Onno-Frank van Bekkum: as tendências envolvendo as maiores cooperativas do mundo

Publicado por: MilkPoint

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Onno-Frank van Bekkum graduou-se em Agricultural Economics na Wageningen University, na Holanda, em 1993. Trabalhou como analista internacional em políticas agrícolas no Departamento de Pesquisa Econômica do Rabobank. Atualmente, é pesquisador sênior da Universidade Nyenrode, unidade da Netherlands Business School, em Breukelen, na Holanda. Ele atua junto ao Instituto Holandês para Empreendedorismo Cooperativo, que estuda as tendências mundiais envolvendo cooperativas de diversos segmentos, principalmente do agronegócio. Atualmente, ele coordena um trabalho que estuda as estratégias, as formas de capitação e os resultados financeiros das 20 maiores cooperativas de leite da Europa. Foi o editor e co-autor dos livros "Agricultural Cooperatives in the European Union - Trends and Issues on the Eve of the 21st Century", e "Agricultural Cooperatives in Central Europe - Trends and Issues in
Preparation for Accession".

Ele deu entrevista exclusiva para o MilkPoint, falando sobre as tendências, as vantagens, desvantagens e desafios das cooperativas de laticínios.


MilkPoint: Qual é o objetivo de estudar as 20 maiores cooperativas de lácteos da Europa?

Onno-Frank van Bekkum:
Eu ouço falar de muitas cooperativas, especialmente no setor lácteo, que estão buscando capital externo, tanto via emissão de títulos permanentes, como pela busca de acionistas externos através de subsidiárias, pela busca de atividades de maior valor agregado, às vezes em empresas distintas da cooperativa original e até mesmo pela abertura de capital em bolsas de valores. Aparentemente, o princípio fundamental do cooperativismo está sofrendo. Porque ocorrem estas mudanças? Será porque as cooperativas não geram lucro suficiente no mercado? Ou o lucro gerado pelas cooperativas não esteja sendo suficiente para atrair os investimentos por parte dos seus membros? Com este estudo, estamos tentando obter uma perspectiva mais embasada nestes itens fundamentais.

MKP: De acordo com as informações que seu grupo está analisando, as cooperativas européias competem de forma vantajosa com outras empresas de laticínios?

OFVB:
Várias, sim, mas muitas, não. As cooperativas francesas têm grande dificuldade e as grandes cooperativas alemãs estão passando por um período difícil. Uma das cooperativas irlandesas está se reestruturando radicalmente. Mas cerca de metade das 20 maiores possuem sócios externos na empresa principal ou em subsidiárias importantes. É, pelo menos, um sinal. Há também cooperativas muito fortes em seus mercados domésticos. Nos países escandinavos, na Holanda, em Portugal, na Suíça e na Áustria, uma ou duas cooperativas dominam o mercado. Mas dar o passo seguinte, de internacionalização, é muito difícil. Isso exige ter marcas fortes e nesse momento, batem de frente com empresas familiares ou listadas em bolsa, que são muito fortes. Mas se analisarmos a Arla Foods (cooperativa sueco-dinamarquesa) e a Campina (Holanda), vemos que são empresas líderes em seus mercados, porém com presença forte na Europa e mesmo em outros continentes.

MKP: Que vantagens as cooperativas têm em relação às demais empresas?

OFVB:
Muitas cooperativas têm uma longa história e são profundamente inseridas na infra-estrutura social. Freqüentemente, têm uma cultura interna muito forte e um senso histórico de solidariedade. Eu acredito que as cooperativas se beneficiam disso para manter suas organizações coesas. Mas, em termos mais comerciais, é claro que muitas cooperativas se tornaram fortes porque, para cooperativas, é relativamente simples participar de fusões. Esse é um fator importante por trás da emergência de cooperativas de porte nacional, que dominam determinados mercados.

"Muitas cooperativas se tornaram fortes porque, para cooperativas, é relativamente simples participar de fusões."


MKP: E quais são as desvantagens?

OFVB:
As cooperativas, por definição, se concentram em mercados que são relevantes para a produção de seus membros. Isso é positivo para os membros, mas em termos comerciais faz sentido concentrar a atuação em mercados lucrativos, independentemente da origem da matéria-prima captada. Empresas que não são cooperativas se beneficiam destes mercados específicos e ganham bastante dinheiro. Mas, de forma crescente, estamos vemos cooperativas européias fazendo investimentos diretos no processamento de leite coletado a milhares de quilômetros de distância de seus países de origem, tendo como objetivo os mercados locais. Faz sentido se beneficiar de todo o know-how tecnológico, marcas, habilidades de marketing e comerciais, etc, em uma escala muito maior do que ficar restrito ao mercado local. Porém, claramente, para iniciar linhas de processamento, por exemplo na Rússia, é muito mais arriscado do que atuar nos mercados estáveis e maduros da Europa Ocidental. Convencer os membros a investir nestas atividades não é sempre tarefa fácil.

MKP: Em relação às empresas européias, como enfrentarão a provável redução nos subsídios?

OFVB:
Através do aumento de escala no mercado de commodities e pela busca de produtos de maior valor agregado. Após vários anos relativamente tranqüilos, é possível que tenhamos uma nova onda de fusões no setor. Na Bélgica, as duas maiores cooperativas estão se fundindo. O mesmo ocorre na Alemanha. Tem havido bastante especulação sobre alianças estratégicas internacionais entre cooperativas.

"Após vários anos relativamente tranqüilos, é possível que tenhamos uma nova onda de fusões no setor."


MKP: É possível e provável que as cooperativas européias de laticínios se expandam para países da América do Sul, especialmente o Brasil?

OFVB:
Até onde eu sei, apenas a Arla Foods (através da aliança com a SanCor, da Argentina; com faturamento total na América Latina de cerca de 100 milhões de euros), a Glanbia (que tem joint-venture com a Conaprole, do Uruguai, para o mercado mexicano), e a Friesland Coberco (cooperativa holandesa, que atua na Colômbia) têm atividades significativas na América Latina. E não tenho notado sinais de que a América Latina esteja se tornando mais importante para cooperativas européias.

Observação MilkPoint: a Arla Foods têm associação também com a Vigor, no Brasil.

MKP: Quais são os principais desafios que as empresas de laticínios, especialmente cooperativas, vivenciam no mercado atual?

OFVB:
Certamente o desenvolvimento de marcas nos mercados internacionais, para competir com empresas multinacionais, e a necessidade de maior poder de barganha perante o varejo, que está cada vez mais concentrado. Enquanto até agora as cooperativas tenham buscado desenvolver estas habilidades sozinhas, eu imagino que algumas das maiores cooperativas mundiais de laticínios podem se aproximar e criar uma nova era de desenvolvimento cooperativo.

Fusões transnacionais, como entre a Campina, na Holanda, Alemanha e Bélgica, com a Arla Foods, na Dinamarca/Suécia, parecem consumir muita energia para se realizarem; de forma que estruturas mais flexíveis devem ser consideradas.

As 20 maiores cooperativas da Europa (em vendas)


* Ano fiscal terminando em Setembro
** Ano fiscal terminando em Março
*** Apenas 50% da Yoplait estão incluídos; ano fiscal terminou em Junho
Fonte: www.nyenrode.nl/nice
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