Há algumas semanas, nesse mesmo espaço, comentou-se que haveria duas situações possíveis para o mercado do longa vida no curto prazo: tendência de alta no varejo ou baixa no atacado.
Passado o período, a confirmação da tendência para o mês de junho se definiu. O preço médio do longa vida no varejo aumentou 2,8%, cerca de R$0,05/litro. Mesmo no atacado, que segundo informações já havia um aumento dos estoques, os preços acabaram aumentando 8,45%, um acréscimo de R$0,11/litro do longa vida. Observe, na figura 1, a evolução dos preços nominais do longa vida nos últimos meses, em reais por litro.
A atual diferença de preços, com os valores do varejo em torno de 12,95% acima dos preços de atacado, está próxima da média do período, que é de 13,5%.
Os valores pagos aos produtores aumentaram, em média, 8,39%. Observe, na tabela 1, os aumentos nos preços, observados em junho, para todos os Estados pesquisados pela Scot Consultoria. A produção de todos os Estados relacionados na tabela 1 corresponde a mais de 95% da produção leiteira do país.
Tabela 1: Variação média em porcentagem e em R$/litro de leite nos preços pagos em junho pela produção de maio
Para calcular a variação do preço no Brasil, é feita a média ponderada entre o volume produzido por Estado e o seu respectivo comportamento de mercado.
O valor médio pago pelo litro de leite no país é, atualmente, R$0,52, o preço nominal mais alto já registrado.
No entanto, em valores reais, quando se considera a inflação no período, o preço atual é praticamente o mesmo pago pela produção de maio de 2003, porém ainda é 2,7% abaixo do que foi pago pelo leite produzido em junho e julho de 2003.
No "spot", além da competição entre as empresas, a volta das atividades da Parmalat tornaram o mercado bem competido.
De fevereiro a junho, os preços médios no mercado "spot" já aumentaram R$0,26/litro, chegando aos atuais patamares de R$0,65/litro de leite. Há negócios a R$0,74/litro no Estado de Minas Gerais. Na figura 2 está ilustrado o comportamento do mercado "spot" nos últimos meses.
Apenas no mês de junho, os preços do leite no "spot" aumentaram 7,13%. Esse comportamento possibilita o aumento da média de preços pagos aos produtores que entregam maior volume de leite.
Nos Estados onde o mercado "spot" está mais aquecido, a média dos preços pagos aos produtores com maiores bonificações ficou em R$0,58 a R$0,61/litro no mês de junho - produção de maio. Esses valores chegam a representar um acréscimo de 17% em relação aos preços brutos médios regionais.
Sendo assim, os preços atuais atingiram, em valores reais, os mesmos patamares que foram pagos em meados de 2003, quando os preços permitiam melhores resultados. No início de 2004, diversos agentes de mercado não acreditavam que os preços poderiam voltar a tais valores, mas acabaram chegando.
A diferença entre 2003 e 2004 é a forma com que o mercado atingiu os referidos patamares. Enquanto em 2003 os preços chegaram lentamente, num movimento de alta que durou 22 meses, em 2004 o movimento de alta foi brusco, com um acréscimo de 24% em apenas 5 meses.
Apesar de se tratar de uma recuperação de valor, e não uma alta nos preços, o mercado consumidor não enxerga dessa forma. Com isso, há ainda o risco de um revés no consumo, formação de estoques e queda nos preços.
Historicamente, no mercado do leite, altas muito acentuadas num determinado período precedem baixas nas mesmas proporções. Ao produtor não interessa picos de preços altos em apenas um ou dois meses, mas sim valores médios remuneradores. Atualmente, os preços reais de 2004 ainda são 6% inferiores aos de 2003.
No entanto, como são muitas variáveis que atuam no mercado, é difícil traçar um cenário apenas com base no que normalmente tenha ocorrido nos últimos anos. A recomendação é que os produtores e indústrias se mantenham atentos ao mercado e, especialmente, ao setor varejista.
Algumas medidas podem ser previstas e praticadas caso o setor seja capaz de se antecipar ao cenário ou a movimentos especulativos.