continuar assim?

<b>Resposta do Autor</b>

Caro Márcio,

Obrigado pelos comentários. Realmente, o produtor não dispõe de ferramentas que garantam o preço ou diminuam o risco nesse item. Alguns laticínios informam os preços com alguma antecedência, mas ainda é pouco. Contratos de longo prazo inexistem, bem como ferramentas como mercados futuros. A regra do jogo, hoje, é essa. Acredito que a preocupação crescente com a qualidade do leite e com a garantia de suprimento vai abrir espaço para mudanças nessa relação comercial por parte de determinadas empresas, mas daí a ser algo generalizado, há certamente uma grande distância.

Um abraço,

Marcelo

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