Varejo, impostos e renda do consumidor são as maiores dificuldades da indústria

De acordo com a última Enquete MilkPoint, realizada entre os dias 24 de junho e 16 de julho, a força crescente do varejo, com 28% das intenções, seguida de perto pelos impostos e pela baixa renda do consumidor estão entre as principais dificuldades da indústria de laticínios (veja tabela ao final do texto).

A fragilidade de marcas, a concorrência no setor e a concorrência com outros produtos foram menos consideradas.

"De fato, a força do varejo é um problema crescente, não só no Brasil, não só do leite, mas no mundo e em vários produtos", afirma Marcelo P. Carvalho, coordenador do site MilkPoint. "De 1998 a 2003, as vendas somadas dos 10 maiores laticínios do mundo subiram 16%, contra 40% das 10 maiores redes de varejo e 41% das 10 maiores empresas de foodservice, o que sugere a necessidade de concentração maior no setor de laticínios", completa.

Para Renato S. Machado, produtor de leite em Pompéu, MG, nos países que a proteção governamental foi extinta o mercado lácteo tornou-se predatório ao produtor. Para ele, os grandes conglomerados de supermercados forçam o preço dos produtos lácteos para baixo, trabalhando com margens exorbitantes para si toda vez que o setor produtivo inicia seu processo de recuperação de valores, o que leva o consumidor a fugir dos produtos lácteos, deprimindo o preço ao produtor. "Nesse cenário, os supermercados ganham negociando preços mínimos com os laticínios, que estão entupidos de leite", conclui.

Opinião semelhante tem José Roberto Borges, produtor de leite na região de Araxá, MG. Para ele, quem dita os preços do leite são os grandes supermercados, que utilizam o leite como carro chefe nas promoções de suas lojas, afetando os produtores. "Acho um absurdo um produtor de leite receber pelo litro de leite um valor que não dá para comprar um litro de água", afirma.

A alta votação para os impostos deve ter sido influenciada pelas discussões sobre PIS e Cofins, que ocorreram nesse início de julho e que aumentaram a carga tributária do setor.

Para Cosimo Rettl, empresário de Florianópolis, SC, a carga tributária sobre os produtos lácteos é muito elevada. As conseqüencias são a sonegação, que premia a informalidade e penaliza as empresas sérias, e a eficiência. "Os produtos lácteos são de primeira necessidade, como arroz e feijão, carne, sal, peixes e verduras; portanto, devem ser quase isentos de impostos para ampliar ao máximo o acesso a estes produtos por qualquer camada do povo", finaliza.

A baixa renda da população foi apontada por 25% dos participantes. Para Fernando Afonso Ferreira, produtor de leite em Itabuna, BA, não se pode apontar apenas uma causa para justificar as dificuldades da indústria leiteira no Brasil. Para ele, um pouco de todas as causas levantadas pela enquete são responsáveis pelos problemas. "Colocaria "Baixa Renda" como uma das principais causas, tendo em vista que aumentando o consumo interno nossos produtos seriam mais respeitados", conclui.

O marketing também foi comentado pelos nossos leitores. Para Izaias de Carvalho Filho, Fiscal Federal Agropecuário em Rio Branco, Acre, "é necessário termos um marketing mais direcionado ao consumo de leite. Hoje, vemos um marketing pesado em cima de bebidas alcoólicas e refrigerantes e não vemos nada direcionado ao leite. Paga-se mais caro em uma garrafa de cerveja que em 01 litro de leite, o que está errado. Talvez devamos fazer um trabalho de base, lá no início, com as crianças, estimulando o consumo de leite. Creio que esse trabalho deva ser feito em cima de leite e, de leite de boa qualidade, para estimular a obtenção de produtos cada vez melhores", sintetiza ele.


É importante salientar que a enquete MilkPoint não tem o objetivo de quantificar opiniões com rigor estatístico, apenas mostra a opinião dos leitores sobre determinado assunto.

Fonte: MilkPoint