Morrinhos: crescimento na base da pirâmide

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 4 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 0

Qualquer semelhança do título acima com o livro "A Riqueza na Base na Pirâmide", recém-lançado pelo consultor C.K. Prahalad, não é coincidência. Com uma estratégia baseada em produtos para o público de baixa renda, os Laticínios Morrinhos, de Goiás, cuja marca principal é a Leitbom, vêm crescendo significativos 25% ao ano desde 1998 e já são o 8º maior captador de leite do Brasil, com 252,7 milhões de litros em 2004 (ranking Leite Brasil/CNA/CBCL/Embrapa Gado de Leite) e faturamento previsto de R$ 330 milhões para 2005, representando aumento de 32% sobre 2004.

Segundo o sócio-fundador e presidente da empresa, Domingos Vilefort Orzil, que fundou os Laticínios Morrinhos há 41 anos, a estratégia é clara: trabalhar com um portifólio amplo, para evitar concentração em poucos ou em um único produto, trabalhar com produtos de qualidade e que permitam produção em escala, visando custos mais baixos, evitar os mercados de maior concorrência e diminuir a dependência das grandes redes de varejo:

"Nossa presença em mercados de grande concorrência, como o sudeste e o sul do país é relativamente pequena. Nossos principais mercados estão no centro-oeste, norte e nordeste, principalmente o pequeno varejo, com 2 a 10 "check-outs" (caixas registradoras)".
A estratégia de trabalhar com mercados de baixa renda tem gerado crescimento para empresas em diversos ramos, sendo o caso recente de maior repercussão o das Casas Bahia, comentado inclusive no livro de Prahalad. No setor de lácteos, a Nestlé, líder de mercado, anunciou recentemente a intenção de desenvolver produtos para as classes C, D e E (clique aqui e leia a notícia).

É justamente nesses mercados que a Morrinhos atua, comercializando creme de leite, leite UHT, achocolatados, manteiga, leite condensado, leite em pó integral e leite em pó desnatado.

"Trabalhamos no mix de produtos. Se um determinado produto apresenta uma condição pior, alteramos o mix para buscar uma combinação melhor de produtos e manter o crescimento."
A empresa não está pensando somente no mercado interno. Recentemente, ampliou sua fábrica de leite em pó e construiu uma unidade em Uruaçu, sul de Goiás, para produzir também para exportação, cujo plano de início foi adiado em função do câmbio. Com esses investimentos, a empresa passa a ter capacidade de captação de 800.000 litros/dia para fabricação de leite em pó e 100.000 litros/dia para leite condensado. A empresa tem captado 800.000 litros diários na safra e 600.000 litros diários na entressafra, contando com 930 funcionários.

Cenário futuro em Goiás

Os investimentos da Morrinhos em Goiás não são os únicos feitos recentemente no estado. Nestlé, Itambé e Italac, entre outras, estão também investindo em novas plantas ou em ampliações. Segundo Vilefort, a concorrência para aquisição de leite será maior e o resultado já tem sido um preço mais alto para o leite.

"Nesse cenário, o setor de queijos será mais afetado, pois não suporta preços mais elevados para a matéria-prima. Acredito que os queijeiros ou se transformação em entrepostos para venda de leite resfriado, ou terão de partir para a produção de queijos mais caros, visando nichos de mercado.Ou fecharão as portas."
Para ele, o longa vida ainda é competitivo, mas reclama dos preços predatórios. Segundo ele, está na hora de diminuir o número de marcas no mercado, visto que o produto precisa de escala para competir.

Mercado hoje

Para ele, o mercado hoje está complicado, fruto da conjuntura que reúne câmbio desfavorável e mercado interno patinando.

"Falta ao governo visão de longo prazo em relação à questão cambial. O fato da balança comercial ser positiva não deveria ser motivo para manter o câmbio nos patamares atuais, que inviabilizam várias iniciativas para exportação. O raciocínio que deveria ser feito é que, se estamos tendo superávit hoje nessa condição, poderíamos ter resultado muito melhor com câmbio mais favorável, gerando empregos e tributos. Com dólar a R$ 2,30 e preços de leite no mercado internacional a US$ 2200 a tonelada, não compensa exportar".
Vilefort alerta também para a questão do início da safra e teme que um aumento de até 30% no volume de leite em Goiás não encontre mecanismos para escoamento:

"O mercado está abastecido. Um aspecto que preocupa bastante é o governo não ter ainda divulgado os preços mínimos para obtenção de EGF para estocagem. Os bancos querem oferecer o dinheiro, mas não temos as informações sobre preços ainda".
Qualidade do leite e profissionalização

Para Vilefort, a melhoria da qualidade, através da Instrução Normativa 51, é um caminho necessário e a cadeia do leite em Goiás está respondendo bem a essa necessidade. Segundo ele, os grandes laticínios já estão quase totalmente granelizados e os produtores estão se profissionalizando, investindo em genética e tratando melhor os rebanhos, após um período de desânimo, fruto de outras atividades como a soja apresentarem rendimento superior.

"Vai haver alguma controvérsia para a implantação da IN 51, mas é algo que beneficiará o setor e que sinaliza o caminho futuro."
Marketing institucional é preciso

Apesar de estruturar a empresa para atuar no mercado mais popular, Vilefort entende que o marketing institucional de lácteos é importante para aumentar o mercado:

"Hoje, quando há aumento da massa salarial, não são os lácteos que aumentam, mas outros bens de consumo, como celulares, DVDs e outros produtos. O marketing institucional ajudaria a reverter esse quadro, mas é preciso que seja como nos Estados Unidos, uma lei compulsória que recolha uma taxa para marketing, caso contrário é difícil obter grandes volumes de recursos. Seria muito bom fazer marketing institucional de lácteos no Brasil."
Fonte: Equipe MilkPoint
QUER ACESSAR O CONTEÚDO? É GRATUITO!

Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.

Tenha acesso a conteúdos exclusivos gratuitamente!

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 0

Publicado por:

Foto MilkPoint

MilkPoint

O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Carlos Henrique Passos
CARLOS HENRIQUE PASSOS

OUTRO - TOCANTINS - PESQUISA/ENSINO

EM 26/09/2005

É sempre bom ouvir de um empresário do gabarito do Sr. Domingos Villefort, sobre o mercado de lácteos no Brasil e exterior, pois com larga experiência no assunto, abre nossos olhos para a safra que vem aí. Não sabemos ainda como o mercado vai se comportar diante de um cenário político atual muito desfavorável, onde tivemos baixas de preços em plena entressafra. Por isso há um temor muito grande de como ficarão os preços em plena safra, pois a que tudo indica muitas empresas terão que dispensar leite, causando enormes prejuízos a pecuária leiteira.
Qual a sua dúvida hoje?