A indústria de lácteos dos EUA em 2004 foi marcada por recordes: manteve os mesmos níveis recordes de produção de 2003; uso comercial recorde para gordura do leite e sólidos desnatados do leite; e os preços médios atingidos foram recordes. Em 2005, a indústria pode não ter tal desenvolvimento, mas provavelmente este será um ano memorável. A produção e o uso provavelmente atingirão recordes novamente com os preços declinando apenas moderadamente.
Produção de 2004 foi semelhante à de 2003
A produção de leite nos EUA em 2004 sofreu um pouco, mas acabou ficando no mesmo nível de 2003. A produção começou fraca no início do ano, mas se recuperou lentamente à medida que os fortes retornos deram suporte ao número de vacas, ao contrário do ano anterior, quando os baixos retornos levaram à redução no número de vacas à medida que o ano progredia. Entretanto, o crescimento na produção de leite por vaca foi instável e geralmente fraco.
Os baixos retornos durante o ano de 2002 e na primeira metade de 2003 estimularam a saída de algumas propriedades da atividade e desencorajaram a expansão de propriedades durante o ano de 2003, resultando em um firme declínio no número de vacas. Entretanto, os maiores retornos durante a segunda metade deste ano e as previsões cada vez melhores de preços durante o inverno levaram à recuperação no número de vacas no início de 2004. O número de vacas aumentou um pouco no final do verão atingindo um pico antes de cair levemente no outono. No final do ano, o número de vacas leiteiras era um pouco maior do que no ano anterior.
A reação do número de vacas ao aumento de cerca de um terço nos retornos sobre os custos concentrados foi bastante tranqüila. O número de propriedades leiteiras deixando a atividade aparentemente reduziu de uma forma relativamente típica. Entretanto, os produtores estavam muito cautelosos sobre a expansão de suas fazendas. Os preços muito altos do leite provavelmente foram interpretados como um grupo único e transitório de fatores e não como mudanças fundamentais nas previsões de longo prazo. Além disso, os aumentos nos preços do leite foram parcialmente compensados com menores pagamentos pelo programa de Compensação de Perda de Rendimento com Leite (Milk Income Loss Compensation - MILC) para os produtores menores.
Outras forças ajudaram a limitar a resposta aos preços recordes do leite. O número de reposição de novilhas leiteiras foi significantemente menor no começo de 2004, particularmente para novilhas que deveriam parir em 2004. A barreira às importações de animais do Canadá agravou a escassez de novilhas. Além disso, os dois exercícios de gerenciamento cooperativo da oferta de leite não somente removeram a capacidade no início, mas também, impediram que essas vacas fizessem parte do pool de reposição.
O crescimento na produção de leite por vaca, já relativamente fraco durante a maioria do ano de 2003, foi atingido por uma severa redução na disponibilidade de somatotropina bovina (BST) em 2004. Para o período de março a novembro, os produtores puderam comprar não mais da metade de suas compras normais, com menos restrições no começo e no final do ano. Além disso, nenhum novo comprador foi aceito. A produção de leite por vaca reduziu significantemente devido à falta do hormônio, particularmente no começo do ano.
Entretanto, a redução na produção de leite por vaca teve raízes mais profundas do que somente a falta de BST. A maioria das mais importantes áreas de produção de leite teve problemas com a qualidade da forragem durante parte de 2004. Além disso, o aumento na produção média de leite por vaca devido a mudanças estruturais foi reduzido devido ao número de novas fazendas e às expansões de propriedades, além do fato de o número de fazendas deixando a atividade ter sido relativamente pequeno.
A produção de leite em 2004 totalizou virtualmente o mesmo recorde de 2003, à medida que o declínio no número de vacas de menos de 1% foi compensado por um aumento de menos de 1% na produção de leite por vaca. A produção foi particularmente fraca durante o primeiro trimestre, mas então, sofreu pequenos aumentos durante o verão e o outono.
Produção de leite deve expandir
O rebanho de novilhas leiteiras de reposição era 3% maior do que no ano anterior em primeiro de janeiro de 2005, com o mesmo aumento nas novilhas que deverão parir em 2005 e das mais jovens. Esse aumento deverá acalmar significantemente a escassez de novilhas neste ano e já resultou em uma pequena moderação nos preços de novilhas. Os preços das novilhas em 2005 deverão permanecer relativamente altos. Sem as importações do Canadá, mesmo os maiores números de novilhas poderão ser menores do que o desejado. A diferença entre os valores de reposição e de abate provavelmente permanecerá grande o suficiente para apagar qualquer influência significante nos preços das vacas descartadas no número de vacas leiteiras.
Os retornos em 2005 deverão ser consideravelmente menores do que os níveis muito altos de 2004, mas ainda relativamente fortes. A saída da atividade de propriedades leiteiras provavelmente acelerará um pouco à medida que o ano progride, particularmente se o MILC espirar como programado no final de setembro. Entretanto, mesmo operações mais fracas provavelmente irão estar relativamente bem posicionadas para resistir à saída após dois anos de fortes retornos. As propriedades mais fortes provavelmente ficarão cautelosas quanto à expansão até que seja percebido o tamanho da recuperação na produção de leite. No entanto, os lucros acumulados tenderão a estimular alguma expansão conforme o ano de 2005 for se desenvolvendo. O número de vacas leiteiras deverá aumentar um pouco em 2005. As perdas de vacas associadas com a saída de propriedades da atividade e com o descarte daqueles animais cuja vida produtiva foi prolongada além do critério normal em 2004 deverão ser um pouco maiores do que os efeitos da capacidade adicionada.
A disponibilidade de BST aumentou em primeiro de março de 85% do normal para 115%, apesar de ainda não estarem sendo aceitos novos clientes. O retorno para a disponibilidade quase normal de BST e o incentivo econômico relativamente forte para seu uso deverão ter um impacto substancial na produção de leite por vaca. Além disso, os preços relativos do leite e dos alimentos concentrados fornecerão um incentivo considerável para aumentar o fornecimento desses alimentos. Um retorno presumido aos níveis normais de descarte também pode fornecer um incentivo, apesar dos efeitos positivos não serem garantidos.
A qualidade irregular de forragens deverá ter uma influência negativa na produção de leite por vaca, particularmente se o crescimento de forragens na primavera for lento. Esse enfraquecimento poderá, no entanto, ser limitado, porque grandes fornecedores de feno comum e os bons preços do leite provavelmente eliminarão a alimentação com forragem ruim. A grande precipitação neste inverno no sul da Califórnia, Nevada e Arizona ajudará a fornecer água para irrigação no verão. Os fornecimentos de água de superfície no noroeste dos EUA provavelmente serão muito pequenos, a menos que a precipitação no final da estação seja muito grande. Algumas áreas do noroeste já estão enfrentando aqüíferos seriamente vazios após vários anos de seca.
Problemas com a lama reduziram substancialmente a produção de leite por vaca no sul da Califórnia durante o início de 2005. Apesar da relativa importância desta área ser consideravelmente menor do que nos anos anteriores, os danos provavelmente serão perceptíveis nas médias da Califórnia e dos EUA. Também haverá algum impacto no Arizona. A extensão dos efeitos prolongados dependerá do quanto aumentará a taxa de abate por causa da lama. A produção de leite por vaca deverá crescer menos de 3% em 2005 em uma base diária, uma recuperação significante com relação à lenta expansão dos últimos dois anos. A maior produção de leite por vaca impulsionará a produção de leite para cima cerca de 2%, o primeiro crescimento real desde 2002.
Estoques comerciais confortáveis
O excesso de estoques de lácteos foi dissipado durante o ano de 2004. Os estoques de manteiga e queijos em uma menor extensão têm sido pressionados para altos níveis devido à fraca demanda em 2002 e na maioria de 2003. Entretanto, os estreitos mercados do ano passado reduziram esses estoques para níveis moderados. Os estoques deverão estar ainda menores até o final do ano.
Os estoques em primeiro de fevereiro estavam 453,592 milhões de quilos menor, em leite equivalente, com base na gordura do leite, com relação ao ano anterior e 1,361 milhão de quilos menor do que dois anos antes. Com base nos sólidos desnatados do leite, os estoques comerciais estavam quase 453,5 milhões menores do que os níveis moderados dos dois anos anteriores.
Os grandes estoques de leite em pó desnatado do governo estão essencialmente sumindo. Os estoques em primeiro de março estavam cerca de um quarto daqueles do meio de 2003 e quase todos eles estavam em processo para serem usados em usos específicos de doação. O uso agressivo de leite em pó desnatado nas doações domésticas e estrangeiras se uniu à rápida redução do atual excedente para diminuir os estoques do governo.
O excedente de lácteos em 2004 essencialmente não existiu, à medida que o crescimento na produção de leite foi interrompido e a demanda esteve forte. A remoção da gordura do leite foi realmente negativa, à medida que pequenas vendas de manteiga para uso irrestrito ultrapassaram as modestas remoções de leite em pó desnatado. Com base nos sólidos desnatados do leite, as remoções líquidas foram equivalentes a pouco mais de 453,592 milhões de quilos de leite, menos de 1% das vendas e muito menos do que os 3,629 a 4,536 bilhões de quilos de 2003, 2002 ou 2000.
As remoções de gordura do leite deverão ser novamente insignificantes em 2005. A demanda deverá ser capaz de absorver a produção adicional de leite sem pressão. As remoções de sólidos desnatados do leite dependerão da força da demanda de exportação.
Grande demanda por queijo e manteiga
O uso comercial de produtos lácteos aumentou para recordes em 2004 apesar dos aumentos na maioria dos preços. Em uma base de gordura do leite, o uso aumentou mais de 453,592 milhões de quilos em leite equivalente embora os preços médios da manteiga estivessem acima de US$ 3,52 por quilo todos os meses, exceto janeiro. As exportações comerciais de leite em pó desnatado e os aumentos de preços muito mais moderados dos sólidos desnatados levaram ao aumento nas vendas de sólidos desnatados de mais de 3,175 bilhões de quilos em leite equivalente.
A demanda por lácteos em 2004 foi nitidamente extraordinária. O crescimento na economia e o rendimento dos consumidores foi forte, e a taxa de desemprego caiu. Além disso, os gastos dos consumidores retornaram a padrões mais normais após um período incomum em 2002-03. Essa mudança beneficiou particularmente os restaurantes, aumentando a demanda por manteiga e queijos. Entretanto, a resposta dos consumidores aos preços poderá ser mais pronunciada se os aumentos absolutos de preços na primavera não forem revertidos rapidamente.
O uso comercial de queijos aumentou quase 3% com relação a 2003, mesmo com os preços atacadistas dos queijos estando mais de 25% maiores. Essa foi a maior quantidade de queijo vendido desde 2000 e pode ser o maior aumento na demanda aparente de queijos já registrada. Em alguns locais, a demanda por manteiga foi ainda mais impressionante. O uso comercial aumentou apenas 1% - mas os preços atacadistas ficaram em média mais de 60% maiores do que no ano anterior.
O desaparecimento comercial do leite em pó desnatado aumentou mais de 40% em 2004, registrando fortes ganhos durante o ano. As exportações comerciais indubitavelmente foram um fator chave no tamanho do aumento das vendas. Sem o aumento nas exportações, as vendas irrestritas razoáveis do leite em pó do governo durante a primeira metade (e o aumento resultante no uso aparente) provavelmente deverá deslocar o produto fresco durante a segunda metade.
Nem todas as vendas aumentaram em 2004. As vendas de leite fluido caíram quase 1%, com declínios particularmente grandes durante os picos da primavera. As vendas de produtos light ficaram praticamente sem alteração, com as vendas de sorvete com baixo teor de gordura e queijo cottage aumentando o suficiente para equilibrar os declínios nas versões com gordura integral.
A demanda por lácteos deverá permanecer boa em 2005. A economia e os rendimentos deverão continuar crescendo a um ritmo relativamente forte. Além disso, os gastos com alimentos e restaurantes deverão aumentar com relação a 2002 e a maioria de 2003. O uso comercial de gordura do leite deverá aumentar cerca de 1% em 2005, enquanto o uso comercial de sólidos desnatados deverá aumentar 2%, em parte devido às exportações comerciais de produtos em pó.
Mercados internacionais firmes
Os preços nos mercados internacionais de lácteos têm estado bastante estáveis até agora em 2005, sem nem mesmo os declínios sazonais normais. A oferta de exportação da União Européia (UE) permanece estreita, a produção de leite na última estação na Oceania se recuperou pouco dos declínios anteriores e a oferta de exportação dos EUA de produtos em pó tem se reduzido consideravelmente. Por enquanto, a demanda permanece forte e o dólar dos EUA relativamente baixo.
Os preços deverão permanecer fortes durante pelo menos a maioria do ano de 2005. As precisões de demanda são boas, com um fortalecimento em uma série de regiões. As ofertas de exportação não deverão crescer muito até pelo menos a nova estação da Oceania.
As exportações comerciais de leite em pó desnatado dos EUA deverão permanecer fortes em 2005. As ofertas de exportação provavelmente serão consideráveis, mesmo sem a disponibilidade dos estoques do governo. Entretanto, essas ofertas deverão ser facilmente absorvidas pelos importadores, particularmente durante a primeira metade. Uma leve redução poderá ocorrer na segunda metade do ano, mas as exportações deverão permanecer altas. As exportações de queijos deverão crescer em 2005, apesar das projeções de que os preços domésticos poderão limitar a atratividade das ofertas dos EUA.
Preços deverão baixar
Os preços no atacado de manteiga e queijo apresentaram um aumento pós-feriado no começo de 2005 justamente quando houve uma leve redução na expansão da produção de leite. Desde então, os preços têm aumentado. Entretanto, a expansão da produção, tanto sazonalmente como com relação ao ano anterior, deverá gerar uma tendência de queda nos preços durante a primavera.
A demanda não deverá ser capaz de acomodar a projetada produção de leite sem um ajuste nos preços médios do leite para o ano. Entretanto, um decréscimo de US$ 1 a US$ 4 nos US$ 35 por 100 quilos ainda deixa preços relativamente atrativos para o leite. No começo de 2005, os preços do leite ficaram acima dos níveis do ano anterior, mas os preços desta primavera serão bem menores do que no ano anterior. Os preços deverão ficar abaixo dos níveis do ano anterior na segunda metade do ano.
As principais incertezas nas previsões de preços incluem a recuperação na produção de leite por vaca, uma aceleração no número de fazendas que estão se expandindo, o fortalecimento na demanda por manteiga e queijos e os preços internacionais do leite em pó. Considerando a história dos últimos anos, mesmo o retorno relativamente completo do BST não é garantia de forte produção de leite por vaca. Por outro lado, os retornos acumulados de 2004 e da primeira metade de 2005 podem encorajar os produtores a procurar obter uma maior capacidade.
Se a demanda doméstica por queijos e manteiga e a demanda de exportação por leite em pó desnatado permanecerem altas durante 2005, o esforço na oferta de leite poderá manter os declínios nos preços menores do que o esperado. Por outro lado, uma significante redução nesses dois segmentos ou uma interrupção em qualquer um deles poderá acentuar a queda nos preços. Os preços dos lácteos no varejo aumentaram mais de 7% em 2004. Em 2005, os preços no varejo deverão aumentar de 1% a 2% à medida que uma moderada expansão deverá ultrapassar o declínio nos preços ao produtor.
Previsões para 2005 - EUA

Fonte: Serviço de Pesquisas Econômicas (Economic Research Service - ERS), Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), adaptado por Equipe MilkPoint