Produção orgânica de leite nos EUA: surgem, com polêmica, as mega-fazendas
Publicado por: MilkPoint
Publicado em: - 4 minutos de leitura
Esse assunto levanta um debate muito mais amplo sobre a missão da indústria orgânica que se expandiu de pequenos e modestos produtores de linhaça para um negócio multibilionário que atrai muitos investidores com objetivos menos altruístas.
Alguns líderes do setor de produção de leite orgânico dos EUA defendem que o valor central da indústria é apoiar os produtores familiares. A propriedade leiteira orgânica é frequentemente vista como uma forma de os produtores de leite sobreviverem - e até terem sucesso - em uma época em que pequenos produtores familiares estão sendo forçados a sair da atividade pelas mega-propriedades leiteiras com milhares de vacas.
"Nós precisamos de uma alternativa para esta tendência de 100 anos de eliminação de produtores", disse o diretor executivo da Stonyfield Farm yogurt, Gary Hirshberg, notando que os produtores orgânicos recebem um preço melhor pelo seu leite do que os convencionais.
Retzloff, que é presidente e chefe executivo da Aurora Organic Dairy, e alguns outros produtores, afirmam que apesar do apoio à produção familiar ser importante, também é importante a conversão do máximo de terras possível em orgânicas - para preservar o meio-ambiente - e tornar o leite orgânico mais acessível para os consumidores norte-americanos. Um galão, com 3,785 litros, de leite orgânico custa cerca de US$ 5; um de leite convencional custa US$ 3,50.
O gerente da Horizon Organic e da companhia de bebida de soja orgânica Silk para a Dean Foods, Steve Demos, disse que, a menos que a indústria tente acomodar a demanda do consumidor, "teremos uma indústria elitista, vendendo produtos para nichos com preços três vezes maior do que as pessoas podem pagar".
Nos EUA, pela lei, somente produtos orgânicos que estão adequados aos critérios federais podem ser rotulados como "orgânicos" e o Comitê Nacional de Padrões de Orgânicos, apontado pelos secretários da Agricultura, determina esses padrões. As vacas leiteiras orgânicas, por exemplo, precisam comer grãos que não são geneticamente modificados ou tratados com pesticidas ou fertilizantes, e os rebanhos não podem receber hormônios de crescimento ou antibióticos.
Além disso, "o produtor precisa fornecer acesso a áreas ao ar livre, sombra, cobertura, áreas de exercício, ar fresco e luz solar adequada às espécies, seu estágio de produção, clima e meio-ambiente" de acordo com as regulamentações. "Esse requerimento inclui acesso a pastagens para animais ruminantes".
A disputa sobre o que constitui uma propriedade leiteira orgânica começou em uma decisão tomada por Retzloff há uma década, quando era executivo e co-fundador da Horizon Organic, e converteu uma mega-propriedade leiteira convencional em orgânica em Idaho, sendo que esta se tornou a primeira propriedade leiteira orgânica de grande escala.
O debate sobre as pastagens se intensificou nos últimos anos à medida que a indústria orgânica começou a atrair os interesses de grandes corporações e o investimento de capital. As vendas de alimentos orgânicos aumentaram por ano desde 1997 de 17% a 21%, enquanto as vendas totais de alimentos nos EUA neste período tiveram um crescimento de 2% a 4%, de acordo com a Associação Comercial de Orgânicos.
Em 2003, as vendas de alimentos orgânicos aumentaram em 20% para US$ 10,8 bilhões. As vendas de leite e creme orgânico em 2003 aumentaram 20% e deverão ter um aumento anual até 2008 de 17%, segundo a associação.
O resultado deste rápido crescimento tem gerado mais questões sobre o que significa ser legitimamente orgânico, particularmente no que se refere aos animais. Surgiram debates sobre o que significa "acesso às pastagens" para produção de frango orgânico, e alguns produtores de peixe do Alasca estão pedindo uma definição para peixe orgânico.
Siemon, por sua vez, disse que as regras são claras, mas que o USDA não está sendo rígido o suficiente para forçar sua implementação. Ele é diretor executivo e um dos fundadores da Organic Valley, que é uma cooperativa com 665 propriedades orgânicas.
"Claramente essas pessoas não estão fazendo pastagens como se deve. Não se pode ter animais em um pequeno pedaço e terra e chamar isso de pastagem", disse ele.
O Instituto Cornucópia, grupo de pensadores sobre política agrícola, registrou uma queixa junto ao USDA alegando que a Aurora Organic Dairy estava violando as regulamentações federais.
Diante desta polêmica, oficiais do USDA pediram ao Comitê Nacional de Padrões de Orgânicos que produzisse um "documento guia" aprimorando a condição da lei federal que requer que as vacas orgânicas tenham "acesso a pastagens".
Fonte: Chicago Tribune (por Andrew Martin), adaptado por Equipe MilkPoint
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