Na maioria dos programas de pagamento por qualidade, são avaliados parâmetros como os teores de gordura e proteína, a contagem de células somáticas (CCS) e a contagem bacteriana total (CBT). A implementação destes programas causou grande impacto entre os produtores, uma vez que o diferencial de preço pode variar de R$ 0,08 a R$ 0,12. Este diferencial representa uma importante área de oportunidade para as fazendas aumentarem o seu ganho.
A avaliação da qualidade do leite ocorre pelo processo de amostragem, em que algumas amostras são coletadas e os resultados obtidos são utilizados para a classificação e pagamento de todo o leite produzido ao longo do mês.
O procedimento considerado ideal seria analisar cada remessa de leite entregue a indústria como é feito por algumas indústrias na Argentina (SanCor e Mastelone). Levantamentos mostram que o número adotado em geral é 3 a 6 amostras ao mês. No Brasil, este número varia desde uma única amostra até seis amostras.
Inevitavelmente não se pode deixar de questionar se este número de amostras é suficiente para se classificar o leite numa determinada classe de pagamento. Eventualmente o produtor está se enquadrando numa determinada classe simplesmente ao acaso.
A Clínica do Leite realizou estudo pioneiro, utilizando resultados de análise de mais de 500 fazendas com o objetivo de definir qual seria o numero ideal de amostras.
Levantamento de dados
Foram utilizados dados de 502 fazendas que tiveram seu leite analisado para gordura, proteína, CCS e CBT.
Para cada fazenda foi calculada a variação média dos resultados obtidos durante o mês. Com base nesta variação (conhecida como coeficiente de variação amostral - CV) foi possível calcular, através de equações matemáticas, qual o número mínimo de amostras que deveria ser coletado levando-se em conta a amplitude da classe de pagamento.
Resultados do estudo
No estudo foram avaliadas 502 propriedades. Foram calculados os CV para os resultados de gordura, proteína, CCS e CBT, como pode ser visto na Tabela 1.
Tabela 1. Coeficiente de variacao amostral (CV)
As variáveis CCS e CBT foram as que apresentaram o maior CV, diferentemente da proteína que se mostrou muito mais estável.
O número mínimo de amostras foi calculado em função da amplitude das classes e do nível de variação (CV), como pode ser observado nas tabelas seguintes. Foi considerado no cálculo, coleta em dias alternados (número máximo de 15 coletas no mês).
Tabela 2. Número mínimo de amostras mensais para gordura em função da amplitude da classe.
Tabela 3. Número mínimo de amostras mensais para proteína em função da amplitude da classe.
Tabela 4. Número mínimo de amostras mensais para CCS em função da amplitude da classe e valor médio de 200 mil cels./mL.
Tabela 5. Número mínimo de amostras mensais para CCS em função da amplitude da classe e valor médio de 600 mil cels./mL.
Tabela 6. Número mínimo de amostras mensais para CBT em função da amplitude da classe e valor médio de 50 mil ufc/mL.
Tabela 7. Número mínimo de amostras mensais para CBT em função da amplitude da classe e valor médio de 500 mil ufc/mL.
Os dados mostraram que o número mínimo de amostras aumenta com o aumento do CV. Além disso, quanto menor a amplitude da classe, maior o numero de amostras necessário.
Fica evidente, a partir dos dados deste trabalho, que a redução do CV seria uma estratégia para reduzir o numero de amostras. Por sua vez, o CV pode ser afetado por falhas de coleta. Para uma das indústrias avaliadas, o CV médio de todos os seus produtores para o teor de gordura foi de 1,8%, bem abaixo da media geral do estudo (5%). No caso desta indústria a coleta das amostras é monitorada intensamente.
Além disso, fatores relacionados ao rebanho podem afetar o CV, como por exemplo:
- número de vacas em lactação: quanto maior o número de vacas, menor será o CV
- manejo nutricional: quanto mais estável for a nutrição dos animais, menor será o CV
- manejo de ordenha: quanto mais estável for o manejo, menor será o CV
Outra maneira de reduzir o CV seria descartar os valores extremos do calculo. Algumas empresas monitoradas pela Clínica do Leite já adotaram esta estratégia. Com isso possíveis erros de coleta são eliminados do calculo.
No estudo também foi simulada a classificação destes 500 produtores considerando a coleta de uma ou quatro amostras no mês, num programa de pagamento padrão. Cerca de 80% dos produtores mudaram de classe, ao se aumentar o número de amostras.
A partir deste trabalho foi desenvolvida planilha que permite calcular o número mínimo de amostras para cada indústria ou até mesmo para cada fazenda. A planilha está disponível aos interessados, que deverão solicitá-la enviando email para cleite@esalq.usp.br
Conclusões
O número mínimo de amostras pode ser calculado para cada indústria e até mesmo para cada produtor. Para isto deve-se ter em mãos o coeficiente de variação (CV) e a amplitude da classe de pagamento.
Coletando-se o numero de amostras correto teremos certeza da correta classificação e conseqüentemente, remuneração.
Bibliografia
Cassoli et al. Least Number of Samples for Milk Quality Payment. Anais do III Panamerican Congress on Mastitis Control and Milk Quality, León, México, p. 248-255, 2006 a.
Cassoli et al. Amostragem de Leite para Pagamento por Qualidade. Anais do II Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite. CBQL, Goiânia, 2006.