Previsões para o mercado de lácteos dos EUA

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Os preços do leite nos Estados Unidos têm aumentado a níveis sem precedentes na primavera e no verão do país. Os preços de todos os lácteos aumentaram de US$ 24,47 por 100 quilos em maio de 2003 para US$ 42,76 por 100 quilos em maio de 2004. Os preços vêm, desde então, se retraindo, chegando a US$ 35,71 por 100 quilos em julho. Isso mostra que os preços estão excelentes para os produtores que estão tentando se recuperar dos baixos preços do ano anterior.

A principal razão para o aumento nos preços do leite é a redução no fornecimento dos EUA. No primeiro trimestre deste ano, a produção de leite nos EUA foi de 19,368 bilhões de quilos, ou seja, 0,9% menor do que no ano anterior. No segundo trimestre, a produção foi de 19,822 bilhões de quilos, 0,6% menor. Enquanto a produção de leite nos EUA caiu a níveis mais baixos do que no ano anterior, os preços das commodities lácteas (manteiga, queijo, soro de leite em pó e leite em pó desnatado) aumentaram. Esses preços levaram ao aumento no preço do leite.

O mercado está tentando prever qual será o crescimento na produção de leite durante o terceiro e o quarto trimestre do ano. O número de vacas leiteiras nas fazendas está aumentando (Figura 1). Além disso, a produção média diária de leite também parece estar se recuperando (Figura 2). Dessa forma, deverá haver mais leite na segunda metade do ano. No entanto, a expectativa é que haja uma redução na produção de leite por vaca, o que poderá compensar o leve crescimento no número de animais.


Processamento de lácteos

Uma menor oferta de leite implica que haverá menos componentes lácteos disponíveis para os processadores domésticos. Para ser mais preciso, a quantidade de leite disponível para processamento é igual à dos componentes do leite domesticamente produzido (gordura, proteína, outros sólidos do leite), somado aos componentes disponíveis de algumas importações de lácteos. Esses componentes do leite são, então, usados para processamento de leite fluido, outros produtos lácteos frescos (por exemplo, sorvete, queijo cottage, iogurte) e, finalmente, produtos bastante processados como queijos, manteiga e produtos desidratados de leite.

Durante os seis primeiros meses deste ano, a quantidade de componentes lácteos disponíveis para processamento foi: proteína aumentou 0,6%, gordura caiu 1,4%, e outros sólidos do leite caíram 0,4%. Os processadores tiveram que competir entre si pelos produtos disponíveis.

A quantidade de leite usada para o processamento de fluidos durante os primeiros cinco meses deste ano caiu 1,4% com relação ao ano anterior. Além disso, a quantidade de produtos lácteos Classe II (sobremesas congeladas, queijo cottage, iogurte e outros cremes) processados e vendidos durante os primeiros seis meses desse ano aumentou somente 0,7%. Dada à redução no consumo de leite fluido, houve mais componentes lácteos disponíveis para processamento em queijos, manteiga e produtos lácteos desidratados.

A quantidade total de queijos produzidos durante os primeiros seis meses de 2004 aumentou 4,2% com relação ao ano anterior. Isso é muito bom considerando o fato de que o fornecimento de leite declinou durante este período. A produção de queijo americano aumentou 2,8%; a de queijo italiano aumentou 5,4%; e a de outros queijos aumentou 5%.

O restante dos componentes lácteos foi usado na produção de produtos Classe IV, como manteiga, leite desnatado desidratado, leite a granel e produtos lácteos desidratados. Nos primeiros seis meses do ano, a produção de manteiga caiu 11,7% com relação ao ano anterior. A manteiga representa o uso residual da gordura do leite nos EUA. A produção de leite desidratado desnatado durante este período caiu 12,8%. O leite desidratado desnatado representa o uso residual do leite desnatado nos EUA. Desta forma, esses dois produtos apresentaram um significante ajuste na produção devido à menor oferta doméstica de leite.

Consumo e preços no varejo

O consumo da maioria dos produtos lácteos está teoricamente inversamente relacionado às mudanças nos preços dos produtos. Em outras palavras, se o preço dos produtos lácteos no varejo aumenta, o consumo desses produtos normalmente diminui. Entretanto, no caso da indústria de lácteos, outros fatores podem intervir. Por exemplo, pode-se observar na Tabela 1 que o consumo de leite fluido declinou 1,4% durante a primeira metade de 2004. Parte desse declínio se deu devido a um significante aumento nos preços desse produto no varejo (Figura 3). Desta forma, nossa lei da demanda parece ser verdadeira nesse caso. Entretanto, pode-se observar que o consumo de queijo americano, outros queijos e manteiga aumentou durante a primeira metade de 2004, apesar dos significantes aumentos de preços no varejo. A maior surpresa foi a manteiga. Com um aumento de 18,5% dos preços no varejo (Figura 4) e um declínio de 11,7% na produção durante a primeira metade de 2004, a expectativa era de um declínio significante no consumo de manteiga. Apesar disso, dados preliminares sugerem que o consumo de manteiga está sendo mantido pelo aumento nas importações e pelos reduzidos estoques (Tabela 2).

Apesar destes dados iniciais, pode-se esperar que os altos preços dos produtos lácteos no varejo reduzam o consumo pelo menos no terceiro e quarto trimestre deste ano. Além disso, os dados de consumo presentes na Tabela 1 estão sujeitos à atualização, que será feita em breve.


Tabela 1. Porcentagem de mudança no consumo e nos preços no varejo/atacado de alguns produtos lácteos selecionados, de janeiro a junho de 2004 nos EUA


Tabela 2. Oferta e demanda de manteiga, por trimestre, milhões de quilos


Oferta e demanda de commodities

Os dados de oferta e demanda das principais commodities lácteas, bem como de proteína e gordura do leite, estão expostos nas Tabelas 2 a 6.A produção de manteiga foi bem menor do que no ano anterior durante os primeiros seis meses do ano (Tabela 2). A expectativa é de esta permanecer reduzida no terceiro e no quarto trimestre deste ano. Apesar de o consumo nos dois primeiros trimestres do ano ter sido surpreendentemente forte, os altos preços da manteiga no varejo poderão, eventualmente, prejudicar o consumo no final deste ano. Além disso, se os preços da manteiga em Chicago permanecerem acima de US$ 3,30 por quilo, poderá haver um aumento nas importações. Isso poderá resultar em um equilíbrio entre oferta e demanda que poderá levar à redução dos preços da manteiga até o final do ano com relação aos níveis atuais. A expectativa é que de fato os preços se mantenham acima de US$ 3,30 no atacado se as importações não aumentarem significantemente com relação aos níveis atuais e o consumo se mantiver estável.

O leite desnatado desidratado é uma commodity que tem apresentado importantes mudanças neste ano (Tabela 3). Apesar de um significante declínio na produção durante os dois primeiros trimestres deste ano e das taxas de crescimento do consumo de duplo dígito, os preços no atacado quase não mudaram. Isso ocorreu porque 1) a maioria dos aumentos das vendas foi gerada de grandes estoques governamentais; e b) o preço do leite desnatado é fortemente influenciado pelos preços nos mercados mundiais. A boa notícia é que as compras do governo deste produto estão reduzindo neste ano e mais produto está sendo usado no mercado real, ou seja, na produção de queijos.

Os preços do queijo Americano apresentaram grandes aumentos no segundo trimestre deste ano, aumentando em algumas semanas para mais de US$ 4,40 por quilo em Chicago (Tabela 4). A grande questão é: por quê? Quais foram os fundamentos do mercado que levaram ao aumento do preço do queijo no segundo trimestre em 70% com relação ao ano anterior? Os dados da Tabela 4 não sugerem nenhuma grande mudança nem na produção nem no desaparecimento comercial (commercial disappearance). De fato, os últimos dados indicam que o estoque comercial final do queijo Americano realmente aumentou no segundo trimestre deste ano com relação ao ano anterior. Isso leva a crer que o mercado reagiu de forma exagerada às notícias de que o mercado de leite doméstico se reduziria. A expectativa é que o consumo reduzido de leite fluido e outros produtos resultará em fornecimentos adequados de componentes lácteos disponíveis para o processamento de queijos.

As tabelas finais (Tabelas 5 e 6) são o resultado de uma análise da Penn State sobre a oferta e a demanda de componentes lácteos nos EUA. Elas basicamente sumarizam o mercado para esses componentes lácteos cruciais. A análise sugere que os mercados para gordura e proteína do leite são muito diferentes. Enquanto a produção doméstica de ambos se reduziu no primeiro e no segundo trimestres deste ano, as importações que continham gordura cresceram muito mais do que as importações que continham proteína. Além disso, a taxa de crescimento do consumo doméstico de proteína foi muito maior do que a de gordura do leite.

Os preços do leite e das commodities lácteas para o terceiro e quarto trimestres deste ano dependerão criticamente da produção de leite e dos níveis de proteína e gordura. Apesar de o consumo e os níveis de estoques serem importantes, análises detalhadas da indústria de lácteos dos EUA sugerem que as mudanças nas taxas de crescimento na oferta de leite nos EUA tem um impacto maior nos preços de queijos e de manteiga.

Os números de bovinos leiteiros provavelmente continuarão mostrando um crescimento estável nos próximos meses. Isso poderá mudar se as cooperativas de lácteos do país oferecerem outro programa Cooperativas Trabalhando Juntas (Cooperatives Working Together - CWT) que poderia retirar mais vacas leiteiras do mercado dos EUA. Além disso, o impacto da reduzida comercialização do hormônio somatotropina (BST) provavelmente terá um impacto maior na segunda metade do ano uma vez que os produtores terão exaurido qualquer estoque excedente do BST que mantiveram nos dois primeiros trimestres.

Poderá haver outro aumento nos preços Classe III à medida que as ofertas de queijo e manteiga diminuirão novamente devido à reduzida produção de leite e aos aumentos sazonais no consumo de produtos fluidos.

Tabela 3. Oferta e demanda de leite desnatado desidratado, por trimestre, milhões de quilos


Tabela 4. Oferta e demanda de queijo Americano, por trimestre, milhões de quilos


Tabela 5. Oferta e demanda de proteína do leite, por trimestre, milhões de quilos


Tabela 6. Oferta e demanda de gordura do leite, por trimestre, milhões de quilos


Fonte: Ken Bailey, professor da Penn State University.
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