Esta pesquisa foi feita baseada em enquete realizada anualmente pela entidade Australian Dairy Farmers, que avalia a percepção dos produtores australianos a respeito dos principais desafios da atividade. A intenção é fazê-la a cada ano e avaliar as mudanças ao longo dos anos.
Em 2012, o produtor de leite sofreu com a elevação nos preços dos grãos, provocada pela seca ocorrida nos Estados Unidos. A rentabilidade do produtor foi bastante reduzida a partir do segundo semestre (Leia matéria relacionada: Com os custos atuais, que devem perdurar, mercado precisa reagir) Tal cenário explica o aumento da preocupação dos produtores com os custos de produção (houve um crescimento de 23% nas respostas deste ano), que havia sido indicado como um desafio em 2012 por 36% dos leitores, e já era a principal preocupação do setor.
Um resultado surpreendente foi a preocupação(ou melhor, a falta dela) em relação ao preço do leite. Apenas 7% das indicações apontaram este fator como um desafio para a atividade, ocupando desta forma o quinto lugar. Tal fato pode ser explicado pela relativa estabilidade dos preços, que além de crescerem 22,5% em termos nominais, de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, variaram bem menos nesse ano. Ao considerarmos os preços reais, ou seja, descontado o efeito da inflação, vemos que no período de janeiro de 2011 a novembro de 2012, o aumento foi de 10% (o mês de dezembro não foi utilizado pois o IGP-DI, índice de preço utilizado em nosso cálculo, não havia sido divulgado até a publicação deste artigo). Os dados corroboram a percepção de mercado dos produtores, mostrando que o atual grande entrave do setor leiteiro não é o preço, e sim o custo de produção.
Gráfico 1 : Qual será o maior desafio para a produção leiteira em 2013?
A segunda posição também permaneceu inalterada – e foi um assunto muito debatido no MilkPoint este ano – a mão-de-obra. Embora tenha perdido participação em relação à pesquisa anterior (de 27% em 2012 para 10% em 2013), o uso eficiente da mão-de-obra continua sendo um tema de grande importância para a profissionalização do setor no Brasil. Em 2012, o MilkPoint realizou uma pesquisa que gerou duas análises, uma relativa ao custo da mão-de-obra e a outra abordando a produtividade da mão-de-obra. O problema da baixa produtividade/especialização na atividade leiteira continuaria, constituindo um obstáculo para a competitividade do leite brasileiro, inclusive dentro do mercado interno.
Mercado interno que, inclusive, tem absorvido quantidades crescentes de produtos lácteos importados (Leia a matéria: Invasão de leite em pó uruguaio assusta produtor brasileiro ). Por isto a terceira posição do item “Importações de produtos lácteos”, que em 2012 havia ficado na quarta posição. Esta aceleração no consumo de produtos importados também está ligada aos fatores anteriormente citados: custos de produção e mão-de-obra são dois aspectos do processo produtivo brasileiro que diminuem a nossa competitividade frente aos produtos externos.
O gráfico abaixo apresenta a comparação dos desafios apontados em 2012 e 2013.
Gráfico 2: Comparação: Desafios 2012 x 2013
Fonte: MilkPoint
Ao analisarmos as respostas por estratos de produção, podemos ver as diferentes visões dentro do setor. A tabela abaixo apresenta as respostas dos produtores de leite divididos por estratos produtivos.
Tabela 1 – Desafios do leite para 2013 – Respostas dos produtores por estrato produtivo.
Fonte: MilkPoint
Consideramos na análise apenas os quatro itens melhores colocados na pesquisa (Mão-de-obra, Custos de produção, Importações de produtos lácteos e Adequação da qualidade do leite). Podemos ver que, embora a maior preocupação dos produtores como um todo seja com os custos de produção, os mesmos divergem quanto ao segundo fator principal: Mão-de-obra ou Importações de produtos lácteos. O item “Adequação da qualidade do leite” aparece apenas no menor e no maior estrato produtivo.
Ao analisarmos as respostas de estudantes e profissionais do setor, como consultores, extensionistas, profissionais de laticínios e demais, notamos que tanto a parcela que indicou mão-de-obra quanto a que indicou custo de produção como os maiores desafios do setor em 2013 são muito semelhantes aos dados obtidos na pesquisa e também às próprias respostas dos produtores. No entanto, a divergência aparece ao compararmos as respostas sobre importações de produtos lácteos e adequação da qualidade do leite. Enquanto os produtores afirmam que as importações de lácteos serão um grande entrave ao setor, dando pouca importância à qualidade do leite, os profissionais e estudantes da área afirmam o contrário: a adequação da qualidade do leite (14,8%) é um fator de maior importância que as importações de produtos lácteos (5,7%).
Tabela 2 – Desafios do leite para 2013 – Respostas de profissionais e estudantes do setor.
Fonte: MilkPoint
Dentre os 200 participantes da enquete (112 produtores e 88 técnicos), os mineiros foram a maioria (33%), seguidos pelos goianos e gaúchos (12,5% cada) e paulistas (11%). Do total de respostas dos produtores, 31,3% produziam até 500L/dia. Confira os dados na tabela abaixo.
Tabela 3 – Distribuição dos produtores que responderam à pesquisa por estrato produtivo
Fonte: MilkPoint
Embora os custos de produção tenham sido o aspecto mais indicado na pesquisa, os resultados demonstram que as reais preocupações do produtor brasileiro são: a rentabilidade da atividade, que pode ser melhorada por modelos de gestão mais eficientes, mecanismos de proteção contra a volatilidade de preços de insumos (como os Mercados Futuros) e especialização e capacitação da mão-de-obra leiteira. A outra preocupação do produtor brasileiro é em relação à competitividade do leite nacional, inclusive no mercado interno. Devido à estrutura de custos “inchada”, por causa do aumento do preço dos insumos e do alto custo da mão-de-obra, o leite brasileiro tem se apresentado mais caro que o de países vizinhos.
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